A segunda fase do inquérito epidemiológico de Ribeirão Preto, feito pelo Hospital das Clínicas e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP juntos com a Secretaria Municipal de Saúde, apontou que 85% dos casos de covid-19 na cidade não chegam ao conhecimento da Vigilância Epidemiológica do município. A pesquisa, que visitou mais de 700 casas, registrou ainda que cerca de 2% dos moradores já contraíram a doença. Na primeira fase da pesquisa, feita nos primeiros dias de maio, o resultado foi de que 1% da população já havia tido contato com o novo coronavírus.
Os resultados agora indicam que a maioria daqueles que contraíram a doença é do sexo feminino e têm entre 60 e 69 anos de idade. Para Fernando Bellíssimo Rodrigues, professor da FMRP e um dos responsáveis pelo estudo, os dados levantados apontam dois lados. “O positivo é que essas pessoas tiveram uma infecção muito leve, até sem sintoma nenhum e se curaram espontaneamente. O negativo é que isso dificulta as atividades de controle.”
O estudo, avalia Bellíssimo, mostra que “não adianta só isolar a pessoa doente ou que tem sintomas, porque esses são só 15% dos infectados”. Apesar de Ribeirão Preto ter ficado por oito semanas consecutivas na zona vermelha do plano de retomada econômica do estado de São Paulo, antes de conseguir a flexibilização do isolamento e permitir a reabertura de alguns estabelecimentos, Bellíssimo destaca que “o município conseguiu achatar sua curva epidêmica e o número de infectados foi aumentando lentamente, sem uma explosão de casos”. Um dos motivos para esse controle foi a preparação do município para receber os pacientes. “O HC fez um esforço extraordinário para triplicar a capacidade de atendimento, assim como outros serviços públicos e privados. Nós perdemos vidas para a doença, mas não as perdemos para a falta de leitos, de respiradores ou pela falta de oxigênio suplementar, como aconteceu em outras cidades,” explica.
O município tem baixa taxa de letalidade do novo coronavírus, 0,4%, bem menor se comparada a taxa oficial, de 2,7%. Além disso, “apenas 2% das pessoas infectadas vão ter aquela forma mais grave da doença”, adianta o professor, ressaltando que o estudo “alerta que não basta isolar o doente com sintoma, isso é importante, mas não é suficiente”. É que no começo da pandemia, todos acreditavam que, se descobrissem os doentes, bastava isolá-los em casa que a doença não se propagaria mais na comunidade. “Isso se mostrou insuficiente”, segundo o infectologista pela quantidade de pessoas assintomáticas. “Nós temos que nos comportar como se cada um que nós encontrássemos no dia a dia um potencial infectado e transmissor do novo coronavírus”, destaca.
Belíssimo ressalta a importância de continuar seguindo as orientações dos órgãos de saúde. Mesmo com dados positivos da doença, ela ainda não acabou, então, “a gente tem sempre que usar máscara, fazer a higiene das mãos e continuar respeitando o isolamento social”, afirma Bellíssimo. “O inquérito deixa claro que não dá para saber todos os que tem, ou não, o novo coronavírus.”
Ouça no player abaixo a entrevista na íntegra do infectologista Fernando Bellíssimo Rodrigues, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.