Nesta edição de sua coluna, Martin Grossmann aborda o conceito de flânerie, que é uma forma de explorar a urbes moderna e cuja origem teórica está na obra do poeta francês Baudelaire, autor do ensaio O Pintor da Vida Moderna, produzido em 1863, o qual deu origem ao termo flâneur. “O flâneur carrega um conjunto de ricas associações: o homem de lazer, o ocioso, o explorador urbano, o conhecedor da rua, o poeta em movimento”, explica Grossmann. “Essa figura está associada ao surgimento da metrópole moderna, cujo marco é o projeto de remodelação de Paris, proposto e conduzido pelo barão Georges-Eugène Haussmann, efetivado na segunda metade do século 19. Esse projeto iluminista está cercado de controvérsias, uma vez que Haussmann pode ser visto como o homem que foi um planejador mestre, que transformou Paris na Cidade Luz, mas também um megalomaníaco imperialista.”
Controvérsias à parte, o colunista nota que a flânerie “vem sendo usada, desde então, de modos diversos e adaptada a diferentes metrópoles e até contextos. Eu entendo, por exemplo, que o conceito da flânerie é central para a Pinacoteca criada pela arquiteta Lina Bo Bardi para o Masp, com seus cavaletes de vidro em um espaço generoso, aberto, sem colunas, delineado por suas amplas paredes de vidro laterais, que, a propósito, não deveriam estar totalmente fechadas, uma vez que permitem interagir com o contexto urbano contrastante”.
A influência da flânerie também pode ser observada “no mundo das invenções modernas, está presente, por exemplo, na trajetória criativa, intensa e ambiciosa de Santos Dumont, o brasileiro que ensinou os colonizadores, os europeus, a voarem. Ele considerou — como flâneur audacioso que foi — a cidade como seu campo experimental, como seu laboratório de criação, onde desenvolveu suas máquinas voadoras e até uma aquática”. O conceito pode ainda ser aplicado ao cinema feito por artistas e cineastas de vanguarda, marcando presença em filmes como Somente as Horas (1926), do brasileiro Alberto Cavalcanti. “Este experimento de Cavalcanti foi fonte inspiradora para o que foi denominado de Sinfonias da Metrópole. Fenômeno marcante do cinema nas décadas de 1920 e 1930, essas sinfonias, conduzidas por imagens em movimento, registram a dinâmica e a caoticidade da cidade moderna.”
Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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