Como a engenharia pode colaborar com outras áreas do conhecimento a fim de proporcionar melhorias para a sociedade? Uma possibilidade na área de saúde pública foi apresentada por alunos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP em uma parceria com a Santa Casa de Misericórdia de São Carlos.
Como avaliação da disciplina SEP0355 – Gestão da Qualidade I, o professor do Departamento de Engenharia de Produção da EESC, Mateus Cecílio Gerolamo, dividiu os alunos em equipes e propôs o desafio de desenvolverem projetos em parceria com instituições e empresas de qualquer segmento que aplicassem na prática os conceitos aprendidos em sala de aula.
Entre os oitos grupos, a equipe formada pelos alunos Vitor Bernardo, Vinicius Lemos, Leonardo Ruli, Andrew Medina, Matheus Dall’agnol, André Lima e Rodolfo Tourinho optou em sair do escopo da engenharia e firmou uma parceria com o banco de sangue da Santa Casa. O objetivo era desenvolver um diagnóstico para a certificação ISO 9001– um conjunto de normas de padronização vinculadas à gestão da qualidade de um determinado serviço ou produto. “Achamos interessante trabalhar com a área de saúde e sair do escopo de processos mecânicos e de manufatura”, comentou Bernardo.
A Santa Casa é referência no atendimento de alta complexidade para aproximadamente 400 mil habitantes de São Carlos e região. Entre as diversas áreas de atuação, o banco de sangue era o setor que almejava há algum tempo a certificação ISO 9001. “Estávamos em busca da certificação, porém, por questões financeiras ainda não tínhamos tido a oportunidade de contratar uma consultoria para realizar o diagnóstico. Assim que a Provedoria tomou conhecimento do projeto, aprovou o início do trabalho”, explicou o gerente do banco de sangue, Cesar Martins da Costa.
Trabalho de campo
Os alunos dividiram o trabalho em quatro frentes de avaliação, partindo da entrevista com o gerente do banco de sangue, em seguida entrevista com os funcionários, mapeamento dos processos e informação documentada. “Desde o início foi um desafio, pois o trabalho era extenso e ficamos incertos se conseguiríamos fazer um diagnóstico completo e profissional para o banco de sangue. No final conseguimos. É nos desafios que mais aprendemos e nos desenvolvemos”, comentou Lemos.
De acordo com Ruli, alguns dos requisitos da normativa já eram cumpridos, e os que não estavam em concordância foram apresentados de uma forma compreensível e estruturada para que fossem alcançados. O gerente do banco de sangue ficou muito motivado e confiante com o empenho dos alunos.
“Foi uma parceria muito legal. Eles vestiram a camisa pela causa social, estudaram, aplicaram a teoria, bateram cabeça com os conceitos e por fim apresentaram bons resultados”, comentou Costa, que ainda destacou a importância do diagnóstico ao somar com as exigências estabelecidas pela Portaria 158 do Ministério da Saúde, de 4 de fevereiro de 2016, que redefiniu o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos, de acordo com a Vigilância Sanitária.
Resultados da parceria
O sucesso dessa parceria foi tão evidente que o professor decidiu abrir a apresentação final para o público geral, contanto com a presença de Costa. Na ocasião, o grupo mostrou o passo a passo do primeiro contato com o setor, as reuniões, atividades, recomendações e o diagnóstico.
“Esse documento é uma foto atual de como o banco de sangue está em relação à certificação da ISO 9001 e o que deve ser adequado para a implementação. Elaboramos também um roadmap, que são os passos que os gestores devem seguir diariamente para melhorarem as partes mais críticas”, comentou Medina.
O gerente hospitalar da Santa Casa, Edson Eduardo Pramparo, que esteve presente na apresentação, afirmou que a parceria tem grande valia para ambas as instituições, pois estão retornando benefícios para a sociedade, que contribuiu nos investimentos para a saúde e educação do País.
“A confiabilidade do banco de sangue para o público é muito importante. Nesse setor colhe-se o material in natura, adapta-o para qualquer necessidade dos pacientes e encaminha-o para diversas regiões do País. A ISO 9001 ainda pode contribuir com a ampliação que estamos planejando, de área de hematologia para oncologia hematológica (por exemplo, para casos de leucemia), o que estenderá ainda mais os atendimentos”, destacou Pramparo.
Para o professor, o projeto desenvolvido também pode despertar novas ideias para os alunos, principalmente na área de empreendedorismo. “É um trabalho diferenciado e pode incentivar o grupo ou outros alunos a investirem em uma startup para realizar o processo completo do diagnóstico, auditoria e certificação da ISO 9001″, salientou Gerolamo.
Keite Marques/ Assessoria de Comunicação da EESC