O trabalho da polícia de garantir a segurança pública parece estar em xeque. Pesquisa feita recentemente pelo PoderData, divisão de pesquisas do jornal Poder360, revela que 70% dos brasileiros desconfiam, em algum grau, do trabalho da polícia. A pesquisa, realizada entre os dias 27 e 29 de janeiro, ouviu 2500 pessoas com de 16 anos ou mais e possui margem de erro de 2 pontos percentuais. Segundo a pesquisa, 51% dos entrevistados afirmam “confiar pouco” e 20% afirmam “não confiar” nas forças policiais.
Para além do alto número de pessoas que afirmam desconfiar do trabalho das polícias, a pesquisa revelou que o percentual de pessoas que afirmam “confiar muito” caiu 4 pontos em relação à última pesquisa, realizada em 2023, indo de 26% para 22% dos entrevistados.
Para Daniel Pacheco, professor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, um dos maiores problemas que essa desconfiança causa é a falta de ajuda entre a população e as forças policiais. “Os estudos mais modernos de criminologia dizem que para você ter um controle efetivo da criminalidade é necessário que haja a união de esforços da polícia com o da população. Então quando você tem essa desconfiança da população em relação à polícia, a união de esforços é prejudicada”.
Desconfiança feminina
A pesquisa revelou também que os homens entre 16 e 24 anos são os que mais afirmam confiar no trabalho da polícia, com 36% dos entrevistados, e as mulheres de 24 a 48 anos são as que afirmam mais desconfiar do trabalho da polícia, com 73% das entrevistadas, ficando acima da média nacional.
Além da divisão entre os sexos, a pesquisa revelou que as populações mais pobres, com renda mensal de até dois salários mínimos, confiam mais na ação das forças policiais do que as pessoas que ganham mais de cinco salários mínimos, grupo no qual apenas 12% dos entrevistados afirmam confiar de fato no trabalho policial.
Razões para a desconfiança
Para Ludmila Mendonça Ribeiro, professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um dos potenciais motivos para essa desconfiança ser maior nas mulheres é a forma como as forças policiais recebem as denúncias. “Boa parte dos crimes é registrada em decorrência da confiança que a população tem na capacidade da polícia de resolver aquele caso, então se eu sou uma mulher que sofreu uma violência sexual e eu acho que, ou a polícia vai me vitimizar ou não vai me ajudar, dificilmente eu vou procurá-la novamente”.
Ela afirma que a falta de confiança na polícia é um problema porque quanto mais desconfiança há no trabalho dela, menos crimes são denunciados, gerando mais insegurança. “Quanto mais desconfiança houver da polícia, menos registros de crime nós teremos, principalmente daqueles que mais amedrontam a população, que são o roubo e o furto”, analisa a professora.
Para além das experiências individuais de cada um, Ludmila afirma que a cobertura da mídia tem um grande impacto na opinião pública. “A exposição da polícia na mídia como uma instituição que tem corrupção e violência e que, em vez de ajudar o cidadão, ela mesma comete crimes, acaba aumentando essa desconfiança da polícia”.
Essa desconfiança gera muitos problemas, pois boa parte das políticas públicas criadas no Brasil nascem das ocorrências registradas. “Quanto menos registros de crimes nós temos, mais difícil é pensar políticas de segurança pública, já que boa parte delas nascem baseadas nas ocorrências policiais”, conclui a especialista.
*Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior
