Nesta edição de sua coluna, o professor Guilherme Wisnik continua falando sobre o legado da Semana de Arte Moderna de 1922, tema a que deu início em seu comentário anterior, quando falou da relação da arquitetura com as demais artes. Ele lembra que, em 1922, comemorava-se o centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro, então a capital do País, cuja paisagem se transformava e onde aconteceu, naquele mesmo ano, a Revolta dos 18 do Forte, que tinha por alvo os arranjos políticos da República Velha, comandada pela oligarquia brasileira. Foi um ano conturbado no que se refere ao cenário político e em que se assistiu também ao surgimento do Partido Comunista do Brasil, num país que se via às voltas com um processo de modernização e, ao mesmo tempo, de busca de identidade nacional, numa época que via também o florescimento das vanguardas na Europa, as quais buscavam a universalidade.
“Mas essa vanguarda universalizante desembarca na América do Sul […] justamente num momento em que esses países (sul-americanos) precisavam afirmar formas de identidade nacional. Então, dá-se aí um encontro um tanto esdrúxulo entre um princípio universalizante, internacionalizante, e a obsessão pela identidade – essa é a equação do nosso Modernismo”, diz o colunista. “Se Mário de Andrade vai buscar essa identidade no Brasil profundo, nas expedições, nas descobertas do Brasil, no popular, no folclore, Oswald de Andrade vai buscar na incorporação daquele que vem de fora, que é a antropofagia.” Isso ainda continua muito atual, observa Wisnik. “Foi reinterpretado e metabolizado pelos artistas dos anos 60 e continua sendo um ponto de vista extremamente importante para pensar a modernidade brasileira.”
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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