Dez anos do Projeto Horta da Faculdade de Saúde Pública

Por Cláudia Maria Bógus, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP

 Publicado: 27/05/2024

No dia 24 de abril comemoramos o aniversário de dez anos do Projeto Horta da Faculdade de Saúde Pública!

A ideia da Horta da FSP começou a ser gestada a partir do desenvolvimento e das experiências decorrentes de um projeto de pesquisa que investigou as repercussões da implementação de hortas comunitárias em equipamentos públicos em um município da região metropolitana de São Paulo nos âmbitos social, ambiental e educacional e, também, seus desdobramentos nas condições de saúde e de alimentação e nutrição do entorno.

A iniciativa da Horta FSP foi impulsionada por um edital da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP lançado no ano de 2013 e, após aprovação da diretoria da faculdade e da SGA, a horta comunitária foi implantada em março de 2014 em um dos jardins laterais da FSP, próxima à creche e ao restaurante universitário.

O Projeto Horta FSP tem como objetivo ser um espaço de observação e de práticas em saúde, que integra ensino, pesquisa e extensão.

Categorizamos a horta como um laboratório didático vivo que permite abordar temas relacionados à produção e ao consumo de alimentos de forma sustentável, à preservação da natureza e do ambiente, com estímulo à interdisciplinaridade. Essa proposta de trabalho alinha-se à preocupação com a construção de sistemas alimentares saudáveis, justos e sustentáveis e à promoção da saúde no espaço urbano. Entende-se que o modo de vida e de trabalho em grandes centros urbanos, bem como o seu ambiente alimentar, permeiam a relação que as pessoas estabelecem com os alimentos e a própria alimentação. O distanciamento da natureza e da produção dos alimentos em uma cidade como São Paulo também tem reflexos sobre as escolhas alimentares e os modos de comer da população.

A Horta da FSP, assim como outras iniciativas do tipo, dentro e fora de instituições de ensino e em diferentes equipamentos públicos e privados, espalhados pela cidade, apresenta-se como um contraponto e um espaço de resistência ao estilo de vida “moderno” e urbano, onde a padronização do comer e a alienação sobre o processo de produção e o “despreparo” dos alimentos é cada vez maior.

A possibilidade de um espaço de vivência prática com a produção de gêneros alimentícios para e com a comunidade acadêmica cumpre o papel de demonstrar a possibilidade da construção de outros modos de vida e de produção, social e ambientalmente mais sustentáveis e promotores de saúde, além de disponibilizar elementos e informações que auxiliam na reflexão sobre o sistema alimentar em que estamos inseridos.

Com essa perspectiva, o projeto tem realizado atividades educativas relacionadas ao meio ambiente, à saúde e à alimentação adequada e saudável dentro do espaço da FSP, mas com alcance para além dos seus muros. As atividades que vêm sendo propostas, sejam as atividades articuladas com disciplinas obrigatórias ou optativas do curso de Nutrição ou as atividades especificamente elaboradas no âmbito do próprio projeto, podem ser qualificadas como teórico-práticas e com caráter coletivo e colaborativo. A partir do acompanhamento das atividades desenvolvidas ao longo dos anos observamos que elas contribuem para práticas saudáveis de alimentação, promovem a interação com o meio ambiente e estimulam a realização de trabalhos com caráter interdisciplinar.

A experiência também indica que a horta inserida no ambiente universitário pode ser potente para uma formação mais ampliada em saúde e uma alternativa aos espaços tidos como mais convencionais de aprendizado. A potencialidade de inovação da horta revela-se na medida em que permite, de forma mais natural e de modo flexível, a combinação e integração de objetivos educacionais cognitivos, afetivos e atitudinais, porque é um espaço de informação, de participação, de convivência e de práticas.

Como espaço de informação, o Projeto Horta da FSP garante a circulação e o acesso de informações ligadas à prática de agricultura urbana e outras correlatas; como espaço de participação, permite a abordagem e a discussão de novas ideias, inclusive para além da prática da agricultura urbana; como espaço de convivência, pressupõe encontros, a formação de grupos e o exercício da alteridade.

Além disso, constitui-se em uma atividade que atrai e permite a aproximação dos moradores e trabalhadores dos arredores do campus à Universidade, permitindo que usufruam das informações compartilhadas e de um espaço de convivência, o que é muito importante no contexto urbano em que estamos inseridos. Também os usuários dos serviços da FSP oferecidos à comunidade, tais como creche e centro de saúde, envolvem-se com as práticas e têm sido beneficiários das ações.

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