Pesquisadores reconstroem cérebro de um dos dinossauros mais antigos do mundo

Reconstrução digital é importante passo para melhor compreensão do comportamento dos primeiros dinossauros

 20/09/2017 - Publicado há 7 anos
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Achados foram publicados nesta quarta-feira, 20 de setembro, na revista Scientific Reports, do Reino Unido – Foto: Reprodução / Rodolfo Nogueira

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Pesquisadores do Brasil e da Alemanha reconstruíram partes do cérebro do Saturnalia tupiniquim, um dos dinossauros mais antigos do mundo, descoberto há cerca de 20 anos pelo grupo do professor Max Langer, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

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Com os dados da reconstrução, os pesquisadores puderam entender mais detalhes sobre o comportamento desses animais. O estudo foi divulgado no artigo Endocast of the Late Triassic (Carnian) dinosaur Saturnalia tupiniquim: implications for the evolution of brain tissue in Sauropodomorpha, publicado hoje, 20 de setembro, na revista Scientific Reports, do Reino Unido.

Os autores são Mario Bronzati, doutorando pelo Programa Ciência sem Fronteiras, na Ludwig-Maximilians-Universitat, Alemanha, seu orientador, o professor Oliver W. M. Rauhut, e os pesquisadores brasileiros Jonathas S. Bittencourt, da Universidade Federal de Minas Gerais, e Max Langer, da USP.

Segundo os pesquisadores, essa é a primeira vez que partes do cérebro de um dinossauro tão antigo foram reconstruídas. Os achados indicam, por exemplo, que “a morfologia do cérebro do Saturnalia traz evidências adicionais de que os sauropodomorfos mais antigos eram animais predadores”, opina Max Langer.

Saturnalia tupiniquim

Saturnalia tupiniquim foi um dinossauro de pequeno porte, que viveu há 230 milhões de anos no sul do Brasil – Foto: Reprodução / Rodolfo Nogueira

Saturnalia tupiniquim foi um dinossauro de pequeno porte, com cerca de 1,5 metro de comprimento e pesando aproximadamente 10 quilos. Os fósseis do Saturnalia foram encontrados há cerca de 20 anos na área urbana de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. “Muitos detalhes da anatomia do esqueleto pós-craniano (membros, coluna vertebral e cinturas) do Saturnalia já eram conhecidos, mas essa é a primeira vez que partes de seu crânio foram estudadas, incluindo a reconstituição do cérebro com base em microtomografia computadorizada”, diz Bronzati. Saturnalia pertence à linhagem de dinossauros conhecida como Sauropodomorpha, que inclui os maiores animais terrestres que já habitaram o planeta, os saurópodos, que podiam alcançar até 40 metros de comprimento e pesar até 90 toneladas.

Os mais antigos fósseis de sauropodomorfos provêm de rochas do Triássico Superior, 230 milhões de anos atrás, e são conhecidos no sul do Brasil e da Argentina. A linhagem Sauropodomorpha viveu na Terra por cerca de 170 milhões de anos. Seus  últimos representantes foram extintos há cerca de 65 milhões de anos (passagem do Cretáceo para o Paleógeno).

Cérebro do Saturnalia

Seu cérebro possuía grande volume numa determinada região do cerebelo – Foto: Reprodução / Rodolfo Nogueira

Para os pesquisadores o Saturnalia possuía o flóculo e o paraflóculo do cerebelo bem desenvolvidos. Estes tecidos fazem parte de sistemas neurológicos que operam no controle do movimento de cabeça e pescoço, e também no controle da visão. O grande volume destas estruturas indica um comportamento em que movimentos rápidos de pescoço e cabeça eram usados para capturar presas pequenas e esquivas. “Dessa forma, devido ao fato do alongamento do pescoço e a redução do crânio representar marcas registradas do plano corpóreo de saurópodos, os primeiros passos na aquisição dessa morfologia única parecem ter surgido como adaptações para predação, em um cenário evolutivo conhecido como exaptação, ou seja,  processo em que uma característica surge com uma certa função, mas passa a ter outra função em um momento distinto da história evolutiva da linhagem”, explica Langer.

Visitar o passado

Morfologia do cérebro do Saturnalia traz evidências adicionais de que os sauropodomorfos mais antigos eram animais predadores – Foto: Reprodução / Rodolfo Nogueira

Os pesquisadores lembram que o estudo do comportamento de animais extintos é dificultado pelo fato de que não se pode observar o animal em vida, além do fato de o cérebro ser raramente preservado no registro fóssil. “Os estudos baseados em reconstruções digitais desta estrutura são a melhor forma de se obter tal tipo de informação, mas eles sempre devem ser interpretados com cautela” diz Bronzati. Para os pesquisadores, o novo estudo é um importante primeiro passo na busca por uma melhor compreensão do comportamento dos primeiros dinossauros. “Estudos futuros certamente trarão mais informações para entender em mais detalhes a evolução da linhagem dos sauropodomorfos, que começou com pequenos animais predadores e posteriormente deu origem aos gigantes herbívoros do passado”, finaliza Langer.

Rosemeire Soares Talamone, com informações dos pesquisadores

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