Professores da USP dão orientações contra as fake news

Às vésperas das eleições, podcasts e entrevista estão entre iniciativas de docentes no combate a notícias falsas

 01/10/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 06/10/2020 as 17:58

Fotomontagem: Moisés Dorado sobre foto de Ketut Subiyanto / Pexels

Ouça no link abaixo entrevista do professor da USP Pablo Ortellado sobre fake news nas próximas eleições, apresentada no dia 1º de outubro de 2020 no programa Jornal da USP no Ar, da Rádio USP (93,7 MHz).

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Com as proximidades das eleições municipais, cresce o risco de proliferação das fake news. Contra essa ameaça, docentes da USP se colocam à disposição para orientar a sociedade sobre como identificar, evitar e combater essa prática. Na Escola de Comunicações e Artes (ECA), professores e alunos se mobilizaram para produzir uma série de podcasts que trata do tema. Já o professor Pablo Ortellado, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, concedeu ao Jornal da USP no Ar, da Rádio USP (93,7 MHz), uma entrevista em que analisa justamente o uso de fake news no próximo pleito.

A série de podcasts produzida pela ECA – intitulada ECA-USP Contra as Fake News – surgiu graças à iniciativa do professor Luciano Victor Barros Maluly, do Departamento de Jornalismo e Editoração e do estudante de doutorado da ECA Felipe Parra. Maluly conta que se inspirou na campanha de combate às notícias falsas veiculada atualmente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o biólogo Átila Iamarino. O incentivo definitivo, explica, veio quando as pessoas começaram a lhe perguntar o que a ECA faz para combater as fake news.

Reunindo contribuições de professores, ex-estudantes e colaboradores de outras instituições acadêmicas, a série procura utilizar o conhecimento em defesa da democracia e da cidadania, de acordo com Maluly. Segundo ele, os podcasts são gravados pelos próprios participantes a partir de um pequeno roteiro. Em cada episódio, um convidado tece suas considerações sobre o combate às fake news, em áudios que variam de 50 segundos a pouco mais de oito minutos. Eles se apresentam, dão seu recado e finalizam com as palavras do projeto: “Esta é uma luta da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo contra a proliferação das fake news”. Os arremates de edição ficam por conta de Parra.

O professor Luciano Maluly – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

“Nós estamos fazendo esse trabalho para auxiliar o público a lidar com esse problema da nossa sociedade”, explica Maluly, que vê a iniciativa como uma ferramenta de combate. “Como diz o professor Manuel Chaparro (docente aposentado da ECA), se é fake, não é news.

O professor Eugênio Bucci – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

No episódio inaugural da série, o professor da ECA Eugênio Bucci recomenda que a origem de uma informação seja conferida e os fatos nela narrados sejam verificados para evitar compartilhar fake news. “Se os grandes órgãos de imprensa do País e do exterior não dão uma notícia que alguém diz para você que é a última palavra sobre o assunto mais importante do globo terrestre, cuidado, porque não deve ser bem assim. Não custa esperar um pouco”, aconselha o docente.

A pesquisa também é apontada pela professora da ECA Rosana de Lima Soares – em outro episódio da série – como uma das estratégias mais eficazes para combater as notícias falsas. “Nós podemos entrar em lugares diferentes para comprovar a veracidade das informações, mas não apenas isso, para pensar também sobre a qualidade da argumentação, as fontes que são entrevistadas, os jornalistas ou os autores que veiculam essas informações. A comparação e a pesquisa são as melhores formas de lidar com as fake news.”

A professora Rosana Soares – Foto: Youtube

O professor Dennis de Oliveira – Foto: Arquivo pessoal

professor da ECA Dennis de Oliveira faz coro à fala de Rosana, salientando que não basta apenas ver a origem da notícia, pois existem casos de fake news mesmo em órgãos tradicionais da imprensa. “É fundamental analisar a estrutura da informação que se recebe: quais foram as fontes entrevistadas, se elas gozam de credibilidade quanto ao assunto abordado, quais são os lugares de fala tanto dessas fontes como também do próprio órgão informativo que disseminou a informação”, aconselha.

“Combater a desinformação também é um exercício de cidadania”, comenta em outro episódio a professora da ECA Elizabeth Saad Corrêa. Entre suas reflexões registradas no podcast, a docente destaca o papel dos professores de comunicação nessa luta. “A nossa função é exercer e disseminar a prática de como identificar desinformações ou fake news”, afirma.

A professora Elizabeth Saad – Foto: Arquivo pessoal

O pós-doutorando Rafael Venancio – Foto Arquivo pessoal

“Entender que o mundo possui seus contraditórios e investigar é sempre uma boa forma de entender a veracidade e a desconfiança que está por trás de uma informação”, aponta o pós-doutorando na ECA Rafael Duarte de Oliveira Venancio.

“É trabalhoso, mas necessário para garantir a democracia e banir de vez o uso e o abuso das mentiras no debate público”, arremata Dennis de Oliveira, resumindo o espírito do podcast.

De acordo com Maluly, a ideia é angariar o maior número possível de depoimentos, reunindo não só professores e ex-estudantes da ECA, mas profissionais e pesquisadores de outras áreas além da comunicação, e também de outras instituições acadêmicas. Quem quiser contribuir pode entrar em contato com o professor Maluly pelo e-mail alterjor@gmail.com.

Foto: Moisés Dorado / USP Imagens

“É um alerta para a Universidade de São Paulo e demais universidades brasileiras”, afirma o professor. “Tem que ter investimento nessa pesquisa, com uma parceria entre pesquisadores e jornalistas, para podermos combater essa pandemia das fake news.”

A série ECA-USP Contra as Fake News está disponível na página eletrônica do projeto Universidade 93,7 MHz, ligado ao Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA, e também no Facebook e no Youtube. O professor antecipa também que em breve a produção estará na ECA TV e há planos de veicular os episódios na Rádio USP.

Fake news nas eleições municipais

Fotomontagem: Moisés Dorado sobre  foto de Marcos Santos / USP Imagens

A preocupação com as fake news nas próximas eleições municipais, previstas para o dia 15 de novembro, predominou na entrevista do professor Pablo Ortellado para o Jornal da USP no Ar, que foi ao ar nesta quinta-feira, dia 1º. Conversando com a radialista Roxane Ré, o professor destacou que o próximo pleito será bem particular, já que a pandemia empurra as campanhas eleitorais para o digital. O investimento do dinheiro de campanha irá aumentar nesses segmentos on-line, se comparado às eleições presidenciais de 2018, destacou Ortellado, que leciona no curso de Gestão de Políticas Públicas da EACH.

Por ser a primeira eleição pós-2018, Ortellado espera algo diferente no funcionamento das campanhas. “A eleição de 2018 foi muito singular. Rompeu o paradigma de todas as eleições anteriores. Havia um consenso na ciência política de que uma candidatura viável devia acumular pelo menos três condições para ela ser competitiva: ter verba de campanha, tempo de propaganda nas rádios e TV e alianças nos Estados, porque isso conferia palanque”, disse o professor na entrevista. Entretanto, a candidatura do atual presidente Jair Bolsonaro não continha nenhuma dessas três características.

Urna eletrônica – Fotomontagem: Vinicius Vieira/Jornal da USP

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A campanha digital exige um engajamento, uma paixão política diferente da presencial, pois a mensagem precisa ser retransmitida, o que acaba configurando, geralmente, campanhas mais ideologizadas, segundo o professor.

Para Ortellado, plataformas como o Facebook, Twitter, Youtube e WhatsApp terão papéis determinantes no combate às fake news. O WhatsApp segue como principal novidade da eleição de 2018, que foi central na divulgação de informações dos candidatos, principalmente na campanha de Jair Bolsonaro. “Como foi uma campanha bem-sucedida, ela abriu o terreno. Hoje, as redes de distribuição de conteúdo no WhatsApp estão espalhadas pelo País. O WhatsApp é a plataforma mais utilizada entre os brasileiros”, acrescenta o professor.

Ele lembra ainda que, por não ter rastreabilidade, o chamado Projeto de Lei das Fake News encontra dificuldades para enquadrar o WhatsApp em suas regras, já que nessa plataforma não é possível determinar a origem de uma informação.

Ouça no link colocado no alto desta página a íntegra da entrevista do professor Pablo Ortellado ao Jornal da USP no Ar.


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A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.


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