De 2006 a 2015, o número de jovens na faixa etária de 15 a 19 anos, infectados pelo vírus HIV, saltou de 2,4 para 6,9 para cada cem mil habitantes, segundo dados do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Em São Paulo, em 2010, 10% dos jovens daquela faixa etária eram portadores do vírus HIV; em 2016, esse índice chegou a 23%. O que explica esse comportamento entre os jovens, que parecem não dar a mínima para os riscos que correm quando transam sem a devida proteção?
Para o médico infectologista Ricardo Vasconcelos, da Faculdade de Medicina da USP, algumas teorias explicam por que os jovens de hoje tornaram-se mais descuidados em relação à Aids. Uma delas tem a ver com o fato de que, hoje, o tratamento da moléstia, uma vez realizado adequadamente, é altamente eficaz. Com isso, passa-se a ter menos medo de contrair a doença.
Outra teoria é a de que a atual geração de jovens não testemunhou o elevado número de vidas que a Aids ceifou em seus primórdios, sobretudo nos anos 1980, o que contribui para a perda do medo da doença. Por fim, uma terceira linha de pensamento atribui o problema à excessiva liberdade sexual dos dias atuais.
“O que eu acho, na verdade, é que não vai ser uma coisa só que vai explicar sozinha todo esse aumento da taxa de incidência entre os jovens”, diz Vasconcelos. “É uma coisa multifatorial, mas uma coisa que não é tão falada e que eu acredito que é superimportante nesse processo todo – que não pode ser usada como única explicação para esse fenômeno – é o fato de a gente não estar conseguindo dialogar de maneira correta sobre esse assunto com os jovens”, salienta.
Por isso, citando o exemplo dos youtubers, ele defende que lideranças jovens marquem presença nessa guerra, falando de maneira franca e aberta sobre Aids e prevenção para a população de sua faixa etária. O médico entende que as campanhas do Ministério da Saúde dialogam apenas parcialmente com os jovens, que muitas vezes não entendem a linguagem proposta, que deve ser a deles. Para Vasconcelos, não basta somente pedir para usar camisinha e fazer o teste do HIV, pois isso é o que tem sido feito nos últimos anos.