PL do licenciamento ambiental elimina controles do Estado e não leva em conta possíveis impactos

Pedro Luiz Côrtes diz que, caso o projeto não seja alterado, será permitida a licença por adesão em projetos de alto impacto ambiental, o que dispensaria os estudos ambientais

 15/09/2023 - Publicado há 10 meses
Algumas empresas e indústrias alegam que o atual licenciamento atrasa o início das obras, mas é necessário que exista para preservar o meio ambiente  – Foto: Freepik
Logo da Rádio USP

Esta semana, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), pediu a alteração do Projeto de Lei (PL) do licenciamento ambiental. Segundo a ambientalista, o PL que busca simplificar essa questão pode causar problemas graves, mas o governo federal não parece estar empenhado na busca por soluções nesse debate.  

Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, relembra que, durante a campanha política do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT),  foi ressaltada a preocupação com as mudanças climáticas, assim é possível observar que essa é uma pauta nacional que vem sendo defendida internacionalmente. 

Contradições 

Apesar desse posicionamento, Portella reflete que, durante as negociações ocorridas no Congresso Nacional, o presidente evita apresentar colocações marcantes sobre a temática. Isso se dá em decorrência da tentativa de alcançar uma base parlamentar mais sólida, que implica a necessidade de criar vínculos com o Centrão, que não se apresenta de forma tão aderente às pautas ambientais. Em agosto, foi citado que o governo lançaria o plano de transição ecológica, que contaria com uma série de metas para a realização de uma mudança na política ambiental. Especialistas esperavam que o lançamento do projeto fosse realizado com antecedência em relação à COP, como uma forma de defender a sua realização no Brasil. 

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Reprodução/Câmera São Paulo

Além disso, o especialista destaca que, desde o seu primeiro mandato, Lula defende o uso do etanol como substituto para o uso de combustíveis fósseis. “Criteriosamente falando, o etanol é neutro nas emissões, porque, quando você o queima, o CO2 é lançado na atmosfera, mas ele é recuperado pela próxima safra de cana-de-açúcar ou de milho pelo processo da fotossíntese. Assim, o CO2 liberado não permanece na atmosfera”, analisa Portella. 

Ainda que o projeto tenha sido bem utilizado na questão ambiental, meses depois ele foi substituído pela exploração do pré-sal. Atualmente, o governo federal também aprovou planos que privilegiam o transporte individual contra um projeto coletivo que costuma ser mais eficiente para as grandes cidades. “O que a gente observa é que, nas grandes questões internacionais, há um envolvimento grande do presidente Lula, mas, nas questões domésticas, ele tem evitado se posicionar de forma efetiva”, afirma o professor. 

Prejuízos do PL

Caso o Senado federal não altere o projeto, será permitida a “licença por adesão em projetos de alto impacto ambiental”, que, de acordo com o especialista, dispensaria os estudos ambientais e contaria com a boa-fé dos empreendimentos. Algumas empresas e indústrias alegam que o atual licenciamento atrasa o início das obras, sem levar em conta que ele é necessário para preservar o meio ambiente. 

Além disso, Portella comenta que o novo projeto cria facilidades adicionais para a licença corretiva, dessa forma, “o projeto pode cometer uma série de erros e desvios, mas depois o empreendedor pode fazer um processo de regularização com uma espécie de licença corretiva”. O licenciamento para territórios indígenas e quilombolas torna-se escasso, assim, os órgãos responsáveis por essas comunidades só seriam ouvidos nos casos em que as terras já estivessem homologadas ou titularizadas. “Ou seja, esse novo projeto elimina uma série de controles que o Estado tem em relação à preservação ambiental e não leva em consideração qual é o impacto que isso pode gerar não só internamente, mas também no exterior”, adiciona Portella.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.