Encontro de Docentes USP 2021: meritocracia, estrutura de poder e sociedade

Por Marcílio Alves, professor da Escola Politécnica da USP, e outros autores*

 23/08/2021 - Publicado há 3 anos
Marcílio Alves – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

* Amâncio Jorge Oliveira, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Ana Estela Haddad, professora da Faculdade de Odontologia da USP, Bruno Caramelli, professor da Faculdade de Medicina da USP, Luiz Fernando Ramos, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP

 

 

Mérito pode ser definido como a qualidade de ser bom e daí digno de merecer recompensas. O conceito parece ser a melhor maneira de não se cometer injustiças quando se comparam pessoas para, por exemplo, promovê-las. Quanto mais meritoso, maior deve ser o progresso, ou ainda, quanto mais meritoso, mais capaz se é.

Mas mérito e avaliação são coisas distintas. O mérito reflete uma trajetória de vida, a história biográfica de cada um. Ou seja, é individual e não comparável. Já a avaliação é baseada em critérios particulares, definidos por pares, comitês etc. e que variam temporalmente e arbitrariamente. Enquanto é difícil afirmar que um tem mais mérito que outro, pode-se dizer que, num dado retrato da vida, sob certos aspectos e circunstâncias, um pode ter melhor desempenho que outro.

Seria a meritocracia uma espécie de tirania, por não permitir a solidariedade, por deixar fluir um sentimento de desprezo e arrogância entre os vencedores e humilhação e ressentimento entre os perdedores? Seria melhor uma universidade alicerçada na competição entre seus pares ou na cooperação? Essas questões formam o pano de fundo da palestra do professor Michael Sandel, da Universidade de Harvard e autor do livro A tirania do mérito: o que aconteceu com o bem comum?, a ser proferida no Encontro de Docentes da USP, versão 2021.

Outra atividade no nosso encontro diz respeito à Estrutura de Poder na USP. Ainda insistimos no trinômio ensino-ciência-gestão como o pote de ouro no final do arco-íris de todo docente. É lá que mora o poder universitário. É claro que o docente não foi treinado em gestão para avançar ao topo de uma estrutura de poder. E deveria? Ser treinado em gestão não afasta o docente de suas atividades de ensino e pesquisa? A pergunta de fundo é se, para o bem da Universidade, a gestão deva estar nas mãos de docentes.

Discutiremos também o tema USP e a Sociedade. Como podemos responder às demandas dos problemas brasileiros? Como nossas atividades podem ser compatibilizadas entre formar profissionais, pesquisar temas em voga nos produtores maiores de ciência e tecnologia e ao mesmo tempo resolver questões que estão à porta da sala de aula e do laboratório? É claro que o papel da USP é multifacetário e a sociedade exige dela um olhar para seus problemas, sem perder o protagonismo de gerar o novo.

Para problemas tão vitais como complexos, precisamos refletir, nos informar, amadurecer, e estes Encontros têm sido sempre uma oportunidade para tanto. De formato virtual, após a abertura e a palestra do professor Sandel, o público de docentes USP optará por entrar em uma de duas salas: A Estrutura de Poder na USP e USP e a Sociedade. Os mediadores farão uma pequena apresentação para instigar um debate proveitoso. Após estas miniplenárias, os docentes se reunirão em um único ambiente virtual, apresentando suas conclusões, propostas e comentários.

O evento ocorrerá no dia 25 de agosto, iniciando-se às 13h30 e terminando às 18 horas. A inscrição pode ser realizada aqui.

Esperamos encontrar todas e todos lá!

 


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