Os desafios da inescapável reindustrialização

Por Luiz Roberto Serrano, jornalista e coordenador editorial da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP

 20/01/2023 - Publicado há 1 ano

Um dos temas mais desafiantes à frente do governo brasileiro é o da reindustrialização do País, embora a lista de problemas a superar em todas as áreas seja enorme.

A indústria instalada no Brasil respondia por 21,4% do Produto Interno Bruto nacional, nos tempos idos de 1971, e atualmente patina em 11,9%, segundo o artigo Em defesa da política industrial, do economista André Nassif, aposentado do BNDES, no Valor Econômico.

O tema tem pipocado na mídia. Jorge Arbache, vice-presidente do Setor Privado no Banco de Desenvolvimento da América Latina, licenciado da Universidade de Brasília, recentemente escreveu o artigo Qual Política Industrial?, também no jornal Valor Econômico. Já o veterano jornalista Celso Ming afirmou, em artigo em O Estado de S. Paulo, que Salvar a indústria é fazer escolhas.

É bom que pululem artigos na mídia, debates nos foros adequados e até mesmo teses nas universidades, porque a solução para esse crônico emagrecimento da presença da indústria na economia brasileira precisa chegar antes tarde do que nunca.

A intenção do atual governo recém-instalado, por tudo que foi e está sendo declarado por seus membros, é essa. Afinal, a indústria avançou no Brasil desde os tempos de Getúlio Vargas, encorpou com a instalação da indústria automobilística no governo de Juscelino Kubitscheck, avançou para a indústria de base com IIPND no governo Geisel, começou a titubear quando a economia mundial passou a ser digitalizada. E, atualmente, representa os atuais já citados 11,9% do PIB, enquanto a participação de produtos primários nas exportações totais, segundo ainda André Nassif, subiu de 17,6% para 45,1% entre 1990 e 2020.

Não dá a impressão de que retornamos à República Velha? Por que, nestes últimos tempos, as teses desenvolvimentistas são vistas como perigosas pelos liberais e criticadas amiúde na imprensa? Alguém acha que liberalismo puro vai resolver os graves problemas do Brasil?

O vice-presidente Geraldo Alckmin está diante de um grande desafio para operacionalizar uma nova etapa de desenvolvimento da indústria brasileira ou a aqui instalada, levando em conta o estado de espírito habitual entre os empresários do setor, tradicionalmente cautelosos ou avessos a novidades.

Nas propostas para a reindustrialização dos três articulistas citados neste texto, destaco:

André Nassif:

A economia global transitará para estruturas produtivas com tecnologias intensivas em baixa emissão de dióxido de carbono no decorrer do século. O Brasil se defronta com uma gigantesca janela de oportunidade para introduzir tecnologias verdes em diversos setores num momento histórico em que as condições iniciais zeram o jogo para a maioria dos países.

Jorge Arbache:

A região deve promover negócios associados a nichos de mercado afeitos às condições de nossos países […] agricultura, proteínas animais, mineração, óleo, gás, florestas e biodiversidade […] trata-se da diversificação em cadeias das quais já participamos… outra avenida está associada ao powershopping explorando a capacidade única da região para disponibilizar energia verde, segura, barata e o imenso potencial de desenvolvimento do mercado de carbono.

Celso Ming:

[…] mil portas podem-se abrir para industrializados que contam com mais vantagens comparativas. Alguns exemplos: produção de hidrogênio verde, indústria eletrointensiva, processamento de proteína animal e vegetal, papel e celulose e enriquecimento de minérios […].

São caminhos que apontam para o aumento da industrialização da nossa economia e certamente terão reflexos positivos na nossa pauta de exportações. “Mas ainda estão distantes da disputa na área de alta tecnologia em torno da produção de supercondutores na qual competem, acirradamente, os EUA, China e a Europa”, lembra o professor Hélio Nogueira, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. Competição em que esses países visam garantir espaço na produção mundial de equipamentos e tecnologias do século 21.

A sequência de problemas, em nível global, causados pela covid, a guerra na Ucrânia e a disputa pela hegemonia na área de produção de supercondutores estão redefinindo a postura dos principais players nos mercados mundiais. Nogueira destaca que esses players passaram a valorizar e incentivar as suas produções nacionais em detrimento dos fluxos internacionais de trocas, o que torna o cenário do comércio global ainda mais desafiante para um país que tem muito a reconstruir. “Nossas cartas não são tão ruins, mas é preciso refletir, especular, fazer apostas para avançar”, recomenda o professor.

(As opiniões expressas pelos articulistas do Jornal da USP são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do veículo nem posições institucionais da Universidade de São Paulo)


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