O letramento emergente lúdico pode contribuir para o aumento da alfabetização

Idmea Semeghini Siqueira explica o que é esse conceito e como essa contribuição irá ocorrer

 Publicado: 10/06/2024
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Para crianças cujos pais não sabem ler o ambiente escolar é fundamental – Foto: Reprodução/Arquivo/Agência Brasil
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O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), estudo realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE), tem o objetivo de comparar o nível educacional de 81 países — a partir do desempenho de alunos na faixa dos 14 aos 16 anos. Os resultados da última pesquisa, publicada em 2022, apontam para um cenário contraditório: enquanto apresenta uma estabilidade no cenário nacional desde 2009, quando comparado aos outros países, o Brasil está abaixo da média.

Idmea Semeghini Siqueira – Foto: Reprodução/FE-USP

Segundo o Pisa, mais da metade dos estudantes brasileiros não atingiram o nível básico em leitura, o que dificulta a compreensão desses indivíduos e os tornam leitores não fluentes. Idmea Semeghini Siqueira, professora da Faculdade de Educação (FE) da USP, afirma que esses jovens dificilmente terão prazer na leitura e, para combater essa realidade, as propostas pedagógicas devem ser alteradas estruturalmente, desde a educação infantil.

“Será preciso enfatizar o uso de estratégias que propiciem vivências de letramento emergente lúdico na infância, na creche e na pré-escola, para permitir que as crianças e jovens se apropriem da leitura e da escrita sem sofrimento”, desenvolve. Além disso, ela aponta para a necessidade da ampliação do número de creches e pré-escolas no País, visto que, apesar de ser etapa obrigatória da escolaridade, não são todas as pessoas que são atendidas. 

Salvação na educação

A especialista ressalta a importância da aplicação do letramento emergente lúdico nas escolas brasileiras, e explica: “São as brincadeiras que envolvem a oralidade, jogos de palavras e a mediação da leitura pelo diálogo, ou seja, a contação de histórias e a leitura de livros de arte visual e literatura infantil na família e na escola”. De acordo com ela, essas atividades irão propiciar um primeiro contato com a linguagem verbal e não verbal mais didático e interessante, o que permitirá um melhor desenvolvimento do vocabulário e a formulação de mensagens.

“Podemos considerar essas práticas como momentos preparatórios fundamentais para a alfabetização, produzindo encantamento pelas palavras e pela linguagem”, garante a professora.

Outros meios

Para solucionar essa defasagem da educação brasileira, será necessário que outras medidas sejam tomadas, uma vez que a realização do letramento lúdico nas escolas e pré-escolas, por si só, não será suficiente. Por isso, Idmea fortalece que os pais e responsáveis podem ajudar de maneira significativa o desenvolvimento da linguagem nas crianças — por meio de brincadeiras e atividades feitas em casa. 

No entanto, segundo a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, publicada em 2020 pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL), mais de 50% das famílias brasileiras são constituídas por indivíduos não leitores. Diante disso, a especialista desenvolve que, para essas crianças cujos pais não sabem ler, o ambiente escolar é fundamental e, dessa forma, devem ser feitos maiores investimentos pelo governo e por ONGs para a construção de salas de múltiplas linguagens educacionais. “Temos de continuar a lutar por uma educação de qualidade no Brasil desde a educação infantil”, finaliza.

*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo


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