Brasil preocupa órgãos internacionais por falhas no combate à pandemia

Para Deisy Ventura, a dimensão que a pandemia está ganhando no Brasil é inquietante, e o País já está sendo visto como ameaça ao mundo

 15/05/2020 - Publicado há 4 anos
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Visto como risco por países vizinhos como Argentina e Uruguai, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) demonstrou preocupação com o Brasil a respeito da forma como vem lidando com a pandemia de covid-19. Ao mesmo tempo, o órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece os esforços de governadores e pediu para que medidas de combate ao novo coronavírus continuem sendo implementadas. Para falar melhor sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar conversou com Deisy Ventura, professora do Departamento de Saúde Ambiental e coordenadora do doutorado em Saúde Global na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Juntamente com os EUA, o Brasil vem representando aumento significativo na quantidade de casos confirmados e óbitos nas Américas. Dado este cenário, Deisy reconhece que existe subnotificação no País, com o número de casos e óbitos ainda maior que o divulgado pelo Ministério da Saúde. “A dimensão que a pandemia está ganhando no Brasil é inquietante. Já temos fechamento de fronteiras e proibição de ingresso de brasileiros nos EUA, e isso revela que estamos sendo percebidos como uma ameaça para o mundo.”

Deisy Ventura, que é presidente da Associação Brasileira de Relações Internacionais (Abri), revela que a Opas ajudou o Brasil com a compra de 10 milhões de testes e, pelo histórico de cooperação com o País, conhece muito bem a nossa realidade. Ela diz que o problema da resposta brasileira para a pandemia é o governo federal, já que a Opas reconhece que os governos estaduais e municipais têm criado medidas com grande dificuldade e lidam diretamente com pressões sobre a economia, empresários e movimentos extremistas pró-governo.

“Quando temos como inimigo o próprio governo federal, que deveria ser coordenador [de uma grande coalizão], realmente chegamos em uma situação de pesadelo”, lamenta a professora. Para ela, se tivéssemos um ambiente de cooperação no Brasil, o que deveria acontecer durante uma pandemia, haveria uma estratégia de comunicação de risco eficiente para que a adesão à população fosse significativa. E, infelizmente, não é o que está acontecendo neste momento.

Ao não fazer isso, o Brasil também perde protagonismo conquistado por décadas no combate a doenças e vê países, como a Argentina, que estava em uma situação econômica pior que a brasileira e com igual polarização política, unir o país e adotar medidas duríssimas. De acordo com Deisy, o Brasil sequer está participando de debates mundiais e foge de responsabilidade social. A própria Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) já anunciou que viveremos um colapso sem precedentes nas economias. “Isso não tem a ver com medidas quarentenárias e sim com a pandemia em si. A crise econômica já é mundial e vão surgir iniciativas multilaterais de compensação de perdas e o Brasil vai ficando fora de tudo disso”, avalia.

“Estamos passando um vexame internacional, sendo exemplo negativo em diversos quesitos, inclusive nas declarações inaceitáveis feitas pelo governo federal e na desestruturação do Ministério da Saúde”, destaca a professora. 

Ouça a entrevista na íntegra no player acima.


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