Poli e HC desenvolvem “almofadas” hospitalares para tratar pacientes graves de covid-19

Ajustados ao posicionamento do corpo, os chamados coxins ajudam na recuperação da doença, na prevenção de lesões ortopédicas e ulceração da pele

 27/05/2020 - Publicado há 4 anos
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As “almofadas”, conhecidas como coxins, minimizam a evolução de processos inflamatórios pulmonares, evitam lesões ortopédicas e ulcerações de pele. Os testes com os protótipos começaram no dia 20 de maio no Hospital das Clínicas – Fotomontagem: Vinicius Vieira

 

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A ação conjunta e voluntária de médicos, engenheiros, pesquisadores e empresários tem levado a USP ao desenvolvimento de inúmeros projetos de aplicação médica para o combate ao novo coronavírus. O mais recente deles envolve a fabricação de dispositivos anatômicos (coxins) – uma espécie de “almofada” – para acomodar pacientes graves com covid-19 que permanecem por longos períodos internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Colocados embaixo do paciente em posição pronada (decúbito ventral, ou seja, com a barriga para baixo), os dispositivos funcionam como amortecedores das proeminências do corpo que ficam em contato com a cama. Além de ajudar na recuperação da doença, os coxins minimizam a evolução de processos inflamatórios pulmonares e evitam lesões ortopédicas e ulcerações de pele, conta ao Jornal da USP a médica Kelly Cristina Stefani, do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e uma das responsáveis pela interface da equipe do HC com a do professor Douglas Gouvêa, do Laboratório de Processos Cerâmicos da Escola Politécnica (Poli) da USP, que coordenou o projeto dos dispositivos médicos.

Os coxins anatômicos funcionam como uma almofada e são indicados para tratamento de pacientes de covid-19, com evolução de insuficiência respiratória grave – Foto:  equipe de desenvolvimento FOM

 

A demanda pela fabricação dos produtos partiu de médicos do HC, que trabalham na linha de frente com infectados com o novo coronavírus. Segundo a médica, o estoque habitual de coxins para pronação era pequeno nos hospitais e reservado principalmente aos pacientes operados na posição ventral, como cirurgias de coluna, plástica e alguns tipos de neurocirurgias. No entanto, a posição pronada tem sido um recurso terapêutico indicado também para tratamento de infectados pela covid-19, com insuficiência respiratória, e que evoluem para estágios mais graves da doença, necessitando de hospitalização, suporte de oxigênio, intubação traqueal e a ventilação mecânica com ajuda de aparelhos, relata Kelly.

Maria José Carmona, médica e coordenadora de UTIs no HC/Centro de Inovações Tecnológicas do Instituto Central do HC -Foto: Arquivo pessoal

Segundo a professora Maria José Carmona, da FM e coordenadora de UTIs do HC, os coxins disponíveis nos hospitais foram suficientes para atendimento de poucos casos de covid-19 que necessitaram de pronação. Com o mercado desabastecido e poucos fabricantes nacionais preparados para produzir e entregar coxins na velocidade exigida, os médicos do HC recorreram às parcerias público-privadas da Poli, relata. Maria José coordena o Centro de Inovações Tecnológicas do Instituto Central (Citic-Inova HC) do Hospital das Clínicas, que estabeleceu parceria com a Poli.

Os coxins disponíveis no mercado brasileiro, geralmente, são “confeccionados com géis poliméricos e visco elásticos. São feitos de materiais importados, caros e de pouca adequação à anatomia do corpo humano, principalmente aos contornos da face”, conta Gouvêa ao Jornal da USP. Já os que estão sendo produzidos pela Poli/HC são mais apropriados para uso hospitalar e caminham em duas frentes: a primeira, em parceria com a FOM que tem uma linha de produtos de uso doméstico (travesseiros, almofadas, encostos de pescoço, pufs, etc), feitos em tecidos preenchidos com microesferas de poliestireno expandido.

Douglas Gouvêa, professor pesquisador do Laboratório de Processos Cerâmicos da Escola Politécnica (Poli) da USP. Coordenador de equipe do projeto dos dispositivos médicos – Foto: Arquivo pessoal

A ideia foi “fazer adaptações nesses produtos e transformá-los em coxins que se acoplassem melhor à anatomia do corpo humano e que atendessem às exigências técnicas hospitalares”, diz o pesquisador. Os testes com esses modelos já foram realizados e o projeto de fabricação em escala já está em execução pela equipe da FOM.

A segunda frente do projeto trabalha com espumas de poliuretano, cujos parceiros são a DOW , a Duoflex  e a F.A. Colchões. Os protótipos iniciais dessa parceria já foram fabricados e estão sendo testados no HC desde o dia 20 de maio.

Os novos produtos com microesferas de poliestireno expandido são genuinamente brasileiros, têm custo mais baixo de fabricação (custam três vezes menos que o importado), são laváveis, possuem costuras impermeáveis e são de fácil higienização, diz o pesquisador. Inicialmente, os coxins fabricados serão doados ao HC pelas empresas parceiras, mas em um futuro próximo deverão ser comercializados para atender à rede privada de hospitais.

A parceria da Poli, HC e empresas se deu pelo acordo entre o Cetic-HC e o Inova Poli, coordenado pelo professor Vanderley Moacyr John. O projeto que deu origem aos coxins hospitalares foi Coxins de Pronação de Pacientes de Covid-19 com Insuficiência Respiratória Grave.

Mais informações: e-mail dgouvea@usp.br, com Douglas Gouvêa

 

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