Nesta sua coluna, a última do ano, Martin Grossmann trata do Festival Kwanzaa-Escrevivência, fruto de uma parceria entre o Instituto de Estudos Avançados e a Fundação Itaú, com apoio de várias entidades. “Trata-se de um encontro acadêmico-festivo para enaltecer a resistência, a resiliência do povo negro, suas memórias, conhecimentos e saberes. Um desejo de celebração nutrido desde o início da titularidade de Conceição Evaristo na Cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência da USP. O Festival Kwanzaa-Escrevivência acontece agora, de 13 a 15 de dezembro (de quarta a sexta-feira), em três regiões da cidade de São Paulo: no Itaú Cultural, na avenida Paulista; no Auditório Verde do Campus da EACH; e no IEA e no auditório da Biblioteca Brasiliana, no campus Butantã.
O festival está recheado de atividades acadêmico-artístico-culturais, expondo assim um conjunto poderoso de contribuições de artistas, pesquisadores, professores, estudantes negros na produção de conhecimentos e na expressão artístico-cultural. O festival comemora as realizações e os processos acadêmico-culturais coletivos da titularidade da escritora e professora Conceição Evaristo, no período 2022-2023. Importante descrever primeira e sinteticamente o Kwanzaa.
O Kwanzaa é um evento de aprendizado, congregação e comemoração, como descrito no site do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, em Washington, D.C., EUA. Na origem, o Kwanzaa é uma celebração cultural afro-americana surgida na década de 1960 em um contexto efervescente, seja do movimento negro como também de outros movimentos pelos direitos civis na América do Norte. A festividade é comemorada principalmente nos Estados Unidos, de 26 de dezembro a 1º de janeiro. Durante a semana do Kwanzaa, as famílias e as comunidades se reúnem para compartilhar alimentos, homenagear os antepassados, afirmar os laços entre eles e celebrar a cultura africana e afrodiaspórica.
Tomando como base a celebração do Natal sob uma perspectiva africana/afrodiaspórica, o Festival Kwanzaa traz a ideia de sete princípios: união, autodeterminação, trabalho coletivo e responsabilidade, economia cooperativa, propósito, criatividade e fé. Esses princípios regem a comemoração e podem ressignificar a diáspora e ressaltar a ancestralidade e sua conexão com o presente.
Esse espírito Kwanzaa vem ao encontro da Escrevivência! Essa é a essência do festival! Conceição Evaristo explica que a Escrevivência representa uma concepção teórica que busca trazer à luz as vivências tanto individuais quanto coletivas das comunidades negras na diáspora e das populações marginalizadas: ‘Ela se configura como um ato de resistência e expressão, destacando-se como uma ferramenta poderosa para reivindicar as identidades, memórias e histórias afrodiaspóricas, ressignificando imagens, como a da Mãe Preta, silenciadas historicamente nas sociedades’.
Não tenho dúvidas de que se trata de uma nova episteme, em construção coletiva, que está em processo de estabelecer formas ou características gerais correspondentes a essa experiência que Conceição Evaristo descreve como uma vivência da condição de pessoa brasileira de origem africana, uma nacionalidade hifenizada, na qual essa pessoa se coloca e pronuncia para afirmar sua origem africana e assim celebrar a sua ancestralidade, conectando-se tanto com a diversidade dos povos africanos como também com a diáspora africana. O festival será um encontro de trocas, rodas de conversa e apresentações artístico-culturais. Mais informações estão na home page do Instituto de Estudos Avançados da USP.”
Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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