Nos anos de 2020 e 2021, a Cátedra José Bonifácio – gerida pelo Centro Ibero-Americano (Ciba) da USP, que visa a recolher, produzir e disseminar conhecimentos sobre a Ibero-América – teve à sua frente o economista colombiano José Antonio Ocampo, que assumiu sua titularidade no momento em que o País e o mundo passavam pela pior fase da pandemia de covid-19, tornando-se o primeiro catedrático a não ter estado presencialmente na USP, o que não o impediu de conduzir seu trabalho. Com sólida trajetória acadêmica e grande experiência na esfera pública colombiana e internacional, especialmente no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), ele escolheu como objeto de investigação os múltiplos aspectos da cooperação da governança internacional, sob a perspectiva do desenvolvimento.
O resultado de sua gestão pode ser acompanhado no livro recém-lançado pela Editora da USP (Edusp), Governança Internacional e Desenvolvimento (oitavo volume da Coleção Cátedra José Bonifácio), com a coordenação do próprio catedrático e organização de João Alberto Amorim e Wagner Pereira. Como afirma o ex-reitor da USP Vahan Agopyan no prefácio da obra, o tema escolhido pelo acadêmico é naturalmente relevante na agenda de pesquisa do meio universitário, mas que ganhou maior realce em função dos terríveis impactos econômicos, políticos e sociais gerados pela pandemia. “Trata-se de uma contribuição relevante da Universidade para a disseminação de estudos e de conhecimento sobre os enormes desafios do nosso tempo”, escreve Agopyan.
O livro reúne trabalhos de pesquisadores, intelectuais e professores de algumas das mais renomadas universidades e instituições intergovernamentais e está dividido em duas partes. A primeira é voltada a um balanço de autoria do próprio catedrático, e traz ainda textos dos principais pensadores da área de cooperação econômica internacional, entre eles Stephen Browne, Thomas G. Weiss, Felix Peña e Ulrich Volz. Já na segunda parte estão publicados 11 artigos produzidos por estudantes de pós-graduação. Há também uma entrevista de Ocampo, concedida ao professor da USP Pedro Dallari (coordenador do Ciba e da coleção), em que ele fala sobre seu trabalho realizado à frente da Cátedra José Bonifácio, além de abordar a relevância dos temas discutidos com os pesquisadores e discorrer sobre os desafios globais e da América Latina.
Na primeira parte, como destacam os organizadores do livro, o artigo A Preservação da Amazônia Diante do Desmatamento: Cooperação e Responsabilidades à Luz do Direito Internacional, de João Alberto Alves Amorim, analisa o estágio atual do desmatamento na Amazônia e a influência das medidas adotadas desde o início do governo de Jair Bolsonaro, que resultaram na aceleração da destruição da natureza e desmonte da cultura administrativa e normativa de proteção ambiental, além de abordar a repercussão desse cenário diante dos compromissos internacionais ambientais assumidos pelo País, principalmente o Acordo de Paris, de 2015.
Economia Desmaterializada: Processo de Reajuste e Integração na América Latina, de Juliana Goetzke, abre a segunda parte. Nele, a autora reflete sobre a necessidade de os países da América Latina convergirem interesses, a ponto de chegar a um acordo sobre o comércio digital na região, com funcionamento adequado, racional e eficiente do modelo de produção desmaterizalizado. Na sequência, Cooperação Monetária e Financeira na América Latina: Propostas e Assimetrias Regionais, de Rodolfo Vieira Nunes, trata das perspectivas e dos entraves que impactam as propostas de cooperação monetária e financeira na América Latina, e Sistema de Pagamentos em Moeda Local e seu Potencial como Instrumento de Coordenação entre Países do Mercosul, de Rafael de Moraes Balddright e Maria Antonieta Del Tedesco Lins, aborda a importância de projetos de acordos financeiros regionais.
Destaque também para as experiências de paradiplomacia, como a Cooperação Internacional Descentralizada (CID), que são discutidas por Ciro di Benatti Galvão e Thelmo de Carvalho Teixeira Branco Filho em Cooperação Internacional Descentralizada, Governança Pública Multinível e Interface entre Crise Sanitária e Objetivos de Desenvolvimento. Segundo os autores, o texto visa a sobrelevar, em razão da crise sanitária global desencadeada pela covid-19, a relevância da cooperação internacional, especificamente a modalidade descentralizada, com atores locais, destacando exteriorizações de um processo de governança multinível para a tarefa das condições sanitárias.
Governança Internacional e Desenvolvimento, Coleção Cátedra José Bonifácio 8, coordenação de José Antonio Ocampo e organização de João Alberto Amorim e Wagner Pereira, Editora da USP (Edusp), 600 páginas, R$ 62,00