Adaptação de “O Avesso da Pele” está em cartaz no Teatro da USP

O Coletivo Ocutá traz à Cidade Universitária sua adaptação premiada do romance homônimo de Jeferson Tenório

 Publicado: 19/06/2024
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Cena da peça O Avesso da Pele, do Coletivo Ocutá – Foto: Divulgação/Renan Estevão, cedida pela diretora Beatriz Barros

O espetáculo O Avesso da Pele, sucesso de estreia em São Paulo, retorna ao Teatro da USP (Tusp), na Cidade Universitária, para uma curta temporada, que começou no dia 7 passado e se estende até este fim de semana. Idealizada pelo Coletivo Ocutá e sob a direção de Beatriz Barros, O Avesso da Pele é a montagem oficial do premiado romance homônimo de Jeferson Tenório, que discute identidade, negritude, paternidade e o sucateamento da educação pública no Brasil com a exploração do passado de um pai por seu filho.

Henrique, pai de Pedro, é um professor de escola pública morto durante uma abordagem policial enquanto retornava de uma aula. A história se passa em Porto Alegre, nos anos 1980, e é relatada por Pedro enquanto ele reconstrói a trajetória do pai, repleta de injustiça e sofrimento.

Beatriz Barros – Foto: Reprodução/ @beatrizbarros.s/Instagram

A peça começou a tomar forma quando a diretora de produção, Jennifer Souza, apresentou o romance à diretora, Beatriz Barros, que havia sido convidada pelo Coletivo Ocutá a dirigir um espetáculo. O Avesso da Pele foi escolhido como o material de pesquisa. “O livro havia saído há uns dois ou três meses, era muito recente ainda”, comenta Barros. “Os meninos se identificaram com as abordagens sobre negritude, paternidade e relações familiares sobre a perspectiva de um homem negro.” Desde o início, o Coletivo esteve em contato com o autor e pôde acompanhar a obra crescer nos circuitos literários e ganhar notoriedade.

Após três anos de desenvolvimento, O Avesso da Pele estreou no Sesc Avenida Paulista, em 2023, mas já passou pela unidade do Tusp no Centro MariAntonia e também por várias outras salas de teatro, sempre com audiência lotada. Foi contemplado pelo 17° Prêmio Zé Renato e indicado ao 34° Prêmio Shell de Teatro e ao Prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais (2023). O elenco é composto com Alexandre Ammano, Bruno Rocha, Marcos Oli, Vitor Britto e Victor Salomão. A atual temporada de circulação prevê ainda apresentações em teatros pela prefeitura da cidade de São Paulo para públicos de escolas estaduais e municipais.

Cenas da peça “O Avesso da Pele”, pelo Coletivo Ocutá – Fotos: Divulgação/Renan Estevão, cedida pela diretora Beatriz Barros

Da literatura à dramaturgia 

Publicado em 2020 pela Companhia das Letras, O Avesso da Pele foi vencedor do Jabuti de Melhor Romance Literário (2021), além de ter sido incluído no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) do Ministério da Educação (MEC). Em abril, foi criticado nas redes sociais por uma diretora de escola em Santa Cruz, Rio Grande do Sul, por conter “expressões impróprias” para menores de 18 anos. Depois disso, o livro foi recolhido de escolas do Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul. Após a polêmica, entretanto, as vendas do romance aumentaram 1400%, segundo a Amazon, e o livro ocupou o segundo lugar entre os mais vendidos da loja. Semelhantemente, a sala de teatro também ficou mais lotada.

Em cena, os atores revezam seus papéis, em um movimento em que todos interpretam pai e filho em determinado momento. A ideia surgiu de um desejo de ver a diversidade das dinâmicas em cena dos diferentes atores. “Eles também formam um corpo único, e me interessa bastante enquanto pesquisa como cada intérprete traz sua vivência, perspectiva e experiência de pesquisa”, aponta Barros. O revezamento se sustenta na própria estrutura textual do livro, em que a narrativa do presente de Pedro se alterna com o passado, a perspectiva de Henrique. “O Pedro fala do pai e cria essa narrativa. Isso tem muito a ver com a narratividade do ator-narrador que está contando a história: ali, todos são narradores.”

Barros explica que, ao transpor o romance para o teatro, focou três pontos: o debate racial, a relação pai e filho e o debate da educação no Brasil. Uma das escolhas da dramaturgia foi incorporar dança e música. “Desde o início, os atores falaram para mim que queriam dançar. Eles têm uma relação muito forte com a dança”, explica a diretora. A preparação corporal e direção do movimento foi encabeçada por Castilho, artista do Espírito Santo que pesquisa o universo do funk e a expressividade afrodiaspórica do rebolado. “Muito dessa linguagem é de uma assinatura enquanto desejo coletivo da palavra não ser a única que narra uma história, mas sim as artes da cena como um todo, que operam para narrar a história em congruência com o corpo”, afirma Barros.

A peça O Avesso da Pele será apresentada nesta sexta-feira, dia 21, às 20 horas, sábado, dia 22, às 21 horas, e domingo, dia 23, às 19 horas, no Teatro da USP (Tusp), localizado no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro 109, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Os ingressos devem ser retirados no local uma hora antes da sessão. Mais informações estão disponíveis no site do Tusp.

Cartaz da peça O Avesso da Pele – Foto: @oavessodapele/Instagram

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