Um grupo de ex-alunos da USP está retornando à Universidade para ajudar universitários com boas ideias e vontade de tirá-las do papel. O intuito é fomentar o empreendedorismo com estudantes a partir de investimentos-anjo, um recurso financeiro inicial feito por pessoas físicas e com capital particular.
Dois desses grupos são de pessoas que se formaram na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e Escola Politécnica (Poli) da USP, em São Paulo. Eles se chamam FEA Angels e Poli Angels.
Os investidores-anjo são profissionais com ampla experiência no conceito de startups, empresas com alto potencial de crescimento e que envolvem novos modelos de negócio e tecnologia. Eles ajudam o empreendedor com smart money (dinheiro inteligente). O termo diz respeito ao fato de que, além do próprio recurso financeiro, o investimento também se dá através de conhecimentos e rede de relacionamentos, com eventos, mentoria e networking.
FEA Angels
Quando Milton Daré se formou em Administração pela FEA, em 2012, já tinha a ideia de organizar uma rede de ex-alunos que pudesse colaborar entre si para promover o empreendedorismo. O plano saiu do imaginário em 2018, após publicar na rede social LinkedIn sobre a iniciativa e conversar com interessados.
Um dos principais objetivos é integrar o tripé mercado, universidade e governo. “Incentivar o investimento-anjo é estimular mais empresas que, em grande parte, advém de universitários. Com mais empresas, temos mais receita. E com mais receita, mais impostos arrecadados pelo governo. Este, por sua vez, precisa ser reinventado e investir em princípios básicos para a sociedade”, explica Daré, fundador da FEA Angels.
Para ser um investidor FEAangel, segundo o grupo, é preciso apoiar ideias disruptivas e inovadoras que podem impactar a sociedade gerando riqueza, emprego e, por consequência, impacto social. Os interessados podem se inscrever no site.
A associação não se limita a colaborar com alunos e ex-alunos FEA. Desde que a ideia da startup seja boa e o investidor seja um profissional competente no ambiente de inovação, ele pode receber apoio. Os interessados podem entrar em contato via site.
Para receber o investimento, é necessário respeitar alguns critérios: a empresa deve ser uma startup (empresa de base tecnológica com um modelo de negócios repetível e escalável), ter um pitch pronto (apresentação curta e objetiva sobre o negócio) e se comprometer com uma doação de 5% do total levantado via FEA Angels para a associação com o intuito de que ela continue promovendo e incentivando do ecossistema empreendedor.
O FEA Angels organiza eventos de fund-raising, que ocorrem via internet de duas em duas semanas. O intuito é receber e buscar oportunidades de startups para investir, através de uma ligação on-line em um grupo de sete pessoas que avaliam o valor das ideias dentro do conceito de smart money.
Outro evento é o Canguru Tank, a primeira edição ocorreu em novembro do ano passado e será realizado duas vezes por ano. Com inspiração no programa americano “Shark Tank”, distribuído pelo canal ABC e adaptado no Brasil pelo TLC, a premissa é unir o empreendedor talentoso a um painel de investidores (“tubarões”) com vasta experiência no mercado de startups. O canguru no nome faz referência ao símbolo da atlética da FEA.
“Uma novidade que será colocada em ação é o prêmio FEA Angels, que consagra o melhor Trabalho de Conclusão de Curso empreendedor a partir de uma bolsa de mil reais para torná-lo uma empresa de verdade”, conta Daré. A participação de graduandos na iniciativa, como Felipe Rocco, que cursa o terceiro semestre de Economia e é líder comercial do FEA Angels, também contribui.
Poli Angels
Surgiu em 2018 como resultado de uma reunião entre a turma de Engenharia de Produção formada na década de 1980 pela Escola Politécnica da USP. “Queríamos aproximar investidores e mentores das mentes brilhantes que existem na Universidade, como um canal de comunicação entre os estudantes e o ecossistema de startups”, conta Rubens Approbato Machado Jr, cofundador da Poli Angels.
Para ele, na Universidade, há muitas ideias boas e é importante ter um canal que as aproxime do mercado. “Não queremos que o Brasil perca oportunidades de investir em novas tecnologias e gerar unicórnios (empresas avaliadas no mercado em um bilhão de dólares no mínimo). Os estudantes têm potencial de, além de conquistar vagas de emprego, criá-las também. Empreender é empregar.”
Atualmente, o grupo conta com 27 colaboradores. Para participar, tanto como investidor quanto como startup a ser financiada, não é necessário ser da Poli nem da USP. Há um acordo de que 20% dos membros podem ser de outra faculdade.
O processo para encontrar startups interessantes ocorre desde indicações e convites, busca ativa ou então com a iniciativa do próprio empreendedor. Um dos eventos para conectar essas empresas com alto potencial dos investidores-anjo será no mesmo modelo do Canguru Tank, mas com o nome de Rodada. Os empreendedores ficam face a face com os investidores em um pitch, apresentação verbal concisa de uma ideia.
Além da Poli Angels, a reunião entre os ex-estudantes criou a Poli Start, uma empresa aceleradora que ajuda startups a decolarem com um trabalho de aperfeiçoamento para desenvolver o negócio. “Seria para cuidar de uma fase mais inicial, como lapidar a startup. Moldá-la de maneira a favorecer seu sucesso e torná-la atrativa para os investidores-anjo”, explica Carlos Fenerich, cofundador da Poli Angels. Os contatos podem ser feitos pelo site da associação.