Expedição no Amazonas coleta quase mil mosquitos para pesquisas

Será realizado o sequenciamento genético dos animais e identificação de micro-organismos que causam doenças e replicação do DNA

 17/11/2017 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 06/12/2021 as 16:35
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Pesquisadores analisam mosquitos e os separam por espécie durante a II Expedição Humaitá – Foto: Valéria Dias/USP Imagens

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engue, zika, chikungunya e febre amarela são algumas das doenças causadas por arbovírus, palavra que vem da expressão arthropod borne virus (vírus nascidos em artrópodes – como os mosquitos, principalmente). Mas a grande maioria das pessoas não imagina o quanto é trabalhoso coletar esses insetos, identificá-los e verificar se eles carregam ou não micro-organismos que podem causar doenças em animais ou seres humanos. Uma expedição liderada pela USP em comunidades ribeirinhas do Rio Madeira na região de Humaitá, no Amazonas, está contribuindo para ampliar o conhecimento sobre os artrópodes da região amazônica: os pesquisadores coletaram 951 mosquitos para estudos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.

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“Somente na região amazônica existem mais de 300 espécies de arbovírus diferentes, mas o número deve ser muito maior. Nem todos afetam os seres humanos, alguns atingem apenas animais silvestres ou primatas não humanos. Por isso, conhecer a região é essencial”, destaca o professor Luís Marcelo Aranha Camargo, coordenador do ICB5, uma unidade de pesquisa, ensino e extensão que a USP mantem de modo permanente, desde 1997, na cidade de Monte Negro, em Rondônia. Aranha Camargo também atua como vice-coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Epidemiologia da Amazônia Ocidental (INCT-Epiamo).

A proximidade do ICB5 com a região amazônica facilita a realização de expedições aos estados vizinhos. A última delas ocorreu por meio de uma parceria entre a USP e a Prefeitura de Humaitá, no Amazonas, entre os dias 5 e 12 de setembro de 2017: foi a II Expedição Humaitá. Os trabalhos tiveram coordenação do professor  Aranha Camargo e foram realizados a bordo da Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) Irmã Angélica Tonetta, utilizada pela prefeitura local para atender às comunidades ribeirinhas do município.
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O barco saiu de Humaitá no dia 5, navegou pelo Rio Madeira e ancorou nas comunidades Bom Futuro, São Rafael e Carará para realização de atendimento médico, odontológico e de vacinação. Um outro grupo, de pesquisadores de instituições parceiras, aproveitou essas paradas para se embrenhar na floresta amazônica e montar vários tipos de armadilhas a fim de coletar mosquitos nas três localidades.

A Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) Irmã Angélica Tonetta saiu de Humaitá e navegou pelo Rio Madeira parando em três comunidades ribeirinhas – Foto: Valéria Dias/USP Imagens

Os pesquisadores também coletaram sanguessugas que vivem em plantas aquáticas (macrófitas) e que podem transmitir tripanossomatídeos (micro-organismos que causam doenças) entre peixes e anfíbios. Esses tripanossomatídeos são parentes daqueles que causam, em humanos, doenças como leishmaniose, doença do sono e Chagas. Os cientistas também coletaram larvas de alguns mosquitos que vivem em macrófitas e podem transmitir arboviroses; além de barbeiros e outros mosquitos da região.

Os mosquitos dos gêneros flebotomíneos (que podem transmitir leishmaniose) e culicoides (também conhecidos como maruins, podem transmitir verminoses) foram encaminhados ao pesquisador Jansen Fernandes, da Fiocruz Noroeste, em Porto Velho (Rondônia) para identificação. Os outros mosquitos foram identificados ainda durante a expedição, em um dos laboratórios da UBS Fluvial.

Posteriormente, todos os insetos coletados serão encaminhados ao professor Edison Luis Durigon, do ICB, em São Paulo, para sequenciamento do material genético, identificação de possíveis micro-organismos que causam doenças e replicação do DNA. Parte do DNA replicado será foco de estudos do professor Durigon sobre arbovírus. A outra parte será encaminhada ao professor Erney Felício Plessmann de Camargo, também do ICB, que vai estudar os tripanossomatídeos.
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Mosquito capturado durante a expedição na comunidade Bom Futuro – Foto: Valéria Dias/USP Imagens

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Armadilhas na floresta

Os insetos foram coletados por meio da lavagem de raízes de plantas aquáticas, além das armadilhas: Barraca de Shannon, CDC luminosa (copa das árvores e solo) e aspiração elétrica de oco de árvores. Outro método foi a atração humana: o inseto é capturado ao pousar na pele antes de conseguir dar cabo à picada. “Este modo de coleta foi proibido durante um tempo pois muitos pesquisadores pagavam moradores locais para servir de isca aos insetos, expondo essas pessoas a riscos de contraírem doenças”, conta Aranha Camargo.

Atualmente, o método é permitido desde que feito unicamente pelos próprios pesquisadores, que têm conhecimento de todos os riscos que correm. “Alguns mosquitos, como aqueles que transmitem a malária, somente são capturados pela atração humana”, justifica o professor, ao recordar de tentativas frustradas anteriores de capturar o mosquito do gênero Anopheles por meio de outras armadilhas que não a atração humana.

Acompanhe abaixo a galeria de imagens que mostra o passo a passo da captura de mosquitos durante a II Expedição Humaitá
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Parceria com a Prefeitura

A II Expedição contou com a participação de 26 pessoas (cinco tripulantes, seis funcionários da Secretaria Municipal de Saúde de Humaitá, além da equipe da USP formada por 15 integrantes, entre pesquisadores e funcionários da Universidade, e alunos do último ano de Medicina do Centro Universitário São Lucas, de Rondônia). As atividades foram possíveis graças a um convênio firmado entre a USP e a Prefeitura de Humaitá.

Alunos de Medicina do Centro Universitário São Lucas atendem pacientes na comunidade Carará, região de Humaitá, Amazonas – Foto: Valéria Dias/USP Imagens

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“Trata-se de uma parceria técnica de apoio mútuo. Nós os ajudamos prestando assessoria, capacitação e assistência em saúde. Em troca, eles fornecem a estrutura para a execução de pesquisas e a possibilidade de treinamento de acadêmicos na área da saúde”, informa Aranha Camargo.

As equipes da USP e da Secretaria Municipal de Saúde foram responsáveis por 143 atendimentos médicos; três procedimentos cirúrgicos; 170 hemogramas; 514 procedimentos laboratoriais; 47 atendimentos odontológicos; e 376 procedimentos em odontologia.

A primeira expedição ocorreu em novembro de 2016. A parceria prevê a realização de até cinco viagens por ano, sempre atrelando o desenvolvimento de alguma pesquisa com o atendimento aos ribeirinhos.

Mais informações: e-mail spider@icbusp.org, com Luís Marcelo Aranha Camargo

Acompanhe na próxima semana a segunda parte da reportagem, em que falaremos sobre os atendimentos realizados durante a II Expedição Humaitá

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