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Oncologia de precisão é o foco de trabalho do novo centro de pesquisas - Foto: 123RF
Novo centro de oncologia da USP vai garantir acesso a terapias avançadas na rede pública de saúde
Por meio de diferentes tecnologias e convergência de várias áreas, objetivo é aperfeiçoar as formas de acompanhar e tratar pacientes com câncer pelo Sistema Único de Saúde
11/04/2023
Claudia Costa
Articular e integrar grupos de pesquisa em câncer na USP, pela promoção de colaboração entre áreas complementares, que gerem conhecimento inovador na área da oncologia. Esta é a premissa do novo Centro de Estudos e Tecnologias Convergentes para Oncologia de Precisão (Comprehensive Center for Precision Oncology, ou C2PO), criado recentemente pela Reitoria da USP, ao lado de mais três: Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical, Centro de Estudos Amazônia Sustentável e Centro de Agricultura Tropical Sustentável, todos com a proposta de reunir trabalhos acadêmicos e científicos interdisciplinares e transdisciplinares em temas relevantes para a sociedade.
O objetivo da Oncologia de Precisão, que será trabalhada no novo centro, é prover formas mais efetivas e precisas de diagnóstico e tratamento para o paciente com câncer, como destaca o coordenador e professor da Faculdade de Medicina (FM) da USP Roger Chammas. A ideia, segundo ele, é melhorar a forma de diagnóstico e tratamento, usando diferentes tecnologias, por isso a convergência de várias áreas, incluindo “o que as pessoas estão chamando de teranóstica (terapia e diagnóstico juntos como aliados no tratamento do câncer)”. Além disso, o centro prevê o desenvolvimento de programas de educação e comunicação para o combate à desinformação, a desmistificação da doença e a disseminação do conhecimento validado pela ciência. “O câncer é uma doença que evolui nos pacientes, por isso precisamos ter formas mais precisas para diagnosticar a acompanhar a doença”, afirma.
Roger Chammas, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do novo centro de oncologia da USP - Foto: Divulgação / IEA USP
Há ainda outros objetivos, como salienta o coordenador, que é o de formar pesquisadores cada vez mais preparados para essa visão ampla para tratar o paciente com câncer no Sistema Único de Saúde (SUS). “Dispomos de muitas terapias novas, como uso de medicação, radiação e moléculas e células que favorecem a imunidade, mas precisamos aplicá-las no âmbito do SUS”, diz. Como explica o professor, serão realizadas análises genômicas, transcriptômicas e metabolômicas para comparar grupos de pacientes que respondem à terapia e grupos de pacientes que não respondem à terapia, e a partir daí tentar entender a natureza da diversidade do câncer.
Acesso dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) às terapias avançadas em oncologia é um dos compromissos do novo centro de pesquisa - Foto: Agência Brasil
Plataformas e terapias avançadas
O C2PO, segundo o coordenador, será formado por plataformas que vão incluir pesquisas envolvendo, além das áreas médicas e biomédicas, física, química, ciências farmacêuticas, matemática e estatística, e também a engenharia de materiais, a educação e comunicação. Também será formada uma rede colaborativa com as unidades de São Carlos, Ribeirão Preto e Piracicaba, além de contar com a colaboração do Instituto Butantan, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Laboratório Nacional de Biociências e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entre outras instituições nacionais.
O centro terá como sede dois hospitais, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), localizado no complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e o Centro de Oncologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. A iniciativa pretende fomentar a colaboração entre médicos e docentes, que terão a oportunidade de trabalhar com pacientes de ambos os hospitais. Como relata o coordenador, num primeiro momento, o foco estará em alguns tipos de câncer prioritários à saúde pública, estudados por esse grupo inicial, mas há o compromisso de ir além, promovendo outros projetos de pesquisa e incluindo, posteriormente, estudos sobre o câncer infantil. “Na parte assistencial, já atendemos todos os tipos de câncer, então vamos conseguir organizar outros grupos de pesquisa”, garante. Além disso, diz Chammas, serão organizados biobancos – já existem dois deles, um no Icesp e um no HCRP, que coletam material do paciente com câncer para que se possa estudar tanto a doença quanto a resposta do paciente à terapia.
Novas terapias usam o ácido nucleico, DNA e RNA, para ajudar a controlar o câncer maneira mais precisa - Foto: 123RF
“Uma área muito importante na Oncologia de Precisão é a de terapias avançadas. Queremos entender melhor e fazer pesquisas para inovar a forma de tratar o paciente com câncer”, espera, enumerando várias delas, como as terapias que usam células ou moléculas, como ácido nucleico, DNA e RNA, que possam ajudar a controlar de maneira mais precisa a doença. “Temos uma ótima interação com o Instituto Butantan, e projetos de terapia celular que estão se iniciando”, revela.
A ideia, segundo ele, é melhorar a radioterapia, com abordagens que envolvam novas terapias, como a imunoterapia e a terapia gênica. “Queremos aumentar a precisão do nosso arsenal de terapia, sem que haja uma distorção do acesso à terapia pela saúde pública, ou seja, queremos aumentar a precisão, mas de maneira que seja acessível a todos”, explica. E reitera: “Precisamos fazer isso no ambiente do Sistema Único de Saúde, e isso é uma tarefa a mais. Temos que fazer a pesquisa que entenda o processo de incorporação da tecnologia na saúde pública”.
Para o coordenador, buscar formas que garantam o acesso à sociedade é um compromisso da universidade pública. “Queremos desenvolver um conceito de inclusão social, o que é um desafio, já que as novas formas de terapias têm um custo elevado, e isso será levado em conta nas análises dos projetos”, comenta. “Vamos ser uma porta de entrada para que empresas desenvolvam junto dos nossos pesquisadores essas terapias avançadas”, informa.
Produção científica
O número de trabalhos nessa área médica é “riquíssimo”, como define o coordenador, justificando o porquê da necessidade de se criar um centro de estudos que acolha essa produção acadêmica e científica, como plataforma de discussão e análise. “Precisamos organizar nossas atividades para gerar informação da melhor qualidade, retornando os resultados para a sociedade.” O C2PO, diz Chammas, vai ajudar a organizar essa pesquisa de qualidade, que já existe na USP, sobre os diferentes tipos de câncer, para trazer respostas sobre formas mais rápidas de diagnóstico, novos tratamentos e organizar novos protocolos clínicos. “Temos muitos colegas que estão trabalhando em formas inovadoras de tratar o câncer, em estudos clínicos com propostas que possam ser aplicadas na própria USP, nos hospitais-sede”, afirma.
O C2PO já conta com um planejamento, que nessa primeira fase está focado na organização da coleção de materiais para o biobanco. “Esse é um patrimônio de estudos, uma fonte de recursos para as pesquisas”, destaca. “É muito importante que os pesquisadores saibam que podem contar com os hospitais de apoio, o Icesp e o de Ribeirão Preto, para que tenham material de qualidade para seus estudos. E não só o material, mas a capacidade de análise. Temos equipamentos, dentro da USP, que fazem os mais diversos tipos de análise, genômica, proteômica e metabolômica”, informa, citando o centro de genômica do Instituto de Biociências, a central analítica do Instituto de Química, o Hemocentro de Ribeirão Preto, que, segundo ele, tem facilities de sequenciamento, e o centro de proteômica e metabolômica em Piracicaba. “Já temos muitos laboratórios instalados na própria USP. É preciso entender as demandas dos grupos de pesquisas e cuidar para que essas facilities possam prestar serviços para todos”, informa.
Formação de recursos humanos especializado em oncologia de precisão é outro compromisso do novo centro - Foto: 123RF
Formação de recursos humanos
Além da tecnologia diagnóstica e de tratamento, outro compromisso importante do C2PO é a formação de recursos humanos, em vários níveis. No âmbito internacional, o coordenador diz que o intercâmbio se dá através de pesquisadores estrangeiros que já são colaboradores da própria instituição. Também informa que existe um conselho científico internacional e que já organizam cursos internacionais nessa área. “Além disso, vamos promover doutorados e pós-doutorados no exterior. Temos muitas boas perspectivas e em breve teremos novidades”, espera.
O coordenador também conta que o centro vai funcionar como uma carteira de projetos, ou seja, os projetos não serão financiados por uma única agência. “Temos vários projetos que já estão em curso, muitos deles financiados pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] e pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], além de uma forte cooperação com a Fiocruz”, diz, destacando que as pesquisas já vêm sendo realizadas há vários anos, e que agora serão integradas.
O professor se diz empolgado com o C2PO e com toda a complexidade do sistema dessa cadeia, que começa no laboratório e passa por pesquisas de diferentes áreas: “Imagina formar um pesquisador que vai olhar a biologia do câncer, ou ainda um físico ou engenheiro que vai desenvolver um material que pode ter uma aplicação para diagnóstico ou para um tratamento”. Para Chammas, esse envolvimento é muito importante: “Todos juntos vamos cooperar com diferentes vieses para trazer uma solução. Problemas complexos envolvem diferentes níveis de respostas, e na USP temos competências para todos os níveis; só precisamos articular essas múltiplas competências, para pensarmos juntos soluções para essa doença que, infelizmente, tem números crescentes”.
O câncer está crescendo no Brasil
“Em 2030, provavelmente, o câncer será a principal causa de morte”, revela Chammas. “Estamos muito próximos de ultrapassar as doenças cardiovasculares como causa de morte”, informa, acrescentando que a expectativa é de que, nos próximos 25 anos, os números tendam a crescer. “Precisamos colocar na pauta da Educação aspectos relacionados à qualidade de vida, alimentação saudável e atividade física”, espera, citando ainda que são necessárias mais campanhas, como é o caso do HPV (papilomavírus humano), que pode causar diferentes tipos de câncer. O professor lembra que há vacinas para o HPV, que podem evitar a doença no futuro. “Precisamos vacinar as nossas crianças, para protegê-las, diminuindo o impacto da doença lá na frente”, alerta. Porém, diz, há toda uma geração que não teve acesso à vacina e que poderá desenvolver câncer.
“Até 2050, teremos ainda muitos tipos de câncer associados a vírus ou causas preveníveis”, afirma. Segundo ele, infelizmente os números estão aumentando mesmo depois das campanhas de conscientização da vacinação e, além disso, as pessoas estão chegando tarde ao médico. “A vacina é relativamente recente e ainda não deu tempo de vermos os resultados, mas o fato é que as pessoas estão deixando de procurar o médico”, diz. “Temos muito para fazer, em muitas áreas, de prevenção, de novos tratamentos e de novos diagnósticos”, aponta.
Diferentes tipos de câncer originados a partir do HPV (papilomavírus humano) podem se desenvolver nas gerações que não tiveram acesso à vacina - Foto: 123RF
“A saúde requer muita atenção e nosso centro, que tem como foco específico o câncer, vai colaborar, principalmente, na formação de uma geração de pesquisadores que pensem o problema em contextos mais amplos, que tenham uma visão do processo como um todo, não só da doença, mas do paciente, lembrando que ele está inserido em uma sociedade local, que por sua vez está inserida num contexto maior de nação, e que é responsabilidade de cada um dos níveis tomar conta da saúde do cidadão”. E completa: “Queremos formar um cientista consciente do seu papel cidadão”.
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