Livro traz nova visão sobre a colonização portuguesa na África

Obra revela como sociedades centro-africanas usaram o catolicismo para resistir à dominação de Portugal

 10/04/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 13/04/2018 as 16:21
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Imagem publicada na contracapa do livro Além do Visível – Foto: Reprodução/Edusp

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A Editora da USP (Edusp) acaba de lançar
Além do Visível – Poder, Catolicismo e Comércio (Séculos XVI e XVII), livro baseado na tese de livre-docência da professora Marina de Mello e Souza, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, filha do crítico literário Antonio Candido, morto no ano passado.

Resultado de cerca de dez anos de pesquisas e reflexão, a obra mostra “como Portugal dominou apenas algumas poucas áreas da região do que então era chamado pelos portugueses de Angola e como o catolicismo foi integrado às estruturas de poder do Congo, fortalecendo o poder central e aumentando a possibilidade de resistência à dominação lusa”, segundo a professora Marina. “O livro narra como as sociedades centro-africanas se relacionaram com a presença dos portugueses sem a eles de subordinarem e tirando proveito deles em benefício próprio.” 

O encontro dos europeus com os africanos é um tema central do livro lançado pela Edusp – Foto: Reprodução/Edusp

De acordo com o livro, os interesses que abarcavam tanto portugueses quanto africanos em suas relações eram, a princípio, comerciais. No entanto, os europeus queriam expandir sua cultura, enquanto chefes africanos desejavam fortalecer seu poder local, o que pode ser visto como positivo para ambos. No contexto estudado, as regiões africanas foram chamadas pelos portugueses de Congo e Angola, mas elas não coincidem com as áreas onde hoje ficam localizados esses países.

Foto: Reprodução / Além do Visível via Edusp (Clique na imagem para ampliar)

No capítulo introdutório, a professora Marina apresenta o contexto da época, quando Portugal se consolida como potência marítima – a mesma razão que fez com que “descobrisse” o Brasil.

No primeiro capítulo, denominado “Catolicismo: o elo entre o Congo e Portugal”, é abordada a maneira como se deu o primeiro contato entre a sociedade conguesa e as tropas portuguesas, além de destacar como foi incrementado o catolicismo naquela região. “Logo nos primeiros contatos dos portugueses com os povos habitantes ao sul do baixo rio Congo, que se articulavam por relações diversas sob uma chefia central e se localizavam numa área que os portugueses passaram a chamar de reino do Congo, o catolicismo foi um ponto de contato e de comunicação, um instrumento que serviu para portugueses e congueses se aproximarem”, escreve a professora.

O segundo capítulo, “Angola: uma conquista dos portugueses”, aborda a conquista da região de Dongo pelos europeus. Já no terceiro e no quarto capítulos, denominados “Paz e catolicismo em Matamba” e “Combate de religiões”, respectivamente, há um tema em comum: Njinga, rainha dos reinos do Ndongo e de Matamba, que teve lugar de destaque na história de Angola.

O livro da professora Marina de Mello e Souza (Clique na imagem para ampliar)

“De antropófaga, bárbara, facinorosa e luxuriosa a heroína que defendeu de armas nas mãos seu território da invasão dos portugueses; de antepassada do nacionalismo angolano a matriz de uma identidade negra nas Américas, passando pela afirmação anacrônica da independência e do valor da mulher em um mundo regido pelos homens, serviu aos mais variados desígnios”, escreve Marina a respeito de Njinga.

Ainda no quarto capítulo, é abordada a catequização da região chamada de Angola, mostrando como os povos nativos a receberam. Nas conclusões, a autora explicita as diferentes maneiras como cada região se aproximou do catolicismo, que de certa forma foi consequência de como os africanos se relacionaram em relação a seus colonizadores.

Além do Visível – Poder, Catolicismo e Comércio no Congo e em Angola (Séculos XVI e XVII), de Marina de Mello e Souza, Editora da USP (Edusp), 320 páginas, R$ 48,00.

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