Ingressar em uma universidade pode ser o sonho de muitos jovens, mas há um número considerável de estudantes que acabam abandonando o curso. Na USP não é diferente. O professor Luciano Antonio Digiampietri observou que no Bacharelado de Sistemas de Informação oferecido pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) cerca de 24 alunos, de cada 180 que ingressam todo ano, não conseguiam concluir o curso.
Utilizando a chamada mineração de dados, um processo de análise para descobrir padrões e tendências a partir de uma grande quantidade de informações, Digiampietri e outros dois professores da EACH decidiram investigar qual o perfil do aluno que tem mais chances de se evadir. O estudo conseguiu prever com mais de 90% de precisão se um aluno tendia a se formar ou não, fornecendo instrumentos importantes para apoiá-lo e reduzir as chances de desistência.
Foram colhidos mais de mil históricos escolares, com dados sobre ano de ingresso, situação atual (se o aluno é egresso, está com matrícula ativa ou se cancelou a matrícula, por exemplo), disciplinas cursadas, frequência e notas. “Com base nesses dados, a gente usou técnicas de estatística para montar um perfil do aluno que tem mais chance de abandonar o curso”, diz Digiampietri.
O professor explica que, para boa parte dos estudantes, o mau desempenho em algumas disciplinas, associado à dificuldade de encaixar a grade horária em sua rotina, acaba dificultando a formação dentro do prazo máximo. Ele lembra que existem disciplinas que são requisito para cursar outras, o que frequentemente coloca o aluno em uma situação em que, se não fizer a disciplina em um determinado semestre, já não consegue concluir o curso dentro do tempo permitido.
“Dentre os fatores que identificamos, esse é um em que nós podemos atuar diretamente. Conseguimos permitir que, dentro do tempo que eles têm para se formar, as matérias sejam encaixadas. A gente pode oferecer a disciplina em um semestre a mais ou oferecê-la em horários alternativos”, exemplifica.
Envolvimento no curso
Atentos aos principais fatores que levam o aluno a se evadir, identificados não só nesse estudo, mas em vários outros consultados pelos professores, o curso de Sistemas de Informação da EACH passou a estimular o envolvimento dos alunos por meio de atividades complementares.
Foi criado um campeonato de programação para os calouros, além de atividades extras para programar em conjunto e praticar fora da sala de aula. Outra iniciativa foi manter contato com os formados para saber como avaliam o curso, o que o mercado de trabalho está exigindo deles atualmente e, nesse sentido, como a graduação os ajudou. Com essa medida, afirma Digiampietri, é possível melhorar o curso para os ingressantes e aumentar o índice de permanência. O professor também sugeriu uma medida que já é utilizada em outras universidades: a disponibilização de uma tutoria específica para os alunos que apresentam mais chance de deixar o curso.
Segundo o docente, ainda não foi possível notar uma diminuição no número de evasões, mas houve redução da taxa de reprovação em diversas disciplinas e melhora no desempenho acadêmico de alunos que tinham mais chance de se evadir. “Tivemos muitos resultados positivos relacionados a esses trabalhos que estamos realizando”, comemora o professor.
Revista de Graduação USP
O estudo de mineração de dados é relatado em um artigo na primeira edição da Revista de Graduação USP, a Grad+. O texto é assinado pelos professores Luciano Antonio Digiampietri, Fabio Nakano e Marcelo de Souza Lauretto.
A publicação, que divulga práticas, reflexões e pesquisas sobre o ensino na graduação, é mantida pela Pró-Reitoria de Graduação da USP.