Roteiro explica utilização do mármore travertino romano no patrimônio brasileiro

Mundialmente utilizado na construção arquitetônica e escultórica, no Brasil, esse tipo de rocha pode ser encontrada em muitos edifícios do centro velho de São Paulo e em lápides de cemitérios

 18/10/2023 - Publicado há 9 meses
Edifício Matarazzo, sede do governo municipal e patrimônio paulista, construído com revestimento em mármore travertino romano – Foto: Samantha Aride/Wikimedia Commons

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Um dos principais edifícios em mármore travertino romano no centro velho de São Paulo é o Edifício Matarazzo, sede do governo municipal, conhecido como Banespinha, por ter pertencido ao Banco Banespa. Originalmente construído em 1939, foi projetado pelo arquiteto italiano Marcello Piacentini para ser a sede das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo e têm a fachada e o hall interno revestidos nesse tipo de travertino. Ainda em São Paulo, o Obelisco do Ibirapuera, o maior monumento da cidade, com 72 metros de altura, é constituído externamente de travertino romano e seu interior traz, além do travertino romano, o mármore carrara, além da capela que é revestida de pastilhas de mosaico veneziano. Há também várias estátuas, confeccionadas em granito e mármore em homenagem a grandes nomes da literatura e da música, na Praça Dom José Gaspar, e muitos jazigos constituídos em travertino romano no Cemitério São Paulo. Pelo Brasil, o travertino romano pode ser encontrado em alguns prédios comerciais do centro do Rio de Janeiro, como o Edifício Mayapan, e em Brasília, nas paredes do Supremo Tribunal Federal. 

Obelisco, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, possui o travertino romano – Foto: Wikimedia Commons

Para conhecer mais sobre a utilização do travertino romano no patrimônio construído, foi disponibilizado um StoryMaps neste link no site do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (Geohereditas), sediado no Instituto de Geociências (IGc) da USP. Com roteiro virtual produzido pela estudante Camila Sayuri Kinoshita, ele mostra a importância dessa rocha sedimentar utilizada na construção arquitetônica e escultórica, não só para o patrimônio brasileiro, mas também mundial. Um exemplo internacional é o Coliseu Romano, construído entre os anos 70 e 80 a.C., que, com mais de 100 mil m², tem cerca de 200 mil blocos de travertino romano, demonstrando a alta durabilidade do material.

O travertino é uma rocha carbonática continental, precipitada quimicamente e formada em nascentes, infiltrações, córregos, rios e ocasionalmente em lagos. É constituído por calcita e aragonita e possui uma cor bege clara, com várias cavidades que formam faixas que podem apresentar camadas distintas dependendo do seu corte.  Travertino é um termo em italiano, constituído de uma derivação de lapis tiburtinus, que significa “pedra de Tibur” em latim — Tibur é um nome antigo para a atual cidade de Tívoli, que está situada a 30 km de Roma. 

Telas do roteiro virtual sobre o mármore travertino romano – Foto: Divulgação/IGC USP

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Locais de extração

Além de encontrar informações e curiosidades sobre o travertino, o site traz um mapa com os locais de extração. Segundo o site, os travertinos de lapis tiburtinus são formados pela alteração química de carbonatos marinhos da era Meso-Cenozoica encontrados na região central da Itália, nas partes internas de um cinturão de dobra e falhas de empurrão conhecidas como Appennino Centrale. Um dos depósitos é conhecido como Bagni di Tivoli, ou seja, “Termas de Tivoli”, a leste da província de Roma, e a bacia de Acque Albule ou “Águas Brancas”, localizada a oeste da cidade de Tívoli. 

Além da Itália, o travertino também pode ser encontrado na Turquia, na cidade de Antalya, que é rodeada pela cadeia de montanha Taurus, e está localizada em cima de um plateau constituído por travertino. Sua formação está relacionada com a fonte termal Kirkgöz, ao norte de Antalya. Nessa região foram descritos três tipos de travertino: maciço (onde as cavidades na estrutura interna são preenchidas por calcita espática e podem ter manchas avermelhadas devido à oxidação), frágil (quando o carbonato de cálcio envolve raízes de planta e troncos de árvores) e esponjoso (que se forma em águas rasas, em ambientes onde o aquecimento, evaporação e a perda de CO2 são altas). 

No Brasil, em São José do Itaboraí, no Rio de Janeiro, situado no Rifte Continental do Sudeste do Brasil, foi descoberto uma bacia calcária pelo engenheiro Carlos Euler em 1928. Segundo vários autores, a Bacia de Itaboraí é composta principalmente por depósitos de travertino; outros sugerem que os travertinos se encontram interdigitados e recobertos por depósitos aluviais da Formação Macacu e, por último, a sedimentação paleogênica. Os estudos demonstraram boas possibilidades quantitativas e qualitativas do material para a fabricação de cimento do tipo Portland, entretanto não foi feita nenhuma menção a respeito de seu uso como pedra ornamental (provavelmente devido ao seu aspecto estético pouco atrativo).

O StoryMaps Travertino Romano: Sua utilização no Patrimônio Construído está disponível no site do Geohereditas.

Mais informações neste link.


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