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Artistas, pesquisadores, professores e alunos de diversas áreas e universidades se reúnem na exposição on-line Janelas da Arte. Um espaço multidisciplinar aberto nos sites do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes e do Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (Citi), ambos da Universidade de São Paulo. Através de pesquisas que integram ciência e arte, mostram o cotidiano da população neste “novo normal” que a pandemia vem impondo. Importante destacar a participação de crianças que desenham suas reflexões e esperança.
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“Nesse contexto do território livre da arte, plataformas tecnológicas possibilitam comunicações, atividades docentes e laboratoriais”, observa Elza Ajzenberg, curadora e coordenadora geral da mostra. “Com seus trabalhos, metáforas e registros conectados ao território livre da arte, os participantes promovem a pesquisa científica, a educação e a preservação do meio ambiente.”
Elza Ajzenberg, também professora da Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenadora do Centro Mario Schenberg, explica que Janelas da Arte é um espaço on-line. Mas a meta é que possa, no momento oportuno, ser presencial.
Enquanto essa versão aguarda o final da pandemia, a mostra oferece ao visitante uma viagem que compartilha sensações que ele bem conhece como o aprisionamento causado pela pandemia, a sensação confusa do tempo virtual e a redescoberta do entorno como a natureza do próprio jardim, os prédios vizinhos ou a paisagem do sol se pondo no horizonte. Sensações estimuladas através de três núcleos: Janelas Abertas, Natureza e Criatividade, e Esperança e Sensibilidade Estética. Cada um deles é subdividido em três partes, porém sob o mesmo tema.
A participação do reitor entre os pesquisadores
Ao som do piano exímio de José Eduardo Martins, professor do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP, o espectador entra no ambiente de Janelas da Arte. É acompanhado pelo reitor Vahan Agopyan, apresentando suas fotos tiradas em 28 de junho de 2020, que intitulou Sala de reunião e As janelas que eu tenho para ver o mundo durante a pandemia, com a presença dos computadores ligados. Na sequência das imagens está o trabalho dos professores da USP em suas aulas on-line como Silvio Salinas (foto assinada por Cristina), do Departamento de Física Geral; a professora Roseli de Deus Lopes, da Escola Politécnica, com as pesquisadoras no Citi USP. O visitante pode acompanhar ainda o professor Marcelo Zufo, do Departamento de Engenharia da Poli, junto dos pesquisadores, atuando na elaboração do ventilador pulmonar para o tratamento da covid-19. Há, ainda, a última aula presencial de Cremilda Medina, da ECA USP, no auditório Lupe Cotrin, em de 12 de março de 2020, registrada na fotografia de Marcos Eid.
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As tensões da pandemia são compartilhadas pelo viés da criatividade. Elias Knobel, cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, referência internacional em terapia intensiva, revela o seu lado artista. Cria, em uma escultura original, a Deusa Corona. No vídeo, ele revela: “Há 120 dias, eu encontrei um tronco em formato de Y que acabou se transformando em arte”. O professor esculpiu e destacou o formato feminino do tronco que, nestes 120 dias, engravidou. Ao girar devagar a escultura, observa: “Ela continuou bonita e elegante. O tronco iria para o fogo. Mas acabou revivendo na Deusa Corona”.
Paisagens aprisionadas do “novo normal”
Desenhar a sensação de estar limitado pela covid-19 é a arte de Pedro Marçalo Balau, de 11 anos. Em uma ilustração de um menino ajoelhado de máscaras dentro do coronavírus, Pedro desabafa: “Aprisionado”.
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A fotógrafa Mariana Negro, com a série Entrée cria uma série de paisagens como a composição sem par de chinelo, tênis e sapato deixada na entrada de uma casa com a porta devidamente fechada. Interessante ainda a foto de uma antiga fechadura que denominou O grito, que lembra o rosto da obra homônima mais famosa do pintor Edvard Munch, de 1893, que iniciou o expressionismo do início do século 20. Como O grito de Munch, Mariana tenta reproduzir a solidão e o medo.
A montagem em vídeo Perdendo a cabeça, de Patrícia Rocha, tem 13 segundos. Mas expressa a paisagem da cidade, talvez vista da janela de quem está se sentindo isolado em seu apartamento. A primeira imagem é a de um teclado de computador. Depois vem a cidade com seus ruídos de serra, entulho de pedras, nuvens pesadas que anunciam uma tempestade.
A vídeo performance O novo normal, criado por Alexandre Guimarães em 16 de junho de 2020, impressiona. O rosto do artista está mergulhado no escuro e ele questiona: “Que bom … eu não acredito, você está conseguindo me ver, você está conseguindo me escutar? Nossa… sabe o que é que é? É que primeiro eu não podia apertar uma mão, eu não podia dar um beijo. Depois, não podia sair de casa. Eu não podia me comunicar com mais ninguém”. A performance termina com o silêncio e o rosto do artista que desaparece no fundo negro.
O cotidiano de todos
Os processos criativos de Janelas da Arte continuam. O visitante vai se identificar nos vídeos, fotografias, instalações, esculturas, pinturas, desenhos que documentam o cotidiano de todos. As máscaras que escondem os rostos da pandemia estão na selfie de Beabar. O muro com cerca elétrica, sob a árvore frondosa é o tema de O céu que nos protege, da foto de Thais Yamanishi. Há também a metamorfose de Paulo Schlik expressa na foto/performance com sacos de lixo de coisas e de gente. Uma série que parece questionar a presença humana diante da pandemia. Como se transformar?
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O isolamento social está presente. Em Da minha janela vejo o silêncio Fernando Ekman mostra o processo de sua pintura em vídeo. O resultado é um amontoado de caveiras, revelando o drama das mortes na pandemia. A pintura digital de Fábio Hirakawa também traz cenas do isolamento social. Diogo Gomes, em vídeo performance com Joseane Alves, destaca a solidão diante da tela do computador e da cidade vista da janela. Em Olhares Atentos, pesquisadores, fotógrafos e artistas apresentam selfies do aprisionamento na pandemia, sozinhos ou com seus animais.
O núcleo Natureza e Criatividade traz a busca para respirar e se distrair sem sair de casa. O pianista e professor José Eduardo Martins registra o movimento das flores em seu jardim, desde o primeiro botão. Maria Lucia Roig compartilha a natureza da praia de Taguaiba, no Guarujá. Lucia Ahlers fotografa as árvores florindo. Marcos Manto mostra o fogo pelas matas urbanas. E Victor Carvalho Pinto flagra um animal em fuga, querendo ultrapassar as grades pontiagudas em Brasília.
Importante conferir os processos criativos nos desenhos de Lilian Bomeny, de Lara Dau Vieira; nas reflexões na técnica de incisões em livro de Gustavo Aragoni: no projeto Brincando com Arte de Beabar. Ou a imagem da pandemia criada por Avanir Aleixo Soares Ribeiro em mosaico e ainda a delicadeza dos desenhos de Juliana di Grazia, Natalia Alkmin reproduzindo o cuidado com pequenas paisagens em cerâmica plástica. Importante destacar também a ilustração do cansaço diante da pandemia de Iasmin Habka.
Nessa viagem on-line, não faltou uma homenagem às artesãs que se dedicam à confecção de máscaras que nos protegem da pandemia nas fotos de Rosemeire da Costa. Os coletores de lixo da cidade foram lembrados por Rejane de Souza, que fotografou o seu trabalho diário. A esperança no futuro é registrada nos desenhos sensíveis e espontâneos das crianças é a grande janela das artes. Beatriz Tirapelli Oliveira, de 6 anos, pinta uma menina presa em busca da montanha.
A exposição on-line Janelas da Arte está disponível nos sites do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (Citi) da USP.
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