Sistema otimiza fiscalização de carga agropecuária para exportação

Desenvolvido na USP, sistema será adotado pelo Ministério da Agricultura a partir de abril para produtos de origem animal

 29/03/2018 - Publicado há 6 anos
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O Shiva – Sistema Hiperintegrado de Vigilância Agropecuária vai permitir um controle maior sobre a qualidade dos produtos exportados, além de estar integrado ao Portal Único de Comércio Exterior – Foto: APPA via Fotos Públicas

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Um projeto desenvolvido com a participação da USP vai facilitar o trabalho dos fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na gestão de cargas destinadas para exportação. Isso graças a uma concepção baseada em gerenciamento de riscos concebida por pesquisadores do Grupo de Automação Elétrica em Sistemas Industriais (Gaesi) da Escola Politécnica (Poli) da USP. O Sistema Hiperintegrado de Vigilância Agropecuária (Shiva) começa a funcionar a partir do próximo dia 1º de abril e vai permitir ao Ministério ter um controle maior sobre a qualidade dos produtos exportados, além de estar integrado ao Portal Único de Comércio Exterior.

Coordenador técnico do grupo, o engenheiro Vidal Augusto Zapparoli Castro Melo conta que, por falta de ferramentas como a proposta, os fiscais do Ministério precisavam verificar pelo menos a documentação de 100% de todas as cargas direcionadas para exportação. “É humanamente impossível fazer um gerenciamento de riscos baseado apenas em documentos em papel e na capacidade cognitiva das pessoas. Mas, quando o processo permite o armazenamento eletrônico de dados sobre qualquer tipo de operação e coloca algoritmos de aprendizado de máquina para funcionar, o computador tem uma capacidade enorme de realizar cruzamentos, de memorizá-los e de encontrar padrões de comportamento que a cognição humana é incapaz de alcançar”, destaca Melo.

O engenheiro Vidal Augusto Zapparoli Castro Melo: computador pode realizar cruzamentos, memorizá-los e encontrar padrões de comportamento de um modo que a cognição humana é incapaz de alcançar – Foto: Leonor Calasans via IEA

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Entre os critérios que serão analisados pelo gerenciamento de risco estão os dados históricos do exportador, o tipo de produto que está sendo exportado, o país de destino e a documentação declarada sobre a carga. “É uma gama de dados que pode ser cruzada para verificar o risco apresentado. Dependendo do resultado, o sistema classifica a carga de acordo com as cores verde, amarelo, vermelho e cinza”, esclarece Vidal Melo.

Os dados sobre os exportadores já estão disponíveis via Portal Único de Comércio Exterior, criado pelo governo federal, e em processo de implantação, que é o meio pelo qual os exportadores do País declaram suas operações de exportação para anuência dos órgãos de controle – o próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; o Exército; a Receita Federal; a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre outros.

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Como funciona

Um software robô desenvolvido no âmbito do projeto acessa os dados da carga de exportação via Portal Único e os transfere para o Shiva, que, por sua vez, fará o gerenciamento de risco e a classificação da carga. Cargas classificadas como verde apresentam risco baixíssimo e o fiscal não tem necessidade de se preocupar. Um exemplo seria um exportador que há dez anos realiza exportações e, ao longo desse tempo, todas as vezes em que seus contêineres foram inspecionados não foi encontrada nenhuma irregularidade.

O professor Eduardo Mario Dias, da Poli, coordenador do Grupo de Automação Elétrica em Sistemas Industriais – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

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A classificação amarela indica algum problema com a documentação da carga. Por exemplo, o número do certificado sanitário é inexistente e o fiscal e o exportador precisariam verificar o motivo da incongruência de dados. A classificação vermelha indica para o fiscal a necessidade de abertura do contêiner para inspeção. “O Ministério passou para nós uma fórmula que foi inserida no sistema de gerenciamento de risco para que ele automaticamente sorteie algumas cargas e as classifique como vermelhas”, esclarece o pesquisador. Por fim, classificação cinza ocorre quando já foi constatado anteriormente algum problema muito grave e é necessária uma investigação mais a fundo daquelas operações. Por exemplo: denúncia de tráfego de drogas em determinada carga e o Ministério precisa trabalhar em conjunto com a Polícia Federal naquele caso.

No cronograma de implantação do Shiva, a data de 1º de abril é para os produtos de origem animal. A previsão é que em 1º de maio sejam incluídos os pescados e em 1º de julho alguns produtos a granel de origem vegetal, como soja e milho.

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Trabalho conjunto

Além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Grupo de Automação Elétrica em Sistemas Industriais (Gaesi), o Projeto Shiva contou com a participação de pesquisadores e técnicos do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, da Receita Federal e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA Brasil).

O Shiva é a evolução de um conceito anterior criado pelo Gaesi chamado Canal Azul. Desenvolvido entre 2011 e 2013, o Canal Azul previa a digitalização de todos os processos de exportação, desde a saída dos produtos da empresa exportadora até a chegada aos portos, por meio de um guichê eletrônico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

O Gaesi é coordenado pelo professor Eduardo Mario Dias, da Poli. O grupo atua na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de automação e gestão de processos, e é voltado principalmente ao campo da automação, do desenvolvimento e da gestão portuária e aeroportuária, da logística, do rastreamento de cargas, da mobilidade urbana e das cidades inteligentes.

Mais informações: e-mails vidal_melo@pea.usp.br ou emdias@pea.usp.br, com o professor Eduardo Mario Dias


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