Juízes viverão experiência como trabalhadores subordinados

Vivência faz parte de projeto de pesquisa que será conduzido pelo psicólogo social Fernando Braga da Costa

 04/07/2017 - Publicado há 7 anos
Além de passar um dia em um emprego subalterno, juízes farão um diário da experiência – Foto: Andrevruas via Wikimedia Commons / CC BY 3.0

A Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região do Rio de Janeiro (EJ1) abriu inscrições para a atividade Vivendo o trabalho subalterno, oferecendo 11 vagas para que os magistrados exerçam atividades de trabalhadores subordinados por um dia e de forma anônima. Trata-se de um projeto de pesquisa que será conduzido pelo psicólogo social Fernando Braga da Costa, baseado na metodologia utilizada em sua trajetória acadêmica, iniciada no Instituto de Psicologia (IP) da USP.

Segundo o edital, o objetivo é “contribuir para que o magistrado possa utilizar argumentos coerentes e contextualizados em posição de autoridade e humildade na atuação profissional”. Como parte do exercício, os juízes selecionados receberão do pesquisador Braga da Costa treinamento para que se submetam às condições de trabalho idênticas às de jardineiros, copeiros, auxiliares de limpeza, cobradores de ônibus e operadores de caixa de supermercado. O projeto proíbe que a identidade do juiz seja revelada.

O embrião da ideia surgiu em 1994, durante o curso de graduação no Instituto de Psicologia (IP) da USP, com base em um trabalho de Psicologia Social proposto pelo professor José Moura Gonçalves Filho. Ele sugeria aos alunos o engajamento por um dia em uma profissão que não exigisse qualificação técnica ou acadêmica, com a finalidade de se de investigar a humilhação social.

Experimento

Como parte do exercício, o juiz terá que se submeter às mesmas ordens e condições de trabalho de seus colegas na função e usar uniformes e os equipamentos que serão fornecidos pelas empresas parceiras – Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil via Fotos Públicas

O experimento, entretanto, ganhou vigor e se estendeu por dez anos. Fernando Braga da Costa pôde, então, realizar sua pesquisa etnográfica como observador participante ao cumprir tarefas da profissão de gari nas ruas da USP, trabalhando por meio-período durante um ou dois dias por semana, sem receber salário.

Segundo conta, a principal função dessa pesquisa era “compreender e analisar a condição de trabalho deles (os garis), e a maneira como eles estão inseridos na cena pública. Ou seja, estudar a condição moral e psicológica à qual eles estão sujeitos dentro da sociedade”. Como resultado, Costa desenvolveu a dissertação de mestrado Garis: um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública (2002) que, por sua vez, gerou o livro Homens invisíveis: relato de uma humilhação social (2004). Na sequência, o psicólogo escreveu sua tese de doutorado Moisés e Nilce: retratos biográficos de dois garis. Um estudo de psicologia social a partir de observação participante e entrevistas (2008).

As descobertas provocadas pelos trabalhos promoveram a constatação de dois problemas psicossociais: a invisibilidade pública de profissionais que exercem funções de baixa remuneração e não são “vistos” pela sociedade, e a cegueira social, que humilha e subtrai a humanidade dos sujeitos que executam essas tarefas.

Anátale Garcia e Islaine Maciel / Assessoria de Comunicação do IP

Mais informações: no edital do projeto

 


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