Equipe do projeto Guiar em visita à ONG União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências - Foto: Divulgação/PET FEA

Alunos da USP levam educação financeira acessível para públicos vulneráveis de São Paulo

Estudantes de projeto de extensão da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP elaboram materiais sobre noções de gestão de gastos, economia para emergências e cuidados contra golpes

 04/12/2023 - Publicado há 5 meses

Texto: Luisa Hirata*

Trazer a educação financeira para a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social é o objetivo do projeto de extensão Guiar, mantido desde 2007 pelos alunos do Programa de Educação Tutorial (PET) da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. Os estudantes atuam na capital paulista e produzem aulas e materiais sobre conceitos como gestão de finanças pessoais e empreendedorismo de acordo com as necessidades específicas de cada público, atendendo, por exemplo, jovens e adultos que não concluíram os estudos do ensino básico e mulheres vítimas de violência doméstica.

“A linguagem da educação financeira é muito acadêmica para quem não tem acesso à área, então nós a traduzimos para uma forma mais simplificada para que as pessoas consigam aplicar o conteúdo no dia a dia”, explica Raphael Ferraz, um dos coordenadores do Guiar e estudante de Contabilidade da FEA.

Além de orientações sobre como administrar o dinheiro, o grupo leva informação sobre assuntos como inflação e poder de compra, cuidados contra golpes financeiros, empréstimos, uso controlado do cartão de crédito, precificação de produtos, receita, custos, marketing e estratégias de vendas.

A equipe atual do Guiar é formada por 13 alunos, dois são coordenadores, e promove um projeto por ano. A escolha da comunidade a ser atendida acontece por meio de uma discussão e votação das sugestões entre os membros.

Equipe Guiar: Heitor Felippe Filho (à esquerda), Vitória Campos (ao meio) e Raphael Ferraz (à direita) - Foto: Divulgação/PET FEA

Para produzir os materiais adequados a cada público em conteúdo e formato, os estudantes se reúnem com os representantes das instituições parceiras para conhecer o cotidiano e as necessidades das pessoas e, depois, visitam os espaços para entender com maior profundidade a realidade delas e avaliar os recursos disponíveis. “A nossa missão é dar autonomia, fazer com que todos entendam e consigam preparar um planejamento financeiro e se livrar das dívidas, por exemplo”, explica Ferraz.

Realidades variadas

Dentre os públicos com que o Guiar já trabalhou, estão os funcionários da FEA e da Escola Politécnica (EP) da USP, em 2015, e motoristas de aplicativo, em 2020, de forma on-line, durante o isolamento social imposto pela pandemia de covid-19. Os alunos da rede de Ensino de Jovens e Adultos (EJA) são um grupo recorrente no projeto desde sua fundação, em 2007. 

Em 2021, o Guiar firmou uma parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi) para produzir um curso on-line para seus alunos da modalidade de Educação a Distância do EJA, contendo aulas, apostilas e exercícios em linguagem lúdica e acessível. Investimentos e aposentadoria foram alguns dos assuntos abordados. O material está previsto para ser disponibilizado, no primeiro semestre de 2024, no portal do Sesi como um curso extracurricular.

Material elaborado pelo Guiar para os alunos de educação a distância EJA do Sesi - Foto: Divulgação/PET FEA

Este ano, o Guiar se dedica a atender mulheres vítimas de violência doméstica acolhidas pela ONG União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências (UPM), que tem parceria com o Centro de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM), programa da Prefeitura de São Paulo que oferece apoio social e orientação jurídica a mulheres em situação de violência.

À esquerda, na ONG União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências, cartazes com a história de mulheres vítimas de feminicídio e folhetos sobre o combate à violência doméstica; à direita, curso do Guiar on-line e gratuito para motoristas de aplicativos na plataforma Udemy - Foto: Divulgação/PET FEA

Para este ciclo, o grupo planejou cinco aulas presenciais semanais entre novembro e dezembro. Um dos conteúdos do curso é uma revisão de noções de matemática, para responder à dificuldade que as mulheres têm em definir os preços de seus trabalhos, complementando a capacitação que o CDCM oferece em cursos como os de Panificação e Corte e Costura. Em acordo com as gestoras da instituição, foi definido que somente as estudantes mulheres do Guiar terão contato direto com as participantes para evitar a possibilidade de gatilhos pela presença masculina.

Material elaborado pelo projeto Guiar para as mulheres vítimas de violência doméstica atendidas pela UPM - Foto: Divulgação/PET FEA

É a primeira vez que o projeto atende esse tipo de comunidade. “Na primeira visita que fizemos à UPM, achei muito impactantes os cartazes com os nomes das mulheres vítimas de feminicídio”, relata Vitória Campos, projetista do PET FEA e estudante de Administração. “Saber que muita coisa acontece ali e que esse é o lugar de acolhimento delas nos leva à reflexão.”

A dependência financeira em relação aos agressores é um dos principais fatores que dificultam o processo de emancipação das mulheres. “Tem sido uma experiência bem desafiadora, por ser uma realidade muito diferente da nossa, mas também gratificante”, comenta Ferraz. “Sinto que as aulas vão fazer a diferença e ajudar as mulheres a saírem dessa situação.”

Saiba mais

Os alunos do PET FEA contam com a orientação geral de um professor da FEA, responsável por supervisionar os materiais produzidos para checar se há questões que precisam de mais esclarecimentos ou alterações na abordagem. Daielly Mantovani, professora do Departamento de Administração, é quem acompanha a equipe atualmente.

O PET é um programa do Ministério da Educação que pretende promover a aplicação na sociedade do conhecimento gerado nas universidades, relacionando os eixos de ensino, pesquisa e extensão à educação tutorial. 

Para entrar em contato com a equipe do Guiar ou outro projeto do PET FEA, basta enviar uma mensagem no Instagram (@petfeausp) e Facebook (/petfeausp), por onde também é possível acompanhar as atividades do grupo, ou escrever para o e-mail petfea@usp.br.

*Estagiária sob supervisão de Claudia Costa e Thais Helena dos Santos​


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