Índice prevê como câncer vai evoluir

Análise de dados de 12 mil tumores cria medida do progresso do câncer, terapia mais apropriada e possíveis alvos para novas drogas

 17/04/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 01/02/2021 as 15:37
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Grupo internacional de pesquisadores , incluindo da USP, analisou dados de 12 mil tumores de 33 tipos de cânceres, do Atlas do Genoma do Câncer – o maior banco de dados do mundo sobre alterações nos genomas de tumores. A análise, feita in sílico (ou seja, através de simulações computacionais), encontrou relação entre a semelhança dos tumores com células-tronco e a sua agressividade. O grupo utilizou inteligência artificial e gerou centenas de dados, atualmente disponíveis na internet para uso clínico.

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Tathiane Malta, farmacêutica e bioinformata da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, é primeira-autora do estudo que gerou um Índice de Semelhança com Células-Tronco. Com essa nova métrica, ela acredita que será possível projetar o progresso do câncer, ajudar ao médico a escolher as terapias mais apropriadas e prever a resposta do paciente ao uso de drogas anticancerígenas. O índice reúne ainda dados clínicos, gerando informações sobre possíveis alvos para o desenvolvimento de novas drogas e servindo como base adicional para determinar o tratamento mais adequado para cada tumor, de cada paciente, de forma personalizada.

“A gente já sabe que cada tumor se comporta de uma forma diferente, e mais ainda: estamos vendo que dentro de cada tecido existem subtipos de tumores. E se são tumores diferentes, eles não podem ser tratados da mesma forma”.

Tumor Total

O índice – principal resultado da pesquisa – considerou não apenas as características moleculares dos tumores, mas o microambiente tumoral como um todo. A análise do “tumor total”, como chamaram os pesquisadores, não descartou informações sobre outras células que passeiam pelo tecido, entre elas as células-tronco tumorais e as do sistema imune “que estão ali tentando combater esse tumor”, conta Malta. Mas sem perder de vista a semelhança dessas células com células-tronco. Isso porque já se sabe que qualidades como a capacidade aumentada de se proliferar desordenadamente e a “indiferenciação” são características comuns entre as células-tronco e as células tumorais.

Saiba mais sobre células-tronco e diferenciação celular neste glossário

Indiferenciação

De acordo com a visão atualmente aceita na comunidade de pesquisa sobre o câncer, as transformações pelas quais passam as células sadias ao formarem tumores incluem a geração de novas células que se afastam mais e mais de suas características iniciais. Nesse caminho, as células transformadas vão perdendo progressivamente a especialização inicial, própria do tecido onde o tumor está crescendo, e adquirindo características de células-tronco. Ou seja, elas se tornam progressivamente mais indiferenciadas. “A gente não sabe se é uma célula progenitora que se tornou maligna e aí o processo de diferenciação dela ficou prejudicado. Então, em vez dela virar uma célula funcional dentro de aquele órgão, ela se transforma em uma célula sem as suas propriedades normais. Ou se, ao contrário, uma célula que já era funcional, normal, fazia as suas funções corretamente, se transforma em uma célula tumoral e perde as suas funções e se desdiferencia”, explica Malta.

O artigo que relata os resultados da pesquisa, Machine Learning Identifies Stemness Features Associated with Oncogenic Dedifferentiation, foi publicado na Cell, a mais influente das revistas científicas internacionais em biologia molecular e genética.

 

Reportagem: Tabita Said, Ignacio Amigo e Mônica Teixeira / Núcleo de Divulgação Científica
Imagens: Rafael Simões | Edição de vídeo: Tabita Said e Alan Petrillo

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