São Paulo vem registrando recordes de temperatura desde 2010

Carlos Morales analisa relatórios do IAG que comprovam as variações das temperaturas médias e dos índices de precipitação em São Paulo medidos pela estação meteorológica da USP, que completa 90 anos

 Publicado: 10/06/2024
O aumento da temperatura média ao longo desses 90 anos é de cerca de 2,5°̣C – Foto: Vectorjuice /Freepik
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Relatórios da Estação Meteorológica da USP apontam recentes recordes de temperatura. Nos 90 anos de história da Estação Meteorológica do IAG (1933/2023), a temperatura máxima passou de 30° C dez vezes, com o recorde histórico em 2018, de 31,3º C, fenômeno que evidencia a dimensão do que está acontecendo em relação às anomalias de temperatura, especialmente no mês de maio. O professor Carlos Morales, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, explica os resultados do relatório e os fatores que contribuem para as altas temperaturas registradas.

Segundo o professor, essas elevações de temperaturas fazem parte do evento que recebe o nome de mudanças climáticas, o qual também inclui as áreas que ficam com temperaturas mais frias do que o habitual. Além do aumento nos volumes de chuvas, o docente conta que o aumento da temperatura média ao longo desses 90 anos é de cerca de 2,5°̣ C. “As pessoas podem olhar esse número e achar baixo, mas as temperaturas mínimas e máximas acompanham isso. Na década de 80, as máximas ficavam em torno de 30° a 33°, mas hoje em dia essa temperatura já está acima dos 34°, então o que se tem são fenômenos com períodos muito mais quentes”, conta.

Aumento de ondas de calor

De acordo com Morales, desde 2010 são registradas essas grandes frequências de temperaturas acima dos 35° C, as quais são chamadas de ondas de calor. Ele conta que, de 1933 até 2010, as temperaturas nesse nível eram registradas pelo IAG cerca de quatro ou cinco vezes a cada cinco anos. Entre 2015 e 2020 foi registrado esse patamar de ondas de calor em 29 oportunidades e, de 2020 até os dias atuais, foi registrado outras 22 vezes.

Carlos Augusto Morales – Foto: Divulgação/IAG

Um dos pontos destacados pelo especialista é o aumento de temperatura não apenas no verão, mas também nas outras estações. “Nós temos, por exemplo, essas ondas de calor ocorrendo no outono, como no último mês de maio, ou seja, é um período em que foram observadas variações muito brutas. Da mesma forma, essas altas variações estão podendo ser registradas também na primavera”, esclarece.

Precipitação

Conforme o docente, as altas temperaturas podem ser relacionadas às chuvas intensas, umas vez que, quanto maior a temperatura, mais capacidade a atmosfera tem de reter vapor, o qual é convertido em água líquida. Ele explica que o sistema do planeta está em constante equilíbrio, portanto, se alguns locais estão recebendo quantidades maiores de precipitação, existem outros pontos que enfrentam longos períodos de estiagem.

Segundo Morales, na década de 30, a cidade de São Paulo registrava precipitação média de 1.100 mm por ano e na atual década a média é cerca de 500 mm maior, ou seja, o aumento no número de chuvas na cidade é cerca de 50% maior no período de um século. Ele explica que as chuvas também estão mais duradouras, pois antes duravam cerca de uma hora e meia, mas atualmente são registradas mais de duas horas de chuvas intensas. 

Consequências

Conforme Carlos Morales, as consequências dessas variações climáticas observadas e projetadas pelos estudos do IAG, como as enchentes no Rio Grande do Sul, tendem a continuar ocorrendo. Ele explica que é necessário que a população se adeque a essa realidade e que as autoridades busquem alternativas para reduzir os estragos provocados por esses fenômenos.

“Os dados estão aí, os nossos governantes precisam criar políticas públicas para mitigar esses efeitos e, ao mesmo tempo, preparar a cidade para suportar essas consequências. Muitas vezes falam que esses desastres ocorrem porque choveu mais do que o esperado, porém já foi cientificamente previsto e comprovado que esses altos volumes de precipitação podem ocorrer, então não tem mais como os governos ignorarem”, finaliza.


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