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Foto: 123RF
História oral privilegia o conhecimento por meio da escuta
Pesquisadores da USP aplicam metodologia que nos traz as narrativas construídas pela memória de pessoas não pertencentes a grupos hegemônicos
03/09/2020
Hérika Dias
Experiências e narrativas subjetivas de pessoas que se dispõem a contar uma história se tornam fonte de conhecimento e estudo para um grupo de pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, em São Paulo. Os pesquisadores do Grupo de Estudo e Pesquisa em História Oral e Memória (Gephom) utilizam a história oral como metodologia para investigar migrações do Nordeste para o Sudeste, migrações internacionais, história de bairros, memórias de minorias e estudos de periferias.
Ao longo da história da humanidade, o conhecimento foi transmitido de uma geração para a outra através da tradição oral. Mas a história oral que o Gephom trabalha é um método de pesquisa. “São métodos específicos para captar memória e representações do sujeito. Esse método é fundamentado nas entrevistas, que a gente chama em profundidade”, explica Valéria Barbosa de Magalhães, professora da EACH e coordenadora do grupo.
As entrevistas não são feitas a partir de perguntas prontas ou semiestruturadas. “No processo de história oral, em geral, o entrevistado tem mais liberdade para falar. Propomos temas ao invés de perguntas”, conta a professora.
![20202603_valeriabmagalhaes2 Professora Valéria B. Magalhães, pesquisadora e coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em História Oral e Memória da EACH.
Crédito: arquivo pesquisador](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/elementor/thumbs/foto-01-Valeria-on5eczvqm6cj8bwdv8aawbkpvwqqnf4cwhx2d7fiao.png)
Essa seria a história oral metodológica. Há uma outra vertente voltada para o registro de memórias de grupos, chamada de história oral pública. “Aqui estamos falando de registro e não de método. São exemplos os arquivos de história oral e memória do Museu do Imigrante no Brás. Outro exemplo é o Museu da Pessoa, uma iniciativa de história oral pública”, exemplifica Valéria.
A metodologia da história oral nos permite entender, por exemplo, como o preconceito influencia a percepção da identidade do migrante nordestino por pessoas de outros Estados.
O estereótipo da mulher negra brasileira
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Por que banheiro público ainda é separado em homem e mulher?
O questionamento vem das considerações da pesquisa da ativista em direitos humanos Josefina Cicconetti, orientada por Valéria e pesquisadora do Gephom. Ela finalizou o seu mestrado na USP no ano passado e investigou as experiências de mulheres lésbicas nos banheiros públicos na cidade de São Paulo para identificar desigualdades em termos de gênero e sexualidade. “A pesquisa parte de uma experiência pessoal e foi levada à academia para problematizar a situação de outras mulheres que se autoidentificam como lésbicas e são barradas em banheiros públicos por não se adequarem ao padrão heteronormativo de mulher”, conta Josefina.
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A partir da entrevista com 10 mulheres lésbicas e suas experiências em banheiros públicos, a pesquisa demonstrou a necessidade de se quebrar barreiras simbólicas e culturais relacionadas à divisão estrutural do banheiro. “Há vários projetos de lei e leis em São Paulo para que esses espaços sejam segregados baseados em tabus, como a possibilidade de mulheres serem violentadas. Mas os números não indicam que as mulheres são violentadas em banheiros públicos”, contesta a ativista.
Para ela, a pesquisa mostra que a separação do banheiro em homens e mulheres mistura ideologia de gênero e violência contra mulher. “O banheiro público é o local por meio do qual, a diferença sexual vai se afirmar e sustentar, seja no sentido simbólico (os signos, figuras, representações do masculino e do feminino) ou literal (dispositivos de vigilância e controle que estão dispersos no meio social que instituem modelos de corpos-homem e corpos-mulher). Assim, o banheiro público representa, na sociedade paulista contemporânea, o último bastião do sistema heteronormativo e patriarcal.”
Uma pontuação que Josefina faz é em relação aos banheiros dos cadeirantes, onde geralmente não há separação física em homem e mulher. “Não há distinção, ninguém se importa que homens e mulheres usem o mesmo espaço.”
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Ela explica que a preferência pela utilização da história oral na pesquisa ocorreu pelo entendimento de que, “como método de pesquisa, dá lugar, por um lado, às experiências e narrativas subjetivas dos diversos agentes que se dispõem a contar uma história e, por outro lado, por sua capacidade de diálogo e convergência com outras correntes de pensamento.”
Sobre o Gephom
O grupo de pesquisas foi fundado em em 2009 pela professora Valéria, da EACH/USP, e o professor Ricardo Santhiago, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para acompanhar as atividades do grupo, siga as redes sociais.