Entre as doenças alérgicas, a alergia alimentar apresenta especial destaque nas linhas de pesquisa atuais. Um número maior de pacientes mantém reações até a idade adulta. Para esses pacientes que não adquirem a tolerância de forma espontânea, muitos tratamentos vêm sendo estudados e um deles é a imunoterapia epicutânea. O Jornal da USP no Ar conversou sobre a novidade com Ariana Campos Yang, professora de Imunologia Clínica e Alergia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina (FM) da USP.
O aumento das alergias alimentares provavelmente decorre de uma série de fatores que alteram a microbiota, ou seja, que alteram o conjunto de microrganismos existentes em nosso corpo. Por exemplo, “mudança do tipo de parto (cesariana e não via vaginal) e a mudança na alimentação, com o uso de antibióticos”, aponta a especialista.
“O tratamento convencional, tradicional, ainda é a restrição alimentar”, afirma Yang. Essa é aliada a cuidados de prevenção e de preparo caso uma reação acidental aconteça. “Diante da possibilidade de ocorrer reações mais graves, existe um dispositivo internacional de tratamentos ativos que tenta modular o sistema imune a reaprender a tolerar o alimento.” Dentre estes, está a imunoterapia oral e a imunoterapia cutânea, feita com “adesivos que contém concentrações diferentes do alimento alergênico, que são colocados na pele e têm períodos variáveis para tentar induzir uma tolerância”. Esta última é a mais recente e ainda não está disponível para prática rotineira, é uma metodologia em estudo.
A dose de alimento a ser utilizada para estimular o sistema imunológico a reagir não pode ser feita em casa. “As pessoas não podem se aventurar a começar a colocar uma gotinha de leite no litro de água e começar a tomar, porque não é assim. Tem testes que são feitos para depois avaliar qual a dose, que se diferencia de pessoa para pessoa.”
De acordo com Yang, “existe uma diferença entre alimentos que causam mais alergia na criança e alimentos que causam mais alergia no adulto.” Nas crianças, alimentos como leite, ovo, trigo, soja, peixe, amendoim, camarão e frutos do mar representam 90% das causas da alergia alimentar. Nos adultos, os alimentos do dia a dia, leite, ovo, são raros; o alimento mais comum é o camarão, mas também existe um grande índice de alergia com amendoins e castanhas.
A imunoterapia epicutânea apresenta estudos concentrados principalmente quanto à alergia com amendoim e leite. Na imunoterapia oral, os alimentos com mais estudos são o amendoim, leite e ovo, mas no Brasil também há pesquisa com trigo e soja.