Ferramenta estatística testa validade de resultados para deixar estudos clínicos mais precisos

O índice Baco, como foi denominado, ajuda a reduzir vieses na interpretação dos desfechos clínicos, que são os resultados nos pacientes após as intervenções médicas pesquisadas

 11/01/2021 - Publicado há 4 anos
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Fotomontagem Camila Paim/ Jornal da USP, sobre imagens Ramon Benevides/Fotos Públicas e ícones Freepik

Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP foi desenvolvido um método capaz de avaliar um grupo de desfechos clínicos, que se compõem pela união de vários desfechos individuais de pacientes incluídos em pesquisas epidemiológicas. Trata-se de uma ferramenta estatística denominada índice Baco (Bias Attributable to Composite Outcome). “Ele irá classificar se o uso de um desfecho composto está superestimando, subestimando ou invertendo a medida de associação entre um fator de risco ou tratamento e o prognóstico”, explica o médico epidemiologista Fredi A. Diaz Quijano, ressaltando que “um desfecho composto pode ser definido pela ocorrência de qualquer evento de uma lista de desfechos individuais”. Quijano é professor associado do Departamento de Epidemiologia da FSP e foi quem desenvolveu a metodologia. Ao reduzir vieses na interpretação dos desfechos, o método Baco levará a um uso mais apropriado da pesquisa para orientar decisões na prática clínica. 

Fredi Alexander Diaz Quijano, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP – Foto: Arquivo pessoal

Nas ações de saúde, o foco principal é sempre o paciente. E qualquer ação tomada poderá produzir efeitos benéficos (desejados) ou maléficos (indesejados) nele. Esses efeitos são os chamados “desfechos clínicos”, que podem incluir a necessidade de intervenções adicionais (como as internações) ou ocorrências relevantes como altas hospitalares e até as mortes. Assim, os desfechos são variáveis que são monitoradas durante um estudo para documentar o impacto que uma dada intervenção ou exposição tem na saúde de uma dada população. “Como geralmente ocorre em casos de epidemias, por exemplo”, descreve o cientista.

O professor cita, como exemplo, a avaliação de um medicamento. “Para avaliar sua eficácia será necessário comparar a frequência de desfechos clínicos entre os pacientes que receberam a medicação e entre os que não receberam”, explica. Nessas comparações, como descreve o professor, é necessário ter um bom número de pacientes que permita identificar um número considerável de desfechos (mortes, hospitalizações, ingressos em UTIs etc.) e, assim, se obter avaliações mais precisas.

Mas, como esclarece o cientista, às vezes é necessário juntar alguns desfechos individuais em um “composto” para ter um número importante de eventos para a análise. No entanto, essa mistura de eventos (desfechos) pode levar a vieses na interpretação de resultados. “Um evento menos importante, mas frequente na estatística, pode puxar associações levando a conclusões erradas em relação a outros elementos que compõem um desfecho composto”, descreve o pesquisador.

Testando o Baco

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De acordo com o cientista, os resultados da utilização do novo método mostraram ser uma solução para problemas metodológicos, com aplicações práticas em epidemiologia clínica. “Enfim, é uma forma de avaliar se o uso dos desfechos compostos enviesam ou não as conclusões de um estudo”, explica Quijano.

O pesquisador conta que há mais de mil estudos sobre desfechos compostos, anualmente. “Numa análise de um desfecho composto, se ele estiver enviesado, certamente se recomendará sua desconsideração e, provavelmente o aumento da amostra para avaliar apenas os desfechos individuais que melhor representem o objetivo do estudo. Nesse sentido, o novo método irá ajudar a melhor direcionar esses tipos de decisões”, descreve.

Para testar a aplicabilidade do novo método, Quijano analisou 23 estudos publicados em 2019. “Foram artigos publicados nas principais revistas médicas do mundo, como a NEJM, Lancet e Jama”, cita o pesquisador. O cientista identificou casos de vieses associados a desfechos compostos em estudos muito importantes. Por exemplo, a hidrocortisona não mostrou efeitos em um desfecho composto quando aplicada em crianças prematuras dependentes de ventilação mecânica. Mesmo assim reduzia a mortalidade significativamente. “O índice Baco mostrou que as duas associações eram bem diferentes, o suficiente para desconsiderar o desfecho composto e focar as conclusões na redução de mortalidade”, descreve. Neste estudo, o desfecho composto era definido pelo agrupamento de morte e displasia pulmonar.

O método proposto poderá auxiliar pesquisadores de diferentes áreas da saúde a melhorar a interpretação dos resultados das pesquisas. Isto é particularmente importante no contexto atual onde o uso de desfechos compostos é cada vez mais frequente e, como no caso de doenças emergentes, tais como a covid-19, é necessário recorrer a esses tipos de desfechos para avaliar rapidamente intervenções como medicamentos e vacinas.

O artigo sobre o novo método acaba de ser publicado no Journal of Clinical Epidemiology.

Mais informações: e-mail frediazq@usp.br


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