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O câncer de mama é o tipo de neoplasia mais comum entre as mulheres no mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), há 57.960 mil casos novos no Brasil a cada ano. O desenvolvimento do tumor se caracteriza pela proliferação anormal, de forma rápida e desordenada, das células do tecido mamário. A doença fica mais agressiva quando essas migram para outras partes do corpo (metástase). Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP descobriram que uma molécula presente em esponjas pode impedir esse processo.
A pesquisa, coordenada pela professora Glaucia Maria Machado, analisou esses organismos marinhos e descobriu um composto chamado Geodemolídeo, que tem função antiproliferativa. Segundo a pesquisadora, a substância foi submetida a uma série de testes com o intuito de observar sua atuação. Com tempo, se percebeu que essa molécula atacava o citoesqueleto de actina das células tumorais. Assim, como essa estrutura está relacionada com a mobilidade, isso acaba impedindo sua migração para outras partes do corpo. “Ele é um composto que não vai, preferencialmente, matar a célula tumoral, mas afetar a sua capacidade de metastização”, explica a docente.
Há a possibilidade de detectar esse tipo de câncer em suas fases iniciais. É essencial que as mulheres fiquem atentas a alterações na mama e investiguem se surgir alguma anormalidade. Para a pesquisadora, é fundamental o diagnóstico precoce para conter o tumor, mas, às vezes, alguns casos já estão muito avançados e as células tumorais acabam se proliferando por todo o corpo. Dessa forma, a produção de uma droga que consiga conter o processo de metástase é uma contribuição muito importante.
Glaucia menciona que os organismos marinhos possuem muitas substâncias bioativas que podem ter um potencial quimioterapêutico. No caso das esponjas, essas espécies, por não se movimentarem no mar, acabam produzindo toxinas diferentes para viver. Além disso, elas também possuem uma relação de interação com micro-organismos simbiontes. Dessa forma, há uma troca, as esponjas proporcionam um ambiente para esses organismos sobreviverem e eles produzem moléculas que as ajudam a se proteger dos predadores.
O próximo passo do estudo é descobrir se essas toxinas são sintetizadas pelas próprias esponjas ou por simbiontes. De acordo com a professora, se essas substâncias forem produzidas por esses micro-organismos, há uma grande vantagem, pois os compostos podem ser cultivados em laboratórios. No caso do Geodemolídeo, os pesquisadores estão tentando fazer sua síntese in vitro. Glaucia ressalta que dessa forma a molécula terá um potencial terapêutico maior.
Além do Geodemolídeo, a substância Arenosclerina F também afeta as células tumorais. Ela é obtida da esponja Arenosclera brasiliensis e, por entortar a tubulina (proteína importante para a ocorrência da mitose), acaba impedindo a divisão celular. De acordo com a professora, os estudos desse composto começaram em 2007, mas só agora se conseguiu fazer a fórmula química dessa molécula.
Uma outra linha de estudo dos pesquisadores do ICB é buscar uma proteína que se deseja ativar na célula tumoral e depois verificar quais compostos dos organismos marinhos impactam nela. Glaucia aponta que há proteínas que atuam no fenômeno de senescência, isto é, envelhecimento das células. Assim, essas não morrem, mas perdem a capacidade de se dividir de novo. “É uma nova perspectiva na qual a gente está procurando alvos para atuação de moléculas”, destaca a docente.
A professora Glaucia Maria Machado explica, para a Rádio USP, como o Geodemolídeo ataca as células tumorais.
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