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Colocados embaixo do paciente em posição pronada (decúbito ventral, ou seja, com a barriga para baixo), os dispositivos funcionam como amortecedores das proeminências do corpo que ficam em contato com a cama. Além de ajudar na recuperação da doença, os coxins minimizam a evolução de processos inflamatórios pulmonares e evitam lesões ortopédicas e ulcerações de pele, conta ao Jornal da USP a médica Kelly Cristina Stefani, do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e uma das responsáveis pela interface da equipe do HC com a do professor Douglas Gouvêa, do Laboratório de Processos Cerâmicos da Escola Politécnica (Poli) da USP, que coordenou o projeto dos dispositivos médicos.
A demanda pela fabricação dos produtos partiu de médicos do HC, que trabalham na linha de frente com infectados com o novo coronavírus. Segundo a médica, o estoque habitual de coxins para pronação era pequeno nos hospitais e reservado principalmente aos pacientes operados na posição ventral, como cirurgias de coluna, plástica e alguns tipos de neurocirurgias. No entanto, a posição pronada tem sido um recurso terapêutico indicado também para tratamento de infectados pela covid-19, com insuficiência respiratória, e que evoluem para estágios mais graves da doença, necessitando de hospitalização, suporte de oxigênio, intubação traqueal e a ventilação mecânica com ajuda de aparelhos, relata Kelly.
Segundo a professora Maria José Carmona, da FM e coordenadora de UTIs do HC, os coxins disponíveis nos hospitais foram suficientes para atendimento de poucos casos de covid-19 que necessitaram de pronação. Com o mercado desabastecido e poucos fabricantes nacionais preparados para produzir e entregar coxins na velocidade exigida, os médicos do HC recorreram às parcerias público-privadas da Poli, relata. Maria José coordena o Centro de Inovações Tecnológicas do Instituto Central (Citic-Inova HC) do Hospital das Clínicas, que estabeleceu parceria com a Poli.
Os coxins disponíveis no mercado brasileiro, geralmente, são “confeccionados com géis poliméricos e visco elásticos. São feitos de materiais importados, caros e de pouca adequação à anatomia do corpo humano, principalmente aos contornos da face”, conta Gouvêa ao Jornal da USP. Já os que estão sendo produzidos pela Poli/HC são mais apropriados para uso hospitalar e caminham em duas frentes: a primeira, em parceria com a FOM que tem uma linha de produtos de uso doméstico (travesseiros, almofadas, encostos de pescoço, pufs, etc), feitos em tecidos preenchidos com microesferas de poliestireno expandido.
A ideia foi “fazer adaptações nesses produtos e transformá-los em coxins que se acoplassem melhor à anatomia do corpo humano e que atendessem às exigências técnicas hospitalares”, diz o pesquisador. Os testes com esses modelos já foram realizados e o projeto de fabricação em escala já está em execução pela equipe da FOM.
A segunda frente do projeto trabalha com espumas de poliuretano, cujos parceiros são a DOW , a Duoflex e a F.A. Colchões. Os protótipos iniciais dessa parceria já foram fabricados e estão sendo testados no HC desde o dia 20 de maio.
Os novos produtos com microesferas de poliestireno expandido são genuinamente brasileiros, têm custo mais baixo de fabricação (custam três vezes menos que o importado), são laváveis, possuem costuras impermeáveis e são de fácil higienização, diz o pesquisador. Inicialmente, os coxins fabricados serão doados ao HC pelas empresas parceiras, mas em um futuro próximo deverão ser comercializados para atender à rede privada de hospitais.
A parceria da Poli, HC e empresas se deu pelo acordo entre o Cetic-HC e o Inova Poli, coordenado pelo professor Vanderley Moacyr John. O projeto que deu origem aos coxins hospitalares foi Coxins de Pronação de Pacientes de Covid-19 com Insuficiência Respiratória Grave.
Mais informações: e-mail dgouvea@usp.br, com Douglas Gouvêa
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