O documento Estado Mundial da Pesca e Aquicultura, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), destaca a importância dos oceanos e do pescado na alimentação da população mundial. De acordo com dados de 2018, foram produzidos cerca 179 milhões de toneladas de pescado em nível mundial, o que representa US$401 bilhões. June Ferraz Dias, professora do Departamento de Oceanografia Biológica do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, comenta sobre a pesca mundial e a importância da sustentabilidade desse processo ao Jornal da USP no Ar 1°Edição.
June explica que os dados atuais de pesca são altos e significativos, mas que a característica extrativista da pesca diminui a capacidade de retirada do pescado devido ao processo de sobrepesca, ou seja, retirada superior ao considerado sustentável. Ao citar o dado de 2018, June explica que a pesca extrativa compõe aproximadamente 96 milhões de toneladas de pescado, “enquanto a aquicultura representa 82 milhões de toneladas”, o que significa mudança no cenário da pesca, já que, em 1990, o setor da aquicultura respondia por apenas 10% da produção pesqueira e hoje alcança 46% da totalidade. “Se a gente também ponderar que a população humana está crescendo, esses números não serão suficientes para suprir toda a proteína necessária para os habitantes do planeta”, comenta June.
No Brasil, há falta de dados sobre a atividade pesqueira. “A gente tem um cenário sombrio, porque desde 2014 não temos atualização das estatísticas pesqueiras”, alerta June, ao revelar que as estatísticas presentes no relatório da FAO são a soma dos dados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. “Esses valores, enviados para a FAO, não estão corretos e nós não coletamos dados sobre pesca desde 2014”, alerta June, que também demonstra preocupação com o quanto realmente se retira e qual a real produção pesqueira brasileira.
As políticas de pesca no Brasil são voltadas para o setor da aquicultura, segundo June, mas, dentro do setor extrativista, a pesca industrial é a que recebe maiores subsídios. “Quando a gente subsidia só a pesca industrial, estamos colocando nas mãos de poucos algum dinheiro e deixando de lado o que é mais ambientalmente correto, que é a pesca artesanal”, avalia June. Por fim, ela destaca que é necessária uma transformação da pesca atual para um modelo mais sustentável. “É preciso pensar em práticas melhores de pesca”, conclui.
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