Pacientes especiais recebem atendimento odontológico na USP

Centro da Faculdade de Odontologia atende pessoas com HIV, Down, doenças sistêmicas, entre outros grupos

 08/11/2017 - Publicado há 6 anos
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Atendimento realizado na Faculdade de Odontologia da USP – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Pessoas com paralisia cerebral, distrofia muscular, deficiências mentais, insuficiência renal, diabéticas e hepatite enquadram-se em um grande grupo que podemos chamar de pacientes especiais. São eles o foco de um dos serviços oferecidos à comunidade pela Faculdade de Odontologia (FO) da USP, localizada no campus Cidade Universitária, em São Paulo.

“Os manejos clínico e odontológico, principalmente os invasivos, quando executados em pacientes especiais, não seguem a mesma receita daqueles feitos em normoreativos.”, explica a professora Marina Helena Cury Gallottini, coordenadora do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais, o Cape. “Um exemplo é a extração dentária de um portador de hemofilia. Existem técnicas específicas para realização do tratamento sem que prejudique a saúde geral do paciente. Assim como para os cardiopatas, transplantados de órgão que recebem imunossupressores e portadores do vírus HIV.”

Fundado em julho de 1989, o serviço se tornou referência na área em toda a América Latina. “Os pacientes especiais não encontravam esse atendimento diferenciado em nenhum outro lugar sem ser o Cape, muito por conta de uma lacuna na formação da maioria de nossos dentistas”, afirma.

Ao contar a história do centro, a professora lembra que na década de 1980, a comunidade médica e odontológica estava amedrontada com a dispersão do vírus HIV. “Até aquele momento, o que se sabia sobre a doença é que ela era viral, infecciosa e matava. Com isso, criou-se um pânico entre os profissionais de saúde por conta do risco de contaminação por meio dos acidentes de trabalho.”

Público aguarda atendimento na FO – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Atentos ao problema, os professores Ney Soares de Araújo e Myaki Issao — na época, respectivamente vice-diretor e diretor da Faculdade de Odontologia — idealizaram um ambiente onde o atendimento poderia ser feito com segurança, tanto para os pacientes com HIV como para os profissionais, e assim nasceu o Cape.

O nome abrangente da iniciativa atraiu muitas pessoas, não apenas com HIV, que se identificaram com um lugar onde encontrariam uma atenção odontológica especial. Surgiram pacientes com paralisia cerebral, transplantados, com doenças sistêmica, crônicas e infectocontagiosas, portadores de síndrome de Down, de distúrbio neuropsicomotor e psicológicos.

Em 28 anos de existência, o centro passou de cinco para 12 consultórios odontológicos trabalhando simultaneamente, com cerca de 12 mil pacientes cadastrados. Por mês, são atendidas de 900 a 1.200 pessoas, indo desde consultas de rotinas e tratamentos simples até processos mais complexos e microcirurgias. “Os pacientes percebem que o controle da saúde bucal interfere no controle da saúde geral, e tal equilíbrio acaba sendo favorável para eles mesmos. É por isso que temos uma grande assiduidade nos tratamentos”, diz Marina.

Com cerca de 10 mil atendimentos anuais, o serviço gratuito também é referência de pesquisa e ensino.

Quando o consultório vira sala de aula

Atendimento ao público auxilia no aprendizado de profissionais – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Atualmente, 52 dentistas estão cadastrados no Cape. O ambiente, onde são desenvolvidas atividades práticas e teóricas, tornou-se um grande atrativo aos programas de atualização dos profissionais de odontologia de toda a América Latina.

Para os que ainda estão na graduação, a USP disponibiliza horas de estágio dentro do Cape. Durante o período, realizam-se atividades predominantemente observacionais. O objetivo principal é oferecer experiência com manejos e cuidados destinados ao grupo antes mesmo do estudante concluir sua formação.

A Faculdade de Odontologia oferece ainda disciplinas optativas na graduação e pós-graduação voltadas ao tratamento odontológico de pessoas com necessidades especiais.

“Cremos que o futuro será melhor. Tudo é questão do profissional desestigmatizar o atendimento do paciente especial através do estudo e do aprendizado, pois em algum momento de sua carreira o dentista acabará se deparando com a necessidade de atender um paciente desse grupo”, explica a coordenadora do Cape.

Compartilhar conhecimento

Fachada do Cape, na Cidade Universitária, em São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A Jornada do Cape (Jocape) é um evento que reúne profissionais e estudantes para debater o atendimento odontológico de pessoas especiais e apresentar descobertas acadêmicas da área.
No dia 1º de dezembro, a USP receberá o professor norte-americano Peter Lockhart, estudioso no campo da medicina oral e especialista na pesquisa sobre o antibiótico profilático, principalmente em pacientes com doenças sistêmicas.

Autor de muitos livros e artigos odontológicos, Lockhart é conhecido por ser uma “ponte” entre duas grandes instituições: a American Heart Association e a American Dental Association, e, segundo Marina, estava muito curioso para conhecer os estudos odontológicos da FO.

“O Brasil é um dos maiores produtores de pesquisa científica na área da medicina oral e odontologia, o que faz nossa faculdade ser reconhecida mundialmente — não apenas o campus Butantã, mas os institutos de Ribeirão e Bauru também”, explica a professora, responsável pela organização do evento.

Serviço

A triagem para novos pacientes ocorre anualmente. O paciente é examinado para que se certifique de que se trata de um paciente especial. Em seguida, são realizadas a anamnese e o exame físico. Mais informações pelo telefone: (11) 3091-7838 ou e-mail cape@usp.br.

O Centro de Atendimento a Pacientes Especiais é vinculado à Faculdade de Odontologia (FO) da USP, localizada na Av. Prof. Lineu Prestes, 2.227, na Cidade Universitária, em São Paulo.


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