Possível supernova na galáxia empolga, mas tudo indica que Betelgeuse ainda não explodiu

Perda anormal de brilho da estrela não foi confirmada por novas observações e não foram detectados outros sinais de possível explosão, como emissões de raios gama

 16/01/2020 - Publicado há 4 anos
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Localizada na constelação de Orion, a 700 anos-luz da Terra, estrela Betelgeuse é uma supergigante vermelha, com massa 12 vezes maior que a do Sol e idade aproximada de 8 milhões de anos; cientistas calculam que estrela chegará ao fim de seu ciclo de vida em 100 mil anos, com uma explosão que dará origem a uma supernova  –  Imagem: Wikimedia Commons

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Quando uma estrela chega ao fim da vida ela começa a dar sinais de que vai morrer, que são observados e analisados pelos astrônomos, tentando entender o que está acontecendo. No caso da estrela Betelgeuse, na constelação de Orion, uma supergigante vermelha localizada a cerca de 700 anos-luz da Terra, a variação abrupta de brilho é um indício de que ela terminará seu ciclo de vida, estimado em 8 milhões de anos, com uma explosão, transformando-se em uma supernova. Os cientistas calculam que essa explosão ocorrerá dentro de 100 mil anos.

No entanto, em 14 de janeiro foi divulgada a detecção de uma queda acentuada e repentina de brilho, acompanhada do alerta de uma emissão de ondas gravitacionais numa região próxima da estrela, feito por um observatório nos Estados Unidos. Os dois anúncios criaram a expectativa de que a explosão aconteceu. Porém, as chances de Betelgeuse ter explodido são pequenas, afirma o astrônomo Jorge Melendez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. Além da fonte das ondas gravitacionais não ter sido determinada com precisão, não foram detectados outros sinais de uma possível explosão, como emissões de neutrinos e raios gama.

“Emissões de ondas gravitacionais em explosões de supernovas são muito difíceis de serem detectadas, e mesmo a perda anormal de brilho não foi confirmada por outras observações”, aponta o astrônomo. Em 14 de janeiro, o Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (Ligo, na sigla em inglês), localizado em Livingston, na Luisiania (Estados Unidos) emitiu o alerta de um possível evento com produção de ondas gravitacionais nas proximidades de Betelgeuse, para que a região possa ser estudada em detalhes por outros observatórios.
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Na imagem à esquerda, a constelação de Orion, com Betelgeuse assinalada por um quadrado; ao centro, representação do brilho da estrela; na direita, imagem obtida pelo Nasmyth Adaptive Optics System (Naos) no telescópio VLT do Observatório Europeu do Sul (ESO) – Foto: Wikimedia Commons

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Ondas gravitacionais

A posição do céu onde o evento aconteceu não foi definida com precisão, e a margem de erro é muito grande”, explica Melendez. “A probabilidade de ter ocorrido exatamente na posição em que Betelgeuse se encontra é muito baixa, pois a estrela está afastada da região mais provável da possível emissão de ondas gravitacionais.”

Segundo o professor, ondas gravitacionais são vibrações no tecido do espaço-tempo, e são produzidas em maior quantidade em eventos muito violentos, tais como explosões de supernovas, fusões de estrelas de nêutrons e colisões de buracos negros. “Esses eventos produzem grande quantidade de ondas, que conseguem ser detectadas na Terra, em observatórios como o Ligo”, diz. “Explosões de supernovas, no entanto, produzem ondas gravitacionais mais difíceis de serem detectadas. De fato, até agora não foram detectadas ondas gravitacionais geradas por supernovas. Por isso, há mais chances da observação do Ligo ser uma detecção espúria (falsa) ou ter sido gerada por outro evento.”

Betelgeuse é uma estrela supergigante vermelha com massa 12 vezes maior que a do Sol. “Esse tipo de estrela, no final da vida, estimada em 8 milhões de anos, passa por sucessivas contrações e produz em seu núcleo, por meio de reações nucleares, elementos cada vez mais pesados, transformando hidrogênio em hélio, e depois em carbono, e assim por diante”, observa Melendez. “Quando a estrela produz ferro ela chega ao final da sua vida. O ferro não pode ser mais fusionado para formar elementos mais pesados. A estrela entra em colapso e explode, dando origem a uma supernova.”

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Comparação das dimensões de Betelgeuse com o Sol e outros planetas do Sistema Solar; alerta de ondas gravitacionais não cita emissões de raios gama nem detecção de neutrinos, possíveis evidências de que estrela não explodiu – Foto: Wikimedia Commons

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De acordo com o astrônomo, a explosão produz partículas como os neutrinos e leva a emissões de raios gama e raios X. “O alerta não cita emissões de raios gama nem detecção de neutrinos, possíveis evidências de que não houve explosão”, destaca. A variação mais brusca do brilho de Betelgeuse também poderia ser o sinal de uma explosão. “Novas observações, todavia, indicaram que a estrela está diminuindo o brilho suavemente, de modo comportado, o que não sugere um evento mais dramático, mas variações normais dentro do seu ciclo de vida.”

O que andam dizendo no Twitter…

Rede social em que são fortes a divulgação científica e a repercussão sobre astronomia, o Twitter refletiu nos últimos dias a expectativa dos astrônomos e amantes desta ciência. Muitas vezes com o bom humor caraterístico dessa rede. Veja algumas postagens:

 


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