O El Niño vem provocando efeitos intensos nas mudanças climáticas nacionais, juntamente com a recente onda de calor observada no País. A possibilidade do atual fenômeno evoluir para um super El Niño vem causando preocupação entre os especialistas da área, já que os efeitos do evento já são sentidos com intensidade na escala atual.
Nos próximos dias, há a previsão de alcance de temperaturas recordes em diversas cidades, criando-se um debate acerca dos efeitos desse cenário com a chegada da primavera e, posteriormente, com o verão. Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, avalia que o clima deste século não se comporta como no passado, assim, as estações com boas definições não se apresentam como uma realidade atualmente.
Mudanças
Pesquisas realizadas pelo IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) e pelo Inmet apresentam algumas diferenças em seus dados, mas revelam que o clima na cidade de São Paulo está mudando. “Nós temos uma tendência ao aumento de temperatura e também temos uma tendência muito interessante do ponto de vista científico, que é uma redução das chuvas mais fracas e o aumento da tendência de chuvas muito concentradas em curtos período de tempo”, adiciona o especialista.
Além disso, é possível observar que essas chuvas não acontecem de maneira distribuída. Muitas pessoas comentam que não é possível cravar que as mudanças climáticas estejam acontecendo, já que esses estudos estão sendo realizados há pouco tempo — de forma comparativa com o tempo da história geológica da Terra. Contudo, o professor explica que existem ferramentas científicas que permitem avaliar como a Terra evoluiu nos últimos 300 mil anos.
Assim, em perfurações na Antártica com amostras de gelo em lagos subterrâneos, é possível avaliar resquícios da atmosfera de tempos muito antigos com informações sobre teor de CO2, salinidade e temperatura. A análise de fósseis também contribui para a compreensão de como o clima se comportava em diferentes áreas. “Nós temos ferramentas para avaliar como o clima tem evoluído e tudo indica que os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) estão certos em apontar que ele tem mudado”, avalia Côrtes.
El Niño
O professor explica também que, até o presente momento, o comportamento do El Niño pode ser considerado normal, assim, o grande problema que está sendo apontado pelo IPCC é a ausência de uma indicação precisa de que as mudanças climáticas estejam interferindo significativamente nesse fenômeno ou no La Niña — que são naturais.
É possível observar, por outro lado, que as mudanças apresentam uma interferência na intensidade dos fenômenos decorrentes desses eventos. No último La Niña, por exemplo, notou-se a presença de uma seca muito intensa no Rio Grande do Sul (RS) e o atual El Niño, que conta com a possibilidade de evolução para um super El Niño, já está gerando consequências muito intensas, como as chuvas que estão acontecendo no Sul do País e as ondas de calor. Côrtes explica que esses efeitos acontecem em decorrência do El Niño, que aumenta as chuvas na região Sul e provoca sua redução no Norte e no Nordeste.
Por fim, é possível observar que, em São Paulo, esse fenômeno contribuiria com um verão com altas temperaturas e chuvas intensas e mal distribuídas, além de atrapalhar o plantio de diferentes regiões.
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