O jornalista esportivo

Luciano Maluly é professor de Jornalismo Esportivo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP

 25/10/2017 - Publicado há 6 anos

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Luciano Maluly – Marcos Santos/USP Imagens

Quando comecei a escrever este artigo sobre jornalismo esportivo, minhas pernas tremeram da mesma forma de quando tive a oportunidade de ser titular, pela primeira vez, de uma equipe de futebol. Eu tinha sete anos e fui acompanhar meu primo Marcelo ao quintal da casa dos vizinhos. O dono da bola também era um menino gordinho, um ano mais velho, e que seria titular porque, simplesmente, era o dono da bola. O nome dele era José Luiz Cerveira Filho (hoje professor de sociologia na Universidade Federal do Paraná). Os garotos maiores jogariam na linha e o Zé, mesmo xingando a todos, ficou como um dos goleiros. Ninguém queria jogar no gol, mas, para mim, seria a glória. Fiquei lá, quietinho, esperando uma chance. “Bota o Tuquinho!”, meu apelido de criança, gritou um dos moleques. “Ele é muito pequeno e magrinho”, outro menino sussurrou. “Sua mãe ficará brava”, disse o meu primo. Tomei coragem e fui lá, sem falar uma palavra. Não tomei nenhum gol e, quando estávamos ganhando de cinco a zero, o goleiro adversário começou a chorar e fugiu com a bola gritando “Eu quero jogar na linha!”.

E foi ali na Estância Turística de Piraju, no interior paulista, que comecei a descobrir o meu amor pelos esportes e pelas atividades físicas. Aprendi a nadar no Rio Paranapanema, quando meus amigos Rogério Campanelli e Renato Dardes Barbério tomaram a minha boia de pneu de caminhão no meio da travessia e precisei retornar, sozinho, a nado até a beira do rio. Também foram esses mesmos amigos que me empurraram do trampolim do Iate Clube Piraju, onde aprendi a dar alguns saltos.

Pratiquei atletismo, futsal, basquete, vôlei e, principalmente, handebol na escola. Gostava tanto desta última modalidade, que uma vez virei herói estudantil, quando disputamos a final do campeonato da aula de Educação Física, ministrada pelo professor Theudureto Porfírio da Rocha Júnior, chamado Doretinho. O jogo decisivo estava empatado, quando defendi um pênalti no último minuto e ainda fiz o gol da vitória ao encobrir o goleiro adversário que estava adiantado. Considero o feito como a minha primeira conquista como “profissional”. Devo ao meu professor os ensinamentos sobre o esporte e a educação física. Aprendi com ele as regras das modalidades e também valores como o jogo limpo (fair play), a amizade e, principalmente, dar o melhor de si, mesmo que o resultado não seja o esperado.

Também joguei futebol de campo, tendo sido campeão interescolar da cidade na categoria até os 14 anos. Não joguei a final, porque fiquei doente em virtude de minha irmã Christiane ter caído da Mobilete (tipo de bicicleta motorizada). Preferi ser solidário a ela. Também joguei os Jogos Regionais em Garça, onde fomos vice-campeões, com muito orgulho. Lutamos para ser vice e ali aprendi que nem sempre o campeão é o primeiro colocado. A cidade de Marília, representada pelos juniores do Marília Atlético Clube, ficou em primeiro, mas ambos saímos vencedores.

Meu último jogo na cidade foi como titular do time de futsal do Tiro de Guerra. Que time! Estávamos entrosados, mas ficamos em quinto lugar, jogando como a seleção brasileira dos craques Douglas e Jackson – ídolos da garotada na época – que conquistou o bicampeonato mundial em 1982 e 1985.

Também joguei futebol de campo, tendo sido campeão interescolar da cidade na categoria até os 14 anos. Não joguei a final, porque fiquei doente em virtude de minha irmã Christiane ter caído da Mobilete (tipo de bicicleta motorizada). Preferi ser solidário a ela.

Alguns atletas da minha cidade sempre impressionaram pelo talento, como Marquinhos Zampieri e os irmãos Rogério e Alexandre Mineiro (craques em todas as modalidades), o Cláudio Pezão e o Zé Carlos Nunes (pelos dribles), o Paulo Kase (pela raça) no futebol, a Elianinha no basquete, a Lúcia Goretti na natação, entre tantos outros. Ficava admirando e torcendo pelos meus ídolos.

Porém, foi com o time profissional do Piraju Futebol Clube que enfrentei os primeiros desafios como torcedor, junto com o meu primo Ricardo Pedro. Quando adolescentes, queríamos assistir aos jogos, mas, como bons malandrinhos, sem pagar o ingresso. Em vez de gastar o dinheiro com o jogo, guardávamos para o sorvete e a pipoca. Só tinha uma saída: pular o muro e se esborrachar no terreno que ficava do lado oposto das arquibancadas. Deixamos o jogo começar para não sermos flagrados. O resto era só comemorar. Nosso ídolo, assim como o dos demais torcedores, era o goleiro Gilmar, que era o único titular natural da cidade. Do Piraju Futebol Clube, recordo do esforço do falecido presidente Pedro Jonas da Silva, o Pedrão, um incentivador do esporte na cidade, que sempre organizava campeonatos e levava a molecada para participar de algumas peladas com os craques da época. Ficava no banco e entrava nos segundos finais, com orgulho de compartilhar o tapete sagrado com meus ídolos, como Tarugo, Mané Carioca, entre outros.

Quando terminei o colégio, fiquei perambulando por um tempo, pensando no que fazer da vida. Sempre fui muito estudioso e cheguei até a passar no vestibular para o curso de Educação Física na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Desisti, porque sabia que o meu destino era outro. Anos depois, passei novamente na UEL, mas desta vez para o curso de Jornalismo. Logo no primeiro ano, comecei a frequentar as aulas obrigatórias de Educação Física. Para mim, era um prazer. No primeiro jogo, o nosso professor formou um grupo para treinar contra o time titular da UEL. Primeira bola do jogo, primeiro gol do fixo (jogador de marcação) do catadão. O professor ficou chateado com a situação e eu mais ainda, pois torci o pé no final do jogo.

As minhas memórias permanecem nos campos, nas quadras, nas piscinas, nos rios e nos lugares onde se pratica uma modalidade ou qualquer atividade física. Dou o mesmo valor aos jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol e aos atletas amadores que caminham pelo campus da Cidade Universitária. Sempre desejei contar algumas histórias, assim como revelar o que aprendi com os meus mestres ou o que ensino aos meus alunos. E hoje o Jornal da USP transformou o meu sonho em realidade ao conceder este espaço para um professor que sonhou um dia em ser jornalista esportivo.

 


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