Neste fim de semana, o grupo Teatro do Fim do Mundo encena O Caso Meinhof, no Teatro da USP (Tusp), na Cidade Universitária, em São Paulo. A peça é inspirada no texto Ulrike Maria Stuart, da ganhadora do Nobel de Literatura de 2004, Elfriede Jelinek. O enredo surge da história de Ulrike Meinhof, uma das fundadoras da RAF – ou grupo Baader-Meinhof –, organização terrorista alemã dos anos 1970 responsável por atentados e operações de guerrilha naquele país. Após morrerem na prisão, os quatro principais líderes do grupo tiveram seus cérebros retirados para estudos, já que patologistas relacionavam a atuação violenta da RAF a possíveis lesões cerebrais dos guerrilheiros. Em 2002, Bettina Röhl, filha de Ulrike, recuperou o órgão por meio de uma ação judicial contra o Estado alemão e o sepultou junto aos restos mortais da mãe.
É a partir do caso que o Teatro do Fim do Mundo idealiza o roubo do cérebro de Ulrike por parte de seus próprios filhos (Artur Kon e Mariana Otero), que o preservam em um frasco de vidro para tentar se comunicar com ele e descobrir detalhes sobre a morte da mãe. Além da narrativa inusitada, a peça ainda apresenta formato inovador: a investigação é contada por meio de um podcast, no qual diferentes convidados envolvidos na vida de Ulrike são entrevistados. Durante a peça, os espectadores podem ouvir as versões dos pais da protagonista – interpretados por Maria Tendlau e Clayton Mariano, que também dirigem o espetáculo – e de Gudrun Ensslin, cofundadora da RAF e companheira de Ulrike, interpretada por Marilene Grama.
“A história de Ulrike é um mistério como os que ouvimos em podcasts de investigação criminal hoje em dia”, conta Maria Tendlau sobre a escolha do formato de áudio. Ela aponta o podcast como uma forma de adaptar o roteiro à tradição dramatúrgica brasileira. “O texto original de Elfriede Jelinek é cheio de monólogos, o que não faz parte dos padrões de teatro no Brasil. Trouxemos o podcast justamente para incluir mais diálogos nas cenas”, complementa.
Embora o espetáculo tenha como cenário a antiga Alemanha Ocidental dos anos 1970, a diretora garante que as questões abordadas em palco – como progressismo, política neoliberal, falhas em movimentos revolucionários e violência autoritária – permanecem atuais. Maria Tendlau também destaca a atemporalidade das discussões feministas e dos conflitos vividos por mulheres trabalhados na peça. “Por mais que existam diversas guerrilheiras na história, o público não está acostumado com essa posição de liderança feminina. Mulheres que lutam pela revolução também são levadas a deixar sua casa, sua família e a vida que foi planejada para elas.”
A peça O Caso Meinhof, do grupo Teatro do Fim do Mundo, será apresentada nesta sexta-feira, dia 11, sábado, dia 12, às 20 horas, e no domingo, às 18 horas, no Teatro da USP (Tusp), localizado no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua da Praça do Relógio, 109, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Os ingressos podem ser retirados no local uma hora antes do início da peça. Mais informações estão disponíveis no site do Tusp.
*Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro