“As eleições de 2022 vão ser muito duras. O crescimento de grupos neonazistas no País será um dos seus ingredientes problemáticos”, comenta Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens, na Rádio USP (clique e ouça o player acima). A professora cita dados apontados pela pesquisadora Adriana Dias, doutora em Antropologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que se dedica há duas décadas ao tema do neonazismo. “Os índices são estarrecedores. Entre 2019 e 2021, houve um aumento de 258% no número de pessoas que passaram a integrar grupos neonazistas. São cerca de 10 mil novos militantes nos 52 grupos organizados em 530 células e que estão distribuídos nas cinco regiões do Brasil.”
Ela observa que muitos desses grupos estão armados. “Por isso, não é uma hipótese descartável pensar que poderemos assistir no Brasil algo semelhante como a invasão do Capitólio, nos EUA, quando o Congresso foi tomado pelos militantes extremistas inconformados com a derrota de Donald Trump.”
O crescimento do movimento neonazista, segundo Giselle Beiguelman, não acontece de repente. “Dois filmes importantes mostram que o nazismo dependeu de uma política de domesticação do imaginário coletivo e de uma instrumentalização do desespero.” Uma situação que é realidade no Brasil de hoje. A professora cita o documentário Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen (1991). “O filme aborda os fundamentos estéticos no nazismo e como isso foi fundamental para consolidar o ideal ariano, que implicava o extermínio de judeus, comparados a vermes, e indiscutivelmente o grande alvo das câmaras de gás, mas também dos doentes mentais, pessoas com deficiências físicas, homossexuais, ciganos e negros.”
O outro filme é O Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman (1978). “A história se passa em 1923 em uma clínica clandestina em que se começavam a fazer experiências com seres humanos para testar sua aptidão racial ao mundo dos supostamente fortes, ensaiando o que viria a ser um dos pilares do nazismo”, explica. “Esses dois filmes mostram, com toda clareza, que precisamos estar atentos aos sinais, porque entender o nazismo é entender que ele é como um ovo da serpente. Através da fina membrana é possível ver o réptil inteiramente formado.”
Na avaliação da professora, atitudes como a defesa do direito de ser antijudeu ou saudações típicas de louvor a Hitler em programas de TV ou similares não são meros acidentes. E destaca que o nazismo é crime na legislação brasileira e uma política contra a humanidade. “A democracia é imperfeita. Mas ainda é o melhor sistema político já inventado, porque é fundamentado no respeito à diversidade.”
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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