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A descoberta recente de uma carta escrita por Galileu Galilei, em 1613, é o assunto do físico Paulo Nussenzveig na coluna Ciência e Cientistas. “A história foi contada em artigo de comentário na revista Nature, na semana passada”, conta. “A carta estava ‘escondida’ sob a vista de todos: ela foi encontrada por acaso, por um pós-doutorando em história da ciência da Universidade de Bergamo, Salvatore Ricciardo.” A descoberta aconteceu na biblioteca da Royal Society, em Londres (Reino Unido), quando o pesquisador buscava comentários escritos à mão por eventuais leitores de trabalhos de Galilei.
Nussenzveig relata que, em 21 de dezembro de 1613, Galileu Galilei escreveu uma carta a seu antigo discípulo e amigo, Benedetto Castelli, um religioso beneditino e professor de matemática na Universidade de Pisa, na Itália. “Nessa carta, ele fez uma veemente defesa da liberdade científica, da importância de se poder investigar a natureza sem a obrigação de encontrar respostas que agradariam às autoridades religiosas”, diz. “Galileu era profundamente religioso e acreditava que as escrituras continham verdades absolutas. No entanto, ele restringia essas verdades a questões de fé e relacionadas aos caminhos para a salvação. As afirmações sobre fenômenos naturais, segundo ele, deviam ser interpretadas.”
A carta foi enviada por um frei dominicano, Niccolò Lorini, para a inquisição, em 1615. “Isso levou Galileu a pedir que um clérigo amigo em Roma, Piero Dini, entregasse outra versão da carta, sugerindo que a versão de Lorini teria sido adulterada”, afirma o físico. “Historiadores não sabiam qual versão seria a original, pois a segunda carta havia desaparecido. No último verão europeu, ela foi encontrada, totalmente por acaso!”
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