Professor da USP é um dos nomes mais influentes da filantropia no mundo

Marcos Kisil atua na área do investimento social e acredita que a causa pública não deve estar apenas na mão dos governos

 17/07/2018 - Publicado há 6 anos
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Professor da Faculdade de Saúde Pública, Kisil atua na área de investimento social – Foto: Idis

Na língua portuguesa, diferente do termo em inglês, a palavra filantropia é associada à ideia de caridade. Por isso, muitos preferem uma outra expressão para falar dos recursos de empresas destinados, de forma planejada e estratégica, a financiar projetos de interesse público: investimento social privado. Foi a essa área que um médico, formado na USP, dedicou quase toda a sua carreira.

Marcos Kisil é professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, em São Paulo, e foi apontado pela Alliance Magazine, uma das publicações mais conhecidas do setor, como um dos oito profissionais mais influentes do mundo filantrópico – o único latino-americano a compor a lista. Foi na graduação que os primeiros passos em direção à área seriam dados, quando foi selecionado como bolsista de um programa para lideranças em Harvard. “Lá começou a se enraizar em mim a noção de que a saúde era muito mais do que medicina”, lembra.

Professor Marcos Kisil, da FSP – Foto: Divulgação/ Idis

Voltando ao Brasil para concluir sua formação, ele logo optou pela residência em medicina preventiva, também conhecida como medicina social ou medicina comunitária, na época uma novidade.

Sua intimidade com os números (já havia estudado física e estatística) o levou até o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Ele colaborou na instalação do primeiro prontuário eletrônico do Brasil – foi o pontapé para ganhar a responsabilidade de implantar o projeto, ganhar uma diretoria e depois se tornar professor do Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde, parceria do HC com a Fundação Getúlio Vargas. Nessa época, também fez parte de uma comissão que discutia a criação do Hospital Universitário (HU).

Embora estivesse crescendo rapidamente, não se sentia satisfeito em ser um administrador sem ter estudado administração. Então tomou a decisão de cursar um doutorado fora do País.

“Existem os empreendedores sociais, que têm as ideias para resolver problemas de saúde, educação, economia, por exemplo, e existe o investidor, que tem recursos para investir. Esse casamento me chamou muito a atenção”, diz, ao contar como desenvolveu sua tese na Universidade George Washington, nos Estados Unidos, como bolsista da Fundação W. K. Kellogg. Com essa ideia, ele visitou 14 países e conheceu mais de 30 projetos, buscando entender como esse “casamento” podia gerar políticas públicas.

A experiência lhe rendeu uma proposta de emprego na própria fundação que o financiou, onde ficou por 15 anos como diretor regional para a América Latina e Caribe. O conhecimento acumulado o encorajou a voltar ao Brasil, algo que sempre teve em mente.

Deixou a Kellogg e fundou o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), uma organização sem fins lucrativos que já atuou junto ao Instituto Avon, Hospital Sabará, WWF Brasil, Fundação Rockefeller, entre outros. De volta ao País, também pôde aceitar o convite para dar aulas na USP. “Mas sempre fui um professor em regime parcial. Nesta área em que atuo, é preciso ter um pé na realidade e outro na academia”, diz.

Site do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – Foto: Divulgação / Idis

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Ainda que a ideia cause desconforto em muitos setores da Universidade, Marcos Kisil é seguro em dizer que a USP deveria se organizar para captar recursos privados de modo mais profissionalizado. “Vejo com preocupação que a Universidade ainda não deu a importância que esse tema precisa ter”, diz o professor. Ele critica a visão de que as questões públicas tenham que ser, obrigatoriamente, uma questão de governo.

“Como a sociedade vê a USP? Ainda não conseguimos transformá-la num bem que todo cidadão do Estado de São Paulo sinta que é dele e sinta orgulho”, afirma ao defender que a instituição faça um trabalho para arrecadar dinheiro privado. “Imagine isso sendo feito na Universidade: pessoas do direito para fazer o marco legal, economistas para estudar os impactos econômicos, administradores para avaliar modelos de gestão, pessoas das ciências sociais para encontrar caminhos novos para as questões”, propõe.


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