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Neste ano em que celebra 110 anos de existência, a Faculdade de Medicina (FM) da USP promove a exposição Porão: espaço democrático, que resgata sua história institucional e estudantil em diversos momentos de apoio à democracia. Atravessando os violentos anos de chumbo da ditadura e passando por movimentos como o “Diretas Já” e o “Fora Collor”, um vasto acervo documental e iconográfico agora cobre o espaço do subsolo da área central da faculdade, no âmago da Avenida Doutor Arnaldo.
Tradicionalmente ocupado por alunos dos cursos de graduação da FM, o lugar (também conhecido como Porão) abriga diversas entidades estudantis, entre elas, o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (Caoc), principal representação discente do curso de Medicina e responsável pela manutenção do espaço. Foi em 2021, durante um grande projeto de reforma, que a ideia da exposição surgiu.
Quem conta é o diretor de patrimônio do Caoc, Ricardo Padlipskas Alves: “O corpo estudantil da FMUSP sempre esteve envolvido em lutas importantíssimas da história do Brasil, seja na criação do Hospital das Clínicas, na luta contra o regime militar – período no qual presidentes do Caoc foram presos e assassinados –, nas Diretas Já e inúmeros outros movimentos.”
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Assim, a nova intervenção artística propõe uma ressignificação desse ambiente de convivência e socialização que integra a história da faculdade há mais de 90 anos, desde a inauguração do atual edifício-sede, e permite aos estudantes conhecerem mais sobre a própria herança acadêmica. Em um momento de divisão nacional, “fortalecer a imagem do Porão como espaço diverso, articulado e democrático, nos permite trazer a mensagem de que não haverá abertura para quem não busca dialogar com a democracia”, diz Ricardo.
As marcas de uma resistência pautada pela diversidade de vozes estampam as paredes e colunas do subsolo da FMUSP, onde o projeto expográfico invoca uma narrativa que abre caminhos explicativos por diversos núcleos temáticos. Décadas de fotos em estilo 3×4 dos integrantes do Caoc se alinham umas ao lado das outras, juntando-se às páginas de periódicos produzidos pelos alunos (como O Bisturi, lançado em 1930), fotos de atividades sociais, registros dos chamados “anos dourados” de avanços científicos e tecnológicos, atos pela defesa do Sistema Único de Saúde, dos hospitais universitários, do financiamento estudantil, entre outros.
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Enquanto o Caoc e o Centro Acadêmico XXI de Junho, do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da faculdade, ajudaram a selecionar documentos e fotos para a elaboração do projeto, foi o Museu Histórico da FMUSP que realizou a curadoria do material.
Para o professor André Mota, coordenador do museu e docente do Departamento de Medicina Preventiva, “a faculdade quis trazer como mensagem, a partir das propostas dos alunos e alunas dos centros estudantis, uma trajetória coletiva pouco conhecida”. Como efeito, ele analisa, revela-se que as oscilações na conjuntura política nacional incidem diretamente sobre o alunado e a Faculdade de Medicina como um todo. “Fica claro na exposição que em momentos democráticos, a faculdade avança em termos de pesquisa, de ensino e extensão, ou seja, de maior espaço aos alunos”, diz. “Em momentos de suspensão democrática, ao contrário, a instituição se retrai e a vida estudantil também.”
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Texto da Assessoria de Comunicação da FMUSP