Protocolo de controle do Aedes aegypti é a resposta contra zika, defende pesquisadora

Primeira edição do USP Talks trouxe pesquisas em desenvolvimento sobre a doença e formas de combater o transmissor do vírus

 29/04/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 07/10/2020 as 12:56
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Desde o segundo semestre de 2015, o Brasil acompanha o surgimento e crescimento dos casos de infecção pelo Zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Uma doença nova e que causa preocupação por sua associação ao nascimento de crianças com microcefalia e outros problemas no sistema nervoso central. Como combater o transmissor e enfrentar a doença é o grande desafio do país atualmente, segundo a bioquímica Margareth Capurro e o virologista Paolo Zanotto, professores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP

Os dois integrantes da Rede Zika – força-tarefa de pesquisadores paulistas dedicados a estudar o vírus – participaram nesta quarta-feira, dia 27 de abril, da primeira edição do USP Talks. O evento é organizado pelas Pró-Reitorias de Pesquisa e Graduação da USP e pelo Estadão, em parceria com a Livraria Cultura, para discutir temas de interesse da sociedade, e o tema de estreia foi “Aedes aegypti, Zika e microcefalia: Como vencer o mosquito e suas doenças?”, com a mediação do jornalista do Estadão Herton Escobar.

Foto: Cecília Bastos
Foto: Cecília Bastos

Margareth destacou que não existem medidas milagrosas contra o Aedes aegypti ou mesmo a possibilidade de erradicação.“O mosquito chegou ao Brasil na época da escravidão, a partir dos navios que traziam os escravos da África, com os ovos aderidos na parte externa das embarcações. Apesar de ter sido erradicado por volta dos anos 1950, ele retornou”. E o mar continua sendo a porta de entrada, segundo a professora – com a globalização e os deslocamentos frequentes de navios entre países, fica praticamente impossível controlar a chegada do mosquito.

Controle

Se não é possível exterminar o vírus, o caminho é adotar medidas de controle e o momento para isso é agora, entre o outono e inverno, quando ocorre menor infestação do mosquito em algumas regiões do país. “A responsabilidade de controle é individual e depende de modificar o pensamento da sociedade, que precisa ser engajada no programa”, disse Margareth. Para isso, a pesquisadora defende a adoção de um protocolo de controle efetivo e integrado do mosquito, uma iniciativa que deve partir dos órgãos públicos.

Ela citou três tecnologias testadas e comprovadas para o controle do Aedes aegypti: captura massiva do mosquito; impregná-lo com larvicida para que retorne ao criadouro e destrua os ovos; e a adoção do mosquito modificado geneticamente que, ao encontrar a fêmea e copular, consegue esterilizá-la, já que a fêmea é a responsável pela transmissão do vírus.

Baixando o volume do vetor, não se consegue eliminar completamente a doença, mas diminuímos sua incidência. Para acabar com a Zika é preciso de outras técnicas, como a vacina

A busca de uma vacina contra a doença é justamente um dos focos dos pesquisadores da Rede Zika, segundo Paolo Zanotto. Está em andamento uma parceria da USP com o Instituto Butantan para o desenvolvimento de uma vacina a partir de vírus inativos da Zika.

Outro trabalho da rede é a busca de um método de diagnóstico rápido e preciso. “O problema desse vírus é que ele é muito parecido com dengue, que é extremamente comum no Brasil. Então, em análises de sorologia, é difícil distinguir o sinal de Zika e dengue”, afirma Zanotto.

Ele contou que a equipe do professor Luis Carlos Ferreira, do ICB, desenvolveu um sistema de detecção sorológica que está sendo validado no Instituto Pasteur, na França. “É um sistema promissor, consegue discriminar Zika de dengue, mas ainda tem um problema de sensibilidade que está sendo aprimorado com os franceses”.

Mas a maior concentração de esforços dos pesquisadores da Rede Zika é o acompanhamento de grávidas que contraíram a doença devido à associação com a microcefalia. “O acompanhamento da microcefalia causada pelo Zika é complicado porque não há um quadro clássico nas crianças, há um espectro de lesões que vão de leves a extremamente complicadas, dependendo do período da gravidez em que ocorre a infecção pelo Zika”.


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