Oficina de bordado na USP lembra a obra de Arthur Bispo do Rosário

Evento promovido pelo Departamento de Artes Plásticas acontece nos dias 25 de maio e 1º de junho

 23/05/2023 - Publicado há 1 ano
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Em dois encontros, oficina de bordado vai se guiar pelas contribuições de Arthur Bispo do Rosário, artista sergipano que passou boa parte da vida em instituições psiquiátricas e que se destacou nas artes plásticas, especialmente na área do bordado – Foto: Projeto Matizes/Divulgação

 

Nos dias 25 de maio e 1º de junho, a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP vai receber a oficina de bordado Entre o Avesso do Verso: Nomes Bordados e a Obra de Bispo do Rosário. O primeiro encontro, no dia 25, tratará da prática do bordado. Já o segundo, no dia 1º, vai explorar o bordado como expressão poética. Ambos se guiam pelas contribuições artísticas de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), artista que se destacou principalmente na área do bordado.

A professora Sumaya Mattar – Foto: Arquivo pessoal

“A arte de Arthur Bispo do Rosário ressoa quem ele é: um homem negro, periférico, que passou grande parte da sua vida internado em hospitais psiquiátricos”, explica a professora Sumaya Mattar, do Departamento de Artes Plásticas da ECA, coordenadora do Projeto Matizes: Diversidade na Roda da Arte-Educação, que promove o evento.

Bispo do Rosário é de origem sergipana. Ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1925, depois de se alistar na Escola de Aprendizes de Marinheiros. Após três anos, passou a lutar boxe, disputando campeonatos internos da Marinha e competições nacionais, nas categorias leve e meio-leve. Em 1933, com diversas punições, foi expulso da instituição militar. No mesmo ano ele se empregou na companhia Light & Power, onde sofreu um acidente de trabalho em 1937. Com a ajuda do advogado José Maria Leone, Bispo do Rosário abriu um processo contra a empresa. Leone também o abrigou. Nesse momento Bispo do Rosário passou a realizar suas primeiras produções artísticas com itens oriundos do lixo e da sucata.

Em um surto psicótico no dia 22 de dezembro de 1938, Rosário afirmou ser Jesus Cristo, peregrinou por várias igrejas do Rio de Janeiro. Parou somente quando chegou ao Mosteiro de São Bento, onde anunciou a um grupo de monges que era um enviado de Deus. Dois dias depois ele foi detido pela polícia e fichado como indigente sem documentos.

Arthur Bispo do Rosário – Foto: ResearchGate/Roberta Mendes de Sá/ Creative Commons 4.0

Após esse episódio, Bispo do Rosário foi levado para o Hospício Pedro II. Nos anos seguintes, tendo recebido o diagnóstico de esquizofrênico-paranoico, passou a viver em hospitais psiquiátricos. Quando não estava internado, prestava serviços em residências cariocas.

As obras produzidas por Bispo do Rosário ao longo dos anos só foram reconhecidas em 1980, nove anos antes da sua morte. Seu estilo foi classificado como arte vanguardista. Suas obras não tinham assinatura ou datação, mas eram agrupadas por palavras, que ele usava como elemento pulsante.

O Manto de Apresentação é a obra mais emblemática do artista. Como revelou, ele pensava usar o manto no dia do juízo final para mostrar a Terra a Deus, visando a acabar com a miséria, as doenças e o sofrimento. Com diversos detalhes de bordado, cordas e franjas, a obra apresenta diferentes representações do mundo sob a visão do artista, numa relação místico-religiosa.

O Projeto Matizes propõe diálogos sobre questões étnico-raciais, diversidade e interseccionalidade na arte e na educação numa perspectiva decolonial, explica Sumaya. “Surgimos em 2021, durante a pandemia, realizávamos essas conversas com alunos negros para passar a experiência dentro do ambiente universitário. Agora o Projeto Matizes é um projeto de extensão da USP, sendo contemplado com bolsas PUB, o que permite uma dedicação maior dos alunos.”

Manto de Apresentação, de Bispo do Rosário – Foto: Reprodução

A oficina de bordado Entre o Avesso do Verso: Nomes Bordados e a Obra de Bispo do Rosário será realizada nos dias 25 de maio e 1º de junho, sempre às 10 horas, no Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária, em São Paulo). Grátis. Interessados em participar do evento precisam se inscrever neste link.

 


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