Quando escrevo este texto, a notícia dramática mais recente sobre o massacre em curso em Gaza trazia imagens de pessoas numa fila de busca por comida e ajuda humanitária sendo atacadas pelo exército de Israel, que transformou a região em terra arrasada. O modo como o exército israelense vem atacando diretamente as crianças, hospitais, ajuda humanitária, mulheres e civis em Gaza é devastador, e demonstra que o atual governo de Israel não percebe os palestinos como humanos.
Mas quero lembrar que muitos judeus e judias se revoltam também com essas cenas, e afirmam #NotInOurName: não em nosso nome! Assim como o coletivo Judeus e Judias pela Democracia, esses grupos clamam pelo fim imediato desse massacre, e ressaltam a humanidade dos palestinos, como revela o texto de Ilana Katz em sua coluna no UOL, em 18 de fevereiro, que destaca que “a Unicef estima que outras 19 mil crianças palestinas são órfãs ou não têm qualquer adulto que possa lhes oferecer cuidado”.
No mundo todo, muita gente se mobiliza em marchas pelas ruas demandando o Cessar Fogo imediato, como no dia 2 de março, na Praça Oswaldo Cruz. Entre estes, a Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP publicou uma manifestação em prol da paz e do fim do massacre em curso na Faixa de Gaza, que abre com parágrafos muito elucidativos sobre o problema:
Independentemente das causas remotas (a ocupação dos territórios palestinos à revelia das resoluções 242 e 338 do CS/ONU) e causas recentes (o condenável ataque do grupo palestino Hamas a soldados e civis em Israel), é injustificável – sob qualquer ponto de vista do Direito e dos valores humanos – o massacre que Israel vem perpetrando aos palestinos desde o dia 8 de outubro de 2023.
Sob o pretexto de exterminar o Hamas como meio de autodefesa, em quatro meses de guerra, as Forças Armadas de Israel já assassinaram mais de 27.500 mil palestinos, a maior parte deles crianças e mulheres, deixando 68 mil feridos e mais de sete mil ainda desaparecidos sob os escombros, na data em que se escreve este texto.
Desde então, Israel tem bombardeado hospitais e aprisionado médicos e enfermeiros, impedindo deliberadamente o cuidado para com amputados e doentes; dos 36 hospitais antes existentes em Gaza, apenas quatro funcionam, muito parcialmente. O exército israelense também tem mirado jornalistas que divulgam essa tragédia, com o que 117 jornalistas já perderam a vida em missão na Cisjordânia e em Gaza. Cerca de 80% das residências da Faixa foram destruídas e mais de 2 milhões de palestinos estão hoje ao desabrigo, sem água, comida, ou medicamentos, ameaçados de morte por inanição.
Já são mais de 30 mil mortos, e mais informações estarrecedoras revelam a brutalidade do massacre perpetrado pelo governo de Netanyahu. O que mais aflige quem espera pela paz é a forma como as crianças estão sendo especialmente vitimadas. A coluna de 18 de fevereiro de Dorrit Harazim em O Globo menciona que “dados levantados pela Save the Children apontam para mais de dez crianças mutiladas por dia, com a perda de uma ou ambas as pernas. Isso há quatro meses. E talvez já chegue a 25 mil o número das que perderam ao menos um dos pais na guerra”. A situação das pessoas em Gaza é tal que uma nova sigla foi inventada, segundo essa mesma coluna: WCNSF para significar Criança Ferida sem Familiares Vivos (Wounded Child, no Surviving Family). Entre os mortos em Gaza, 40% são crianças – em guerras recentes anteriores, nunca passaram de 20%. E as que vivem, podem estar órfãs ou mutiladas.
A cada semana, a situação se torna mais e mais assustadora – quem não morre ou é mutilado por bomba ou tiro, está, neste momento, passando fome. Estamos assistindo a um massacre, ao vivo e a cores. Certamente alguns de nós vemos mais essas imagens do que outros, de acordo com os algoritmos de nossas redes sociais.
Diante dessas notícias e cenas de horror, muitos de nós, aflitos com a brutalidade das cenas de Gaza, só conseguimos gritar: Cessar fogo Já! #CeaseFireNow
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