Monumentos colonialistas são alvo de confrontos

Giselle Beiguelman comenta que essas formas de contestação tensionam os apagamentos da memória

 15/06/2020 - Publicado há 4 anos
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“Esses confrontos que se espalham na Europa e nos EUA, nas últimas semanas, têm como antecedente o Movimento Fallist que, em tradução livre, poderíamos chamar de “derrubacionistas”, movimento que começou na África do Sul”, comenta a professora Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens na Rádio USP (clique o player acima). O termo, segundo ela, é decorrente dos protestos contra o monumento a Cecil John Rhodes, na Universidade da Cidade do Cabo (UCT), que culminaram na sua remoção em 2015. “Remete à principal chamada dos estudantes: Rhodes Must Fall, (Rhodes tem que cair), contra a presença no campus da estátua em homenagem a esse magnata diretamente ligado ao colonialismo e ao racismo. O que se confronta nesses atos é a história oficial encarnada em monumentos.”

O alvo privilegiado no Estado e na cidade de São Paulo são os monumentos dedicados aos bandeirantes. “Apesar da historiografia contemporânea ser rica em estudos críticos que esmiúçam a associação dos bandeirantes com a escravização dos indígenas, eles estão presentes não só em monumentos, mas em um complexo de ruas e estradas que compõem uma espécie de rede imaginária de sua presença no tecido urbano paulistano e paulista.”

A professora ressalta que essa rede imaginária faz dos monumentos uma espécie de arquivo cultural disperso da história oficial do País. Esses movimentos em São Paulo têm sido apontados como vandalismo. Porém, a colunista observa: “Não vejo como vandalismo, mas sim como ativismo. No entanto, é importante pensar em formas de contestação que não apenas produzam novos apagamentos da memória, no caso, da memória da barbárie”.

Nessa perspectiva, Giselle Beiguelman esclarece que vários especialistas vêm propondo novas estratégias curatoriais para lidar com esse tipo de documento/monumento. “Um exemplo seria a migração dessas estátuas para novos lugares de memória, como museus, onde poderiam ser parte de um exercício coletivo de reprogramação simbólica das imagens que os monumentos projetam”, sugere.

Importante lembrar que a colunista, artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, apresentou, no ano passado, as instalações Monumento Nenhum e Chacina da Luz, onde mostrou, no Beco do Pinto e no Solar da Marquesa de Santos, os fragmentos de monumentos que estavam na praça da Luz e foram depredados. Um trabalho que sugere a importância de políticas públicas de memória que pontuam a relação da cidade com o seu patrimônio histórico e cultural.


Ouvir Imagens 
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio  USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e  TV USP.

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