Enterramento da rede elétrica só funciona com planejamento prévio e bem estruturado

De acordo com José Roberto Cardoso, não adianta simplesmente enterrar os cabos elétricos sem que antes haja um projeto bem estruturado para a execução correta do processo

 08/11/2023 - Publicado há 9 meses
Instalação de enterramento elétrico – Foto: MTA Capital Construction Mega Projects/Flickr/CC BY 2.0

 

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Diante do apagão ocorrido em São Paulo na última sexta-feira (3), a proposta de enterrar cabos de eletricidade voltou a ser discutida por autoridades e especialistas. Atualmente, a cidade tem cerca de 20 mil km de fios aéreos, e menos de 0,3% da rede está totalmente subterrânea, segundo a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp).

José Roberto Cardoso, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado (LMAG), explica as dificuldades em realizar obras de enterramento de redes aéreas. 

Enterrar x aterrar

Cardoso explica que existe uma diferença entre os conceitos de enterrar a rede elétrica e aterrá-la. O primeiro diz respeito à ação de colocar os cabos elétricos no subsolo; já o segundo demanda transferir toda a parte metálica externa da estrutura e colocar uma conexão com a terra, para que, em horas de acidente, o ser humano fique protegido. 

Aterramento elétrico – Foto: Ali K/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0

 

Com relação a enterrar, a tecnologia utilizada já é conhecida, mas as dificuldades para realizar as obras são consideráveis. De acordo com o professor, esse processo incomoda a população por conta das grandes obras que são realizadas. Além dos cabos, também é preciso deslocar os postes e transformadores, que também deverão ser enterrados.

José Roberto Cardoso – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Existem várias interferências no caminho. Por exemplo, pode encontrar uma rede de gás, pode encontrar uma tubulação estranha que não se conhece, porque nós não temos de fato uma documentação muito precisa do que temos no subsolo, então todos esses problemas são enfrentados ao se enterraram os cabos”, aponta Cardoso. Simplesmente enterrar os cabos não basta para resolver o problema. É preciso haver um projeto bem estruturado para que o processo seja executado corretamente. 

Além disso, estima-se que o custo de enterramento da rede elétrica é cerca de 20 vezes o custo das redes aéreas, e, se o valor da obra não for financiado pelo Estado, é pago pelo consumidor. O professor explica que, caso a população precise pagar, o valor da conta de luz deve aumentar, o que inviabilizaria o projeto, já que os menos favorecidos economicamente não teriam condições de arcar com o valor mais elevado. 

Mudanças 

A Prefeitura de São Paulo afirmou que as obras estão sendo realizadas em partes. Ricardo Nunes, prefeito da cidade, estabeleceu uma meta de enterrar 65 km da rede elétrica e afirmou que, até agora, 37 km foram concluídos e 6 km estão em fase final, o que resulta em 43 km de fios enterrados.

O professor acredita que o processo de escolha de regiões – em que os projetos estão sendo executados – corresponde a locais críticos, em que o enterramento de fios é mais urgente. Áreas que têm hospitais, como aponta o professor, são mais críticas, então é conveniente que haja redes elétricas enterradas, para minimizar os problemas de falta de energia causados por fatores externos. Entretanto, se nas pontas desses cabos houver redes aéreas, o risco de oscilação de eletricidade continua existindo, pois o rompimento desses fios pode afetar a rede subterrânea.


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