Para prosseguir com a série Porquê da Universidade Pública, em que especialistas da área da educação são convidados a refletir a universidade como instrumento de desenvolvimento da sociedade e espaço público das ideias, o Jornal da USP no Ar recebeu o ex-ministro da Educação Renato Janine. Ao explicar o que é a universidade pública na tradição brasileira, Janine expôs a importância dela para a sociedade e criticou os cortes de orçamento pretendidos pelo atual governo.
Ele explica que, no Brasil e na América Latina, consolidou-se uma ideia de universidade pública diferente do que se vê nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, por exemplo. Enquanto lá existe uma extrema valorização de universidades privadas, por aqui o conceito posto é o da universidade pública que não cobra, ou cobra pouco, pelo ensino. “Está na constituição e tradição brasileira que uma universidade pública tem que desempenhar uma série de papéis de extensão em relação à sociedade”, complementa Janine, que também é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
O ex-ministro afirma que o ponto crucial é que nas universidades públicas daqui são produzidas as melhores pesquisas, sobretudo no âmbito dos mestrados e doutorados. Ele explica que a conjugação de professores com alunos mais maduros por terem finalizado a graduação forma gente extremamente capacitada, tanto para a Universidade quanto para o setor público e privado da sociedade. Nesse quesito, a USP se destaca, a Universidade já foi responsável por dois terços dos doutorados no País. Segundo Janine, essa porcentagem só diminuiu porque os doutores da USP foram para outros lugares estudar, formar seus grupos e se tornar orientadores.
Alvo de muita polêmica, a medida planejada pelo governo de promover cortes no orçamento de universidades públicas federais em nome da priorização do ensino básico foi criticada pelo professor. Ele explica que já existe um esforço grande para melhorar o ensino básico por parte de agentes públicos do Estado, em conjunto com alunos e professores de instituições públicas e privadas, mas o trabalho é complexo e demorado.
O professor Janine exemplifica a complexidade explicando as diferenças enormes que são proporcionadas a um aluno, caso ele venha de uma família com repertório cultural maior. Como no Brasil existem muitas famílias que não tiveram acesso à cultura ou educação, os filhos não discutem literatura, sociedade e cinema à mesa. “É um problema econômico, mas não apenas econômico”, complementa.
Ao preterir os projetos já iniciados anteriormente que atuam sobre o ensino básico e essas complexidades, o governo atual estaria ignorando algo que já estava posto como consenso no Brasil. Para abordar a importância da educação e das medidas que já foram adotadas, bem como apontar o caminho que o Brasil deveria trilhar, Janine conta que ele e outros cinco ex-ministros da Educação se reunirão na próxima terça-feira, dia 4, no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Após a reunião, eles irão conceder uma entrevista coletiva à imprensa.
“A educação é o fator que mais aporta o desenvolvimento econômico, você tirar dinheiro do ensino superior não adianta grande coisa. Isso pode levar à paralisação de cursos por não manter o mínimo necessário para manutenção da universidade”, conclui.
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